Sequer havia música ao vivo, mas as amigas Salete Thomazoni, 65 anos, e Marise Dolores Rodrigues, 63, dançavam ao redor do palco do pavilhão Nostra Gente na tarde de ontem. O entusiasmo das amigas que vieram de ônibus de Santa Catarina, em uma viagem que se estendeu por horas, era reflexo das boas experiências que tiveram nos Pavilhões ao longo do dia.
– Eu amei tudo! Acabamos de almoçar um churrasco bem gostoso por R$ 30. Achei ótimo, inclusive ver aquelas senhoras fazendo tranças de vime – descreve Marise.
A 32ª edição da Festa da Uva chega ao final de sua primeira semana focada em promover experiências inéditas ao visitante. E tem agradado aos turistas: o público que veio de outras cidades e foi consultado pela reportagem aprovou as atrações dos Pavilhões que priorizam, em linhas gerais, a farta gastronomia e o culto dos costumes italianos. Algumas adequações, no entanto, precisaram ser feitas. Caso do acesso de táxis aos Pavilhões: após reclamações de motoristas e visitantes, os táxis passaram a ter acesso liberado à área de estacionamento para desembarcar passageiros. Também foi estabelecido um ponto com cinco vagas junto à calçada coberta do estacionamento principal, na reta que leva ao portão de saída. Outra mudança que precisou ser feita foi a flexibilização da forma de pagamento, já que o Fiorin Card agora não é o único meio de pagar o que se consome nas áreas de gastronomia – a exigência de ter o cartão de recarga acabou diminuindo o consumo, segundo expositores. O valor do ingresso subiu durante o evento, o que gerou descontentamento.
A festa também tem outro diferencial que divide opiniões: o livre acesso a cada um dos ambientes, sem circuito induzido. Enquanto o público está satisfeito por poder acessar ambientes sem percorrer “bretes”, como eram chamados, expositores observam que o pavilhão 1, batizado de Nostro Negòssio, acabam não recebendo tanto movimento.
– O que notamos é que determinados corredores, que é o caso do corredor da lateral, acaba recebendo mais visitação porque as pessoas usam como caminho. No geral, sentimos que o que impactou no movimento foi o aumento do preço do ingresso – admite uma das expositoras, Karina Sotili.
Confira alguns destaques da primeira semana do evento.
O QUE AGRADOU
DESFILE NOS PAVILHÕES
A primeira apresentação do desfile alegórico na Alameda Central, na noite da quarta, impactou positivamente o público. Isto porque o formato compacto e a proximidade entre artistas, figurantes e o público permitiu que se instalasse clima de festa e celebração. A equipe não precisou se preocupar em caprichar no cenário: a réplica de Caxias de 1885 deu o tom histórico e que acompanhou o enredo.
A saída do desfile ocorre próximo da cancha de rodeios, palco dos shows nacionais, e o desfile segue até a chegada ao ponto em frente às réplicas. Além disso, crianças entregam uvas, polenta brustolada e cuca aos visitantes.
A melhor parte é que há outras apresentações – e gratuitas – previstas para os dias 5, 6 e 7 de março, sempre às 20h30, retornando à Sinimbu no último dia da festa, dia 10, às 17 horas.
Interior em evidência
Neste ano, os distritos estão distribuídos em uma vila bastante simpática e melhor posicionada, já que fica logo na abertura do pavilhão 2, Nostra Gente. Em casinhas de madeira enfeitadas - cada qual com seu jeito, há venda de artesanato, cuca, salame, queijo e diversas outras delícias.
O ponto mais movimentado fica ali: há filas para comprar um prato com quatro fatias de polenta, queijo e salame, feitos na hora por moradoras de Santa Lúcia do Piaí. O preço também é atrativo: R$ 10. Quem chama o público para a fila e explica um pouco da história do merendin é o morador Ricardo Trindade.
– O que precisa nesta festa é que todos pensem como o interior, e vendam com entusiasmo. Eu chamo quem está passando e conto um pouco da nossa história, eles se sentem em casa– admite Trindade.
Áreas de descanso
Há diversos espaços para relaxar ou apenas curtir uma vista bonita. Há espreguiçadeiras e almofadas espalhadas pelo gramado ao lado do Centro de Eventos – que tão logo são instalados, passam a ser ocupados pelo público.
Outro lugar que é bastante convidativo é o gramado que sediava o espetáculo Som e Luz, ao lado das réplicas. O piquenique tem feito sucesso por ali, e se consolida como atrativo. Os valores das cestas partem de R$ 21 e chegam a R$ 71.
A família de Vitória Godois de Almeida, 19, curtia um chope em um dos quiosques instalados no gramado.
– É uma área muito boa de descanso, principalmente porque já caminhamos bastante. Acho pode ser melhor sinalizado – afirma.
O QUE PODE MELHORAR
Mirante e distribuição de uvas
Pai e dois filhos da família Araújo, de Carlos Barbosa, consumia cachos de uva sentada em um dos bancos entre as réplicas. Elise, 23 anos, Marco, 49 e Luca, 18, gostaram bastante do passeio e do que viram nos Pavilhões, mas sentiram falta de receber a fruta no final da festa por um motivo claro:
– A gente sentia que era o gran finale! Era quando olhávamos para a cidade. Não que esteja ruim desse jeito, mas estávamos acostumados e gostávamos – opina Marco.
Quem acessa pelas catracas ao fundo do pavilhão 2, batizado de Nostra Gente, consegue repetir esta sensação de ganhar a uva perto do mirante – caso de Angelo e Geni Stenello, 72, que chegou na tarde de ontem do município gaúcho de Caiçara.
– É a melhor parte, sem dúvida, quando comemos a uva e temos essa vista. Agora quero procurar uva para comprar – conta Geni.
O mirante é ocupado por um bar que funciona nos fins de tarde e serve, além de chopp, drinks. Ele abre a partir das 18h.
Acolhida das soberanas
A presença do trio de rainha e princesas é elemento que caracteriza ainda mais a Festa da Uva. Nesta edição, no entanto, faz falta a acolhida no Centro de Eventos do trio ou das embaixatrizes, que costumavam fotografar com o público logo na recepção.
– Não é um turista que me pede, são quase todos: onde eu encontro a rainha? Acho que poderia ter um ponto que as embaixatrizes também ficassem, para que os turistas pudessem fazer foto. Elas são a alma da Festa – admite uma das expositoras do setor de malharia, Karina Sotili.
Uma das réplicas é disposta para que rainha e princesas possam descansar, mas ela não é aberta ao público, conforme informou uma das funcionárias do local.
Ingresso mais caro
Chamou a atenção e causou descontentamento não só ao público, mas também aos expositores, o aumento do valor do ingresso no decorrer do evento. Agora, de segunda a quinta-feira, os ingressos passam a custar R$ 20 (inteiro) e R$ 10 (meio), exceto feriado. Nas sextas-feiras, sábados, domingos e feriado (terça-feira de Carnaval), os bilhetes custarão R$ 25 (inteiro) e R$ 12,50 (meio).
Isto elevou para quase o dobro em relação à última edição, em 2016. Na época, os bilhetes custavam R$ 12 durante a semana e R$ 15 nos fins de semana.
–O aumento do ingresso e o Fiorin Card diminuiu em até 30% o volume de vendas – admite Gilberto Carvalho, expositor de Timbé do Sul.