Um estouro numa TV, faíscas no poste da rua e em poucos minutos o aglomerado de moradias mistas de madeira e alvenaria na Rua das Bordadeiras, no Belo Horizonte, em Caxias, arderam em chamas. O fogo na noite de quinta-feira (29) consumiu o patrimônio de 12 famílias. Não sobrou nada, apenas restos de móveis retorcidos e escombros. Recomeçar a vida dependerá da ajuda da população. Mais abaixo, veja como ajudar.
O incêndio quase repetiu a tragédia que se abateu numa comunidade também formada por aglomerados de casas na Vila Sapo, no bairro Serrano, em agosto de 2012. Naquela vez, o fogo havia matado três irmãos. No Belo Horizonte, morreram cinco cães e desapareceu o patrimônio inteiro de famílias pobres. Um cachorro sobreviveu com queimaduras.
— Começou numa casa e o vento foi trazendo o fogo. Foi muito rápido — conta o desolado metalúrgico Geovane Almeida de Campos, 35 anos, que vem sendo uma espécie de líder entre as famílias no difícil recomeço na Rua das Bordadeiras.
De acordo com os bombeiros, foram 10 imóveis destruídos. Os moradores dizem que eram 12 moradias, pois consideram a parte térrea e superior das residências. Cerca de 30 pessoas, sendo cinco ou seis crianças, moravam ali. Como o terreno precisa ser limpo, ninguém sabe quando começará a reconstrução.
Nesta sexta-feira (29), uma corrente de solidariedade se formou. Veio gente de bairros distantes e de cidades vizinhas de Caxias do Sul. Os móveis estão sendo reunidos no Centro Comunitário do Vila Ipê, onde há mais espaço, enquanto as doações de comidas e roupas são destinados ao salão do Belo Horizonte. Uma necessidade futura é o repasse de materiais de construção, o que ainda está sendo organizado.
Geovane morava há 15 anos na casa com esposa e dos dois filhos. No mesmo terreno, também residiam seu pai e um irmão.
— Algumas pessoas estão em vizinhos, outros procuraram parentes e tem quem tenta algum aluguel. Todo mundo está se virando como pode. Eu vou ficar por aqui. O portão precisou ser arrebentado (para o resgate) e sempre tem gente de má fé — lamenta o trabalhador, relatando que apenas a garagem continua de pé:
Sobre a causa do incêndio, os moradores acreditam que o problema foram as ligações clandestinas de energia elétrica. Dizem que o primeiro sinal foi o estouro de uma TV numa das casas. Na sequência, o poste começou a soltar faíscas. No desespero, alguns moradores jogaram pedras sobre o telhado de casa para derrubar a cobertura e tentar abafar as chamas.
— Parece que foi um curto-circuito, que iniciou entre os fios e bateu numa casa. Na mesma hora do estouro, uma guria subiu correndo dizendo que tinha pego fogo na televisão. Quando o pessoal desceu, o fogo já estava se alastrando rapidamente — recorda Geovane.
PARA AJUDAR
:: Uma das iniciativas para ajudar as famílias partiu da S.E.R. Caxias em conjunto com a Torcida Organizada Falange Grená. Na tarde deste sábado, o grupo coletará doações no Estádio Centenário das 17h às 18h30min, horário que está prevista a partida da categoria Master Grená. Os donativos serão entregues no domingo. Os torcedores solicitam doações de alimentos secos (bolachas, biscoitos e massas), água potável, leite e achocolatado, produtos de higiene pessoal, colchões, roupas de cama, roupas e calçados de todos os tamanhos.
:: As Amobs Belo Horizonte e Vila Ipê também concentram o recebimento de doações. Os espaços estarão abertos das 8h30min até o início da noite neste sábado. Contato com Valdir Negrão pelo telefone (54) 99607.4972.
:: Outras formas de ajudar os moradores podem ser esclarecidas com Geovane de Campos pelo telefone (54) 99151-8777.
:: Os interessados em doar móveis, roupas e outros itens podem entrar em contato com a Fundação Caxias pelo telefone (54) 3223-0528, ou entregar a doação na sede, situada na Rua Sarmento Leite, nº 2.189, bairro Medianeira.
Improviso e orientação dos serviços públicos
Sobre o futuro, o momento é de incerteza, mas os moradores agradecem a todas as doações e apoio que estão recebendo. Desempregados, Zenaide da Silva, 51, e Evandro Silveira, 46, improvisaram abrigo numa garagem de madeira com chão batido às margens da Rua das Bordadeiras. O casal não quer ir para outro lugar e armazena ali o que já ganhou: um fogão, roupas, colchões, pães e biscoitos.
Joaquim de Campos, 68, lamenta pela gaita que animava as festas da família. O bem desapareceu com as roupas e móveis. Ele tentou salvar alguma coisa e, na confusão, pegou objetos aleatoriamente. Passada a correria, descobriu que conseguiu salvar uma pochete com documentos e receitas médicas, além de uma bombacha. Mais tarde, alguém lhe entregou um chapéu com pingentes de Nossa Senhora Aparecida.
— É meu chapéu de estimação — conta Joaquim.
Neste sábado, a União de Associações de Bairro (UAB) organizará um mutirão para reunir doações. Valdir Negrão, presidente da Amob Belo Horizonte, explica que a intenção é recolher os donativos e distribuir diretamente para os atingidos.
— Alguém da prefeitura veio aqui e disse que vai recolher e levar a comida para o Banco de Alimentos e os móveis para outro lugar. O que formos recolher, vamos entregar direto para as famílias. Não é justo levar para outro lugar — reclama Valdir.
A liberação do terreno para limpeza é fundamental para estabelecer o que pode ser feito posteriormente, o que só deve ocorrer na próxima semana. O laudo será emitido pelos bombeiros.
A Fundação de Assistência Social (FAS) e a Secretaria Municipal da Habitação estão atuando em conjunto para atender as famílias. Após o primeiro atendimento da FAS, a Habitação dará continuidade aos trabalhos para reassentar os prejudicados e fazer a limpeza da área.
As equipes técnicas da FAS, Habitação e da Secretaria Municipal da Saúde se reuniram, na tarde de sexta-feira, com 24 pessoas que tiveram casas incendiadas. Durante toda a tarde, as assistentes sociais da FAS e SMS atenderam cada família para realizar os encaminhamentos necessários, vinculando-as ao Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Norte e avaliando a concessão de auxílios conforme as possibilidades oferecidas pela prefeitura.
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