Esta reportagem faz parte de uma série a ser publicada pelo jornal Pioneiro, cujo tema é Um olhar sobre a vida, enfocando não apenas a prevenção ao suicídio, mas também retratando histórias de pessoas que tem aprendido a lidar com a depressão e a ansiedade, e também com a morte de entes queridos.
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Suicídio e Ambiente de trabalho: pesquisa com jovens trabalhadores de Caxias do Sul é o estudo realizado pelo acadêmico de administração da Faculdade Murialdo Geder Evando Weber, com caxienses de 15 a 29 anos.
– No cruzamento dos dados, percebemos que os trabalhadores do comércio ou de prestação de serviço às corporações (terceirizados), cujo papel econômico é o de maior responsabilidade na família, que já sofreram assédio moral, que não se sentem à vontade para conversar a respeito dos problemas pessoais com os chefes, mais o fato de a empresa não possuir atendimento de escuta qualificada, esse conjunto de fatores aumenta o comportamento suicida – observa Weber, que é também técnico em enfermagem e coordenou o Centro de Valorização à Vida (CVV), em Caxias.
O estudo aponta ainda que há uma escalada de fatores que levam as pessoas ao suicídio. Dentro dessas etapas, 60% dos entrevistados revelam que já desejaram morrer, 49% já pensaram em suicídio e 15% já tentaram tirar a própria vida.
– Ou seja, alguns desses que tentaram o suicídio foram trabalhar no dia seguinte – provoca Weber.
No entanto, apenas 1%, conforme aponta a pesquisa, revela que já foi afastado do trabalho por causa de algum transtorno mental.
– De um modo geral, os trabalhadores passam mais tempo na empresa do que em casa. Há estudos que apontam que oito em cada 10 pessoas dão sinais da sua intencionalidade antes de cometer suicídio. O problema é que muitas dessas pessoas que tiram sua vida nunca consultaram um profissional, então elas nunca tiveram um diagnóstico – avalia Weber.
Essa pessoa que nunca consultou um profissional da saúde, pode ser aquela que está quase sempre triste e abatida, que fica isolada no canto dela, tem dificuldades em se relacionar, muitas vezes briga, xinga e normalmente é vista como a problemática da empresa. Quem não conhece alguém assim? É por isso que o suicídio está mais presente do que se imagina. A prova, mais uma vez, está na pesquisa: cerca de 60% dos entrevistados convive com alguém que tentou suicídio ou efetivamente tirou sua vida.
_ O que eu, como um futuro gestor de pessoas, posso fazer para melhorar isso? _ questiona-se Geder, sem saber que a sua pergunta levará muitos outros gestores a prestar mais atenção nas suas equipes _ ou até na forma como lida com suas emoções.
Geder complemente seu raciocínio e defende seu posicionamento:
— Aí vem o papel do gestor. Eu olho para isso e tento melhorar a situação e criar um clima bom para os meus funcionários? Ou eu trato os meus funcionários como um recurso que é descartável e eu posso trocar quando eu quiser. Porque essa é a visão que predomina nas empresas em Caxias. As organizações são feitas por pessoas. E todas vem com suas expectativas e problemas. Mas precisamos começar a olhar para as pessoas. Parece óbvio, mas não é. Se não prestarmos atenção como vamos perceber que ela está dando sinais de que precisa de ajuda? Se a empresa não tem uma escuta especializada, precisamos estar atentos ao sinais que elas estão deixando, e sugerir que procurem um profissional da saúde.
Criar uma rede de amparo e proteção para os trabalhadores é fundamental, defende Gênesis Sobrosa, 38 anos, doutora em psicologia clínica e professora da Faculdade Murialdo.
– A gestão do trabalho nas empresas influencia diretamente na saúde ou na doença dessas pessoas. Por exemplo, se eu trabalhar em um local em que eu me sinta bem, me sinta valorizada, receba elogios genuínos, sabendo que eu tenho uma rede de apoio, isso faz com que eu me sinta importante, e esse é um fator protetivo importante. Qualquer atitude diferente será um gatilho para o trabalhador adoecer. Esse é o desafio para os gestores – argumenta Gênesis.
Outro dados apontados pela pesquisa:
Você se sentiria seguro para falar com alguém na empresa caso esteja enfrentando algum problema pessoa que não consiga lidar?
60% das pessoas se sentiriam seguras em falar com alguém na empresa
75% disse que conversaria apenas com um colega
42% conversaria com chefe ou supervisor
13% conversaria com alguém do RH
ONDE PROCURAR AJUDA?
O CVV _ Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. Atende por telefone, no 188, por e-mail e chat 24 horas, no site.
Em Caxias do Sul, as Unidades Básicas de Saúde (UBSs), os serviços de saúde mental, a Unidade de Pronto Atendimento 24 Horas e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) estão preparados para auxiliar as pessoas em sofrimento psíquico.
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