Um dos assuntos que sempre esteve nas páginas do jornal Pioneiro foi o abastecimento de água, nunca suficiente para encher os reservatórios da população até 15, 20 anos atrás. Nos anos 1950, a ampliação do sistema Dal Bó era tema de editoriais e reportagens. Nos anos 1960, foi a vez do sistema Maestra figurar como bandeira de Caxias e do Pioneiro. Mas o período de maior impacto na vida dos caxienses e que mereceu ampla cobertura do Pioneiro envolveu a construção da represa do Faxinal. Se o sistema Marrecas é a maior construção na área de saneamento da história da cidade, o Faxinal é com certeza o investimento que alterou a rotina de milhares de famílias ao acabar com falta de água na cidade no início dos anos 1980.
– O Pioneiro acompanhou a implantação da adutora, publicava a cada semana o andamento da obra. Na construção da barragem, anunciava cada metro erguido. Foi um veículo integrado a esse momento importante – lembra o ex-prefeito Mansueto Serafini Filho.
Leia mais
Os anos de ouro do futebol caxiense
Os incêndios da Câmara de Vereadores e do Cine Ópera
Quando Caxias virou Capital da Cultura
A chegada da TV a cores
Hoje, Caxias conta com um grande sistema de represas, mas o cotidiano era bem diferente nos anos 1970. Dal Bó e Maestra não davam conta de levar água para uma cidade que só crescia e Mansueto assumiu a prefeitura com a missão de encerrar os racionamentos comuns a cada verão. Caso não cumprisse a promessa, sabia que estava com a carreira política em jogo.
– De 1977 a 1982, tempo que durou a minha gestão, enfrentei cinco racionamentos de águas, sempre nos verões. Teve um que durou nove meses. Desligava a água em uma parte da cidade por 48 horas para mandar a outra parte. Era uma grande dificuldade – conta Mansueto.
Apesar das reclamações populares, estampadas semanalmente no jornal, a prefeitura não tinha dinheiro para viabilizar a construção de uma grande represa. Além disso, havia forte pressão do governo federal para que os Estados assumissem o controle dos sistemas municipais de abastecimento.
Foi numa das viagens a Porto Alegre para conseguir recursos e apoio que Mansueto conheceu o geólogo Abrelino Frizzo, então assessor de gabinete do deputado estadual Francisco Spiandorello.
– A ideia era fazer a represa do Faxinal onde ela está hoje, em Ana Rech. Mas para isso tinha que desviar o rio num trajeto de quatro quilômetros. Esse desvio era muito mais caro do que a obra em si – conta Frizzo.
Contratados como responsáveis técnicos pelo projeto, Frizzo e Sérgio Mattana conheceram no Rio de Janeiro um especialista em barragens que apresentou o esboço de um projeto para erguer duas barragens menores, uma no Faxinal e outra no Arroio Alegre. Com isso, o sistema Faxinal seria construído em duas etapas diferentes. Com a redução dos custos, a Codeca assumiu o investimento da primeira etapa.
– Foi uma solução caseira de todas as formas, dinheiro veio do município, pois não tinha como fazer empréstimo – orgulha-se Frizzo.
Em setembro de 1981, a água do Faxinal corria nos canos de Caxias. Para comemorar, Mansueto mandou lavar a Rua Sinimbu, tomada pelo pó e barro devido à implantação do encanamento.
– Foi um erro e muita gente me criticou – revela o ex-prefeito.
A barragem só foi inaugurada em 1983. O fantasma do racionamento, porém, já estava afastado e seria debelado de vez em 1992, com a conclusão de uma represa maior, iniciada na gestão de Victorio Trez e encerrada no segundo mandato de Mansueto.
– A água sempre foi e sempre será um assunto para jornalistas. O tema do Faxinal foi uma pauta permanente na redação – reforça Ibanor Sartor, chefe de reportagem do Pioneiro no início dos anos 1980.
Leia mais
UCS: formação acadêmica e transformação cultural
Seu Armando cresceu com a cidade e com o jornal
Marcia elegeu Caxias para construir sua vida
Com o Pioneiro nos altos e baixos
As mudanças de Rodrigo
Nathalia integra a geração digital
As duas décadas de Rubens
Por um futuro mais tolerante