A queixa é geral: nunca se viu tanto calor como nos últimos dias. Essa percepção, porém, agora tem fundamento científico. Assim como Porto Alegre, que registrou em janeiro de 2019 a temperatura média mais alta já constatada em qualquer período desde que tiveram início os registros do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Caxias do Sul não ficou para trás. Na Capital, a temperatura média compensada - equação que leva em conta medições realizadas em diferentes períodos do dia - alcançou 27°C, enquanto Caxias chegou aos 23,5°C, também recorde.
Em Porto Alegre, o Inmet coleta temperaturas desde 1916, mas as médias compensadas são calculadas e computadas desde 1925. Na cidade serrana, os dados estão disponíveis desde 1931. Nesses períodos, portanto, não houve qualquer época tão ardente quanto as últimas quatro semanas.
Levando-se em conta apenas a média aritmética (quando se soma a máxima de todos os dias e se divide por 31), o valor sobe ainda mais: em Caxias, foi de 29°C, a mais alta para um janeiro desde 1961, período registrado no Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa (BDMEP) do Inmet. O valor só perde para fevereiro de 2014, quando a média ficou em 29,12°C.
Em termos absolutos, a máxima verificada em janeiro chegou a 33,6°C no dia 2 _ a quarta mais alta já vista para o mês (o recorde é de 35,4°C, registrada em 7 de janeiro de 2014).
A explicação para calorão experimentado no começo deste ano pode estar na combinação de dois fatores climáticos, segundo o meteorologista Jonas Ribeiro, da Somar Meteorologia. O Estado está sob a influência de um El Niño que, mesmo moderado, já eleva a temperatura das águas do Pacífico e provoca mais chuva e calor no sul do Brasil. Além disso, um bloqueio atmosférico localizado também no Pacífico, próximo ao litoral chileno, dificultou o avanço de frentes frias.
— O bloqueio atmosférico ocorre quando ventos em grandes altitudes impedem o avanço de frentes frias mais fortes. Esse bloqueio no Pacífico, que atuou durante a maior parte do mês, barrou essas frentes que seguem pelas regiões Sul e Sudeste até a Bahia — afirma Ribeiro.
Após a passagem de uma dessas frentes, normalmente vem uma massa de ar seco e frio que ajuda a acalmar os termômetros. Com a mecânica climática alterada, o ar mais refrescante não chega mesmo depois de eventuais pancadas de chuva. Como a maior parte dos recordes de calor ocorreram nesta década, conforme as medições oficiais do Inmet, o meteorologista não descarta que os calorões possam ter alguma relação com o aquecimento global.
— Nos últimos anos, estão se verificando temperaturas recorde em diferentes cidades — diz Ribeiro.
O crescimento das metrópoles também pode contribuir para o aumento na média de temperatura pela maior quantidade de concreto, segundo Jonas Ribeiro.
Para este final de semana, uma frente fria que já está instalada sobre o Rio Grande do Sul deve dar uma trégua. Conforme a meteorologista Maria Clara Sassaki, da Somar Meteorologia, há previsão de chuva, principalmente entre o sábado e o domingo _ com maiores acumulados na noite de sábado, restando um domingo mais nublado. As temperaturas devem despencar entre 8°C e 10°C: as máximas chegam a 25°C no sábado, 20°C no domingo e 22° na segunda-feira. O calor, porém, deve retornar ao longo da próxima semana: para quarta, já há previsão de 27°C.
OS DADOS
Janeiro de 2019
Máximas por dia(em °C)
1 32,2
2 33,6
3 29,2
4 22,4
5 27,4
6 30,2
7 29,4
8 28
9 27,2
10 29,2
11 25,4
12 26,6
13 30,2
14 28,6
15 31
16 28,2
17 28,2
18 29
19 21,8
20 23,6
21 25,4
22 31,4
23 30,4
24 28,4
25 29,6
26 31,2
27 31,6
28 31,6
29 32,4
30 33,2
31 32,6
Média aritmética do mês: 29°C (a mais alta para um janeiro desde 1961, conforme medições da estação convencional do Inmet)
Temperaturas históricas*
Maior média aritmética histórica (fevereiro de 2014): 29,12°C
Temperaturas mais altas em janeiro:
2/01/1963 34,4°C
6/01/1963 34,6°C
26/01/1964 34,6°C
Temperaturas mais altas desde 1961:
6/02/2014 35,2°C
7/02/2014 35,4°C
*O Inmet não registrou temperaturas na estação em Caxias entre os anos de 1984 e 1991, 1993, 1994, 1999 e 2001.
