Cerca de 15 pessoas encontravam-se no Centro de Umbanda Caboclo Sete Flechas do bairro Fátima Alto, em Caxias do Sul, quando um vizinho, armado com um facão e um revólver, efetuou seis disparos contra o terreiro, localizado na Rua Archângelo Rizzo.
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O espaço fica no térreo da casa de dois andares onde mora Joanatan Freitas Pereira, 32 anos. Desde dezembro, quando foi coroado como sacerdote de Umbanda, ele realiza sessões semanais no local, das 20h às 23h, sendo que desde os 14 anos ele é praticante da religião. Para Pereira, o ataque sofrido por volta das 23h15min de sexta-feira (7) tem nome e sobrenome: intolerância religiosa.
— Antes de iniciar as atividades do Centro de Umbanda, eu conversei com a nora deste vizinho e ela disse que não teria problema. Ele nunca me chamou para conversar, chegou atirando e nos mandando parar com os tambores — avalia o sacerdote.
Pereira diz que na noite do atentado, cerca de 30 pessoas haviam participado da sessão, entre elas gente que estava indo pela primeira vez para conhecer a prática religiosa originada no Brasil em 1908. Os disparos ocorreram após a sessão, quando metade dos frequentadores já tinham deixado a casa. Mesmo assim, a porta ainda permanecia aberta quando o vizinho teria invadido o quintal da casa e começado a gritar frases como "acabem com esse barulho, pulem pra fora". O grupo buscou abrigou em um banheiro, saindo de lá somente quando os disparos, efetuados a partir da porta de entrada, cessaram.
Acionada em seguida, a Brigada Militar atendeu à ocorrência e o caso foi registrado na Delegacia de Polícia, sendo que o suspeito permanece em liberdade. De acordo com o sacerdote, a perícia esteve no local na manhã desta segunda-feira. A reportagem não conseguiu contato com a delegada responsável pelo caso.
— Desta vez foi com minha casa, amanhã pode ser outra. Tenho medo de fazer outra sessão e do que pode acontecer com as pessoas — relata Pereira.
Além de temer um próximo atentado, ele diz que está agora sofrendo ameaças por parte do vizinho e do filho dele. Conforme o denunciante, ambos moram perto do terreiro.
— Eles falam que têm vídeos da gente bebendo e de crianças dentro do terreiro. Qualquer religião tem crianças, a nossa não é diferente. Nossa sessão é pública e jamais demos bebida alcoólica para crianças. Existe amparo legal para a prática religiosa, a gente queria apenas fazer nosso culto em paz — lamenta.
Divulgação
Por meio de um vídeo publicado nas redes sociais, o sacerdote que, dentro da religião é conhecido como Jonatan de Oxalá, relatou e lamentou o ataque sofrido no terreiro, além de ressaltar que as sessões ocorrem de forma aberta ao público. Em seu relato, ele também conclama a comunidade para o combate ao preconceito.
— Não vamos deixar as nossas raízes morrerem por pessoas que não conhecem o nosso fundamento.
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