O atestado datado de 22 de abril de 1931 aponta uma "paralisia do bulbo espinhal" como causa da morte da poetisa e líder espírita de Caxias do Sul Anna Saldanha, problema que afeta a região do cérebro. Segundo Kamila Zatti, jornalista que está coletando informações para montar uma biografia da precursora do espiritismo na região, uma das hipóteses é de que a poetisa morreu em casa, no andar de cima da antiga Livraria Saldanha, na esquina da Avenida Júlio de Castilhos com a Rua Visconde de Pelotas, centro de Caxias.
Documentos indicam a localização da sepultura nas fileiras laterais dentro de uma antiga formatação do Cemitério Público Municipal. Mas ao buscar informações para enriquecer a produção do material, Kamila e funcionários do cemitério não encontraram nada.
— Mesmo a localização sendo idêntica àquela presente no livro de registros do cemitério, a sepultura inexiste. Não se sabe se é por conta da mudança da geografia do cemitério nesses anos todos. Por isso, procurei comparar o mapa de 1927 com a composição atual do cemitério, mas após as sucessivas ampliações e modificações, constata-se que a distribuição já não é mais a mesma — conta Kamila.
Outra curiosidade é o fato de a família Saldanha ter ótimas condições financeiras, mas não ter um jazigo próprio no cemitério, ao contrário das tradições de então. Pelo contrário, a sepultura de Anna era uma cova provisória, segundo documentos. Nessas situações, a regra era manter o corpo enterrado por cinco anos. Vencendo o prazo, os funcionários retiravam os ossos, colocavam numa caixa identificada e acionavam a família. Em razão do vencimento do contrato temporário, o que deveria ter ocorrido em 1936, haveria de ter um registro da exumação, mas o nome de Anna não consta em listas do período anterior ou posterior.
— No cemitério, encontrei apenas o túmulo do irmão caçula da Anna, que comprou o terreno no cemitério no ano de 1982 e foi sepultado nele no dia 15 de setembro de 1983, junto de sua irmã Maria.
Ouça um bate-papo sobre a memória de Anna Saldanha:
Das teorias mais plausíveis, os restos mortais de Anna podem ter sido depositados num ossário ou levados para sua terra natal, conforme aponta um registro de exumação. Kamila viajou até Rio Pardo e achou os túmulos da família Saldanha, mas há identificação somente das sepulturas do pai, da mãe, irmãs, tias e outros parentes. Nos documentos locais, inexiste da entrada dos restos de Anna.
— Pode também ter sido exumada e colocada num túmulo cedido, já que ela era muito querida na comunidade espírita. Ou, também, pode estar junto dos irmãos Maria e Henrique em Caxias, não tendo sido registrada a mudança — contextualiza a jornalista.
O pesquisador José Bento Alves Lisboa Estrázulas, que dedicou cerca de oito anos para recriar a genealogia da família Amaral Lisboa, relatou que a sepultura de Anna continha o seguinte epitáfio: "Anna Saldanha em contraste com o seu espírito forte, tinha um coração sensível aos sofrimentos alheios, razão da inscrição em seu túmulo: Amou mais o próximo como a si mesma".
A lápide que teria a inscrição está sumida. A busca por pistas e informações sobre o destino dos restos mortais prosseguirá por muitos meses ou anos.