A 1ª Promotoria Especializada do Ministério Público (MP) de Caxias do Sul cogita pedir judicialmente a interdição do canil municipal. A decisão é analisada pela Justiça como uma alternativa para tentar resolver problemas que não tem sido solucionados pelo município. Em fevereiro, a promotora Janaína De Carli dos Santos vistoriou o abrigo.
— A situação estava caótica, principalmente pela infestação de ratos, rede elétrica extremamente precária e saneamento péssimo. Fizemos um pedido judicial alertando sobre os riscos e para que a prefeitura tomasse alguma providência, mas até agora nada foi feito. Estamos com o processo no MP e estamos cogitando pedir judicialmente interdição ou intervenção do canil — ressalta.
A promotora ressalta que o local ainda não foi interditado porque é preciso pensar nos animais abrigados no espaço. Mas reconhece que o município precisa tomar medidas urgentes:
— Com a interdição seria nomeado um interventor judicial para administrar o canil. Estamos estudando essa possibilidade. A prefeitura tem que agir, tem que investir no que é urgente e cumprir a sentença judicial que determina, há anos, que se reforme o local.
Passados cinco meses da inspeção feita pelo MP, a situação piorou, segundo relatos de funcionários. Após reportagem, publicada na edição do último final de semana, em que a Vigilância Ambiental de Caxias confirma indícios que apontam para focos de leptospirose, trabalhadores procuraram o Pioneiro para fazer novas denúncias. A equipe teve acesso a fotografias e vídeos que comprovam a presença de ratos e camundongos no canil .
Descaso e omissão
Na manhã de segunda-feira (01), quando a reportagem esteve no canil para conversar com os veterinários, foi possível observar, do lado de fora da chácara, a retirada do quiosque que estava na Praça Dante Alighieri e foi levado para o terreno, onde deverá ser usado como recepção. No momento em que a estrutura foi erguida do chão pelo guincho, diversos ratos correram em direção a tocas escavadas na terra.
Os funcionários confirmam descaso e omissão por parte da Secretaria do Meio Ambiente. O receio de ser contaminado pela doença aumentou depois que Valdemar Ferreira França , 48, foi diagnosticado com leptospirose em 27 de maio deste ano. Ele é funcionário de uma empresa terceirizada que presta serviços ao canil, onde vivem cerca de 850 cães, o que aumenta a preocupação, levando em conta que os cachorros podem ser contaminados, e transmitir a doença a outros animais e humanos.
Na última sexta-feira (28), a diretoria do departamento de Proteção e Bem-Estar Animal da Semma afirmou que o município está com plano de combate mais intenso em relação aos roedores. Os funcionários, por sua vez, alegam que nada foi feito até o momento. A reportagem procurou a diretora do departamento novamente nesta segunda, mas ela estava em atendimento externo da pasta. A assessoria de comunicação da prefeitura informou que a diretora vai se manifestar nesta terça-feira.
Funcionários cobram medidas
— Nosso colega foi internado há mais de um mês, já saiu do hospital, está em casa, e até agora não tomaram nenhuma medida para controlar os ratos no canil.
A reclamação é de um funcionário do canil (identidade foi preservada) que afirma que as veterinárias responsáveis pelo abrigo solicitaram à secretária do Meio Ambiente, o fornecimento de veneno para controlar a presença de roedores.
— Já pediram veneno, mas desde outubro, nem isso é mandado para o canil. O que mandaram estava vencido.
Outro funcionário explica que as veterinárias reuniram a equipe para repassar informações sobre cuidados e programaram uma palestra em parceria com a Universidade de Caxias do Sul para repassar informações aos trabalhadores. O evento será realizado no dia 11 deste mês para prestar esclarecimentos.
— Tiveram a ideia para tentar ajuda com ações de prevenção e dicas de higiene e cuidados para que nenhum outro trabalhador seja infectado pela doença.
Um terceiro trabalhador, acrescenta que procurou atendimento médico depois de se sentir mal na última semana.
— Fiz exames porque fiquei com medo de também estar infectado com a doença. A Secretaria do Meio Ambiente pediu nossos dados para cadastramento, mas não fizemos exame nenhum e também não esteve ninguém da prefeitura no canil para conversar conosco.
"Por aqui, os ratos comandam a situação"
— A prefeitura diz que a situação está controlada, mas o controle do canil é dos ratos, são eles que mandam. Desde outubro o canil não é desratizado. As ratas podem ter várias crias. Estamos desesperados e sem saber a quem recorrer — desabafa um dos funcionários.
Ainda, segundo ele, duas caixas d'água foram limpas, mas não estão vedadas.
— Colocaram telas nas caixas e os ratos podem não entrar, mas o xixi passa pela tela. Cada setor tem uma caixa d'água e são delas que tiramos a água que é colocada nos potes para consumo dos cães. Esses recipientes realmente não são lacrados, então é um caminho para a transmissão da doença.
Além dos risco à saúde dos funcionários e dos animais, há também prejuízos financeiros:
— Os ratos comandam a situação. Eles roem mangueiras, cabos, botas de borracha. Há fezes nas mesas, no açúcar, no sal, por toda a parte. As tocas não são pequenas, são assustadoras. A situação é desesperadora! — relata.
Eles também temem o que pode acontecer quando começarem as obras do Centro de Bem-Estar Animal que será construído no terreno onde funciona o canil:
— Imagina quando começarem as obras: essas ratazanas vão correr para a cidade, porque aqui os bichos têm acesso à comida e à água. E depois? Se não controlar agora, a tendência é só piorar.
Outro trabalhador acrescenta:
— O que estão esperando para tomar atitudes? Nós e os cães estamos abandonados a própria sorte — reclama.
Ainda conforme as denúncias, o risco de contágio é maior porque há cães que aceitam a proximidade dos roedores.
— Tem cães que matam os ratos, mas tem outros que acabam tendo um contato mais íntimo e dividem o pote de água e comida com os roedores. Realmente não sabemos mais o que fazer.
Inspeção
A Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul agendou para a próxima quinta-feira (4) uma inspeção no canil para verificar como está a situação no abrigo.
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