Durante todo o mês de outubro, o Pioneiro mostrou, em reportagens semanais, a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama, os diferentes tratamentos e histórias de pessoas que passaram pela doença e encontram forças para superá-la. Nesta última matéria da série sobre esse que é câncer mais comum entre as mulheres brasileiras — 50 mil novos casos são diagnosticados a cada ano, a médica caxiense Rita de Cassia Costamilan, professora do curso de Medicina da UCS e membro da Sociedade Americana e Europeia de Oncologia, aborda novidades sobre a imunoterapia, tratamento já utilizado em outros tipos de câncer (inclusive rendeu o Nobel de Medicina deste ano para o norte-americano James P. Allison e o japonês Tasuku Honjo) e que se desenha como alternativa para o câncer de mama.
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Uma pesquisa divulgada no congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Médica, que ocorreu em Munique, na Alemanha, oficializou o primeiro estudo que comprovou que a técnica da imunoterapia pode apresentar resultados bastante positivos também no câncer de mama. Rita de Cassia, que participou do congresso, enumera ao Pioneiro os avanços que esse último estudo trouxe, e diz acreditar que a evolução medicamentosa do tratamento que já existe acresce qualidade de vida para as pacientes.
Pioneiro: Qual a importância desse estudo que revela novos dados sobre câncer e imunoterapia?
Rita de Cassia Costamilan: O estudo era bem aguardado porque já se sabia que para o câncer de pulmão, melanomas, câncer de rim e bexiga, a imunoterapia agia muito bem. Mas a expectativa era sobre o câncer de mama. A imunoterapia estimula a imunidade do organismo a combater a doença, já que são os linfócitos T que vão combater a doença. Os efeitos da imunoterapia são bem melhores que os da quimioterapia. E, mesmo que a doença seja metastática (quando se espalhou em outras partes do corpo), pode até haver cura.
E quais as novidades para o câncer de mama?
Em câncer de mama, não havia nenhum estudo comprovando que a imunoterapia era melhor que a quimioterapia. Esse estudo indicou uma nova esperança, voltada principalmente aos casos de câncer de um tipo específico, triplo negativo, que corresponde a cerca de 20% dos tumores, justamente os mais agressivos. Quando há metástase desse câncer, geralmente, a sobrevida é bem pequena. O estudo comprovou que, quando associada ao câncer de mama, a imunoterapia reduz em 30% o chance de morte. É uma esperança expressiva porque se constatou que, depois de um ano do diagnóstico, mais da metade das pacientes estava viva. Isso é muita coisa. Se aumenta o tempo de vida, reduz a chance de morte e diminui o risco da progressão da doença.
Como funcionou esse estudo e, na prática, o que muda nos tratamentos?
O estudo teve mais de 800 pacientes acompanhadas e é multicêntrico, ou seja, com pacientes de todos os países, inclusive do Brasil. Na prática, o tratamento funcionará assim: a paciente faz a quimioterapia e, simultaneamente, a imunoterapia. Após, quando termina a quimioterapia, ele segue com a imunoterapia como manutenção. O tratamento é injetável, tudo venoso. Alguns pacientes terão acesso às sessões a cada 15 dias, outros a cada três semanas. Há relatos de pacientes com metástase vivendo até 10 anos. A medicação já está disponível no Brasil, mas logo que sai o estudo, as agências reguladoras começam a liberar. Passando pela Anvisa, os planos de saúde começam a liberar. Pelo SUS, como o valor é muito alto, será preciso judicializar. Para se ter ideia, uma sessão custa em média R$ 30 mil. E são feitas, muitas vezes, a cada 15 dias.
Em Porto Alegre
Na capital gaúcha, um grupo de 28 mulheres atendidas pelo SUS no Hospital Conceição participa de testes com imunoterapia. A pesquisa, com drogas experimentais, é capitaneada por laboratórios farmacêuticos dos Estados Unidos e é desenvolvida em vários países.
O Outubro Rosa
Quando o câncer de mama é diagnosticado precocemente, a chance de cura é de 95%. E é por isso que a campanha Outubro Rosa persiste há exatamente uma década, para difundir informação de que, para detectá-lo, basta a mulher ir ao médico anualmente. Em Caxias, mamografias são ofertadas às pacientes com mais de 40 anos.