Desde que a Diocese de Caxias do Sul comunicou que não recebe mais seminaristas internos no Seminário Nossa Aparecida, em Caxias do Sul, algumas iniciativas têm deixado cada vez mais claro o novo posicionamento da Igreja Católica diante de seu público. Na igreja contemporânea, é possível que condutas diferentes sejam acrescidas ao dia a dia do catolicismo. Exemplo: seminaristas ingressam na caminhada sacerdotal cada vez mais velhos, há padres com formação acadêmica nada usual ou ainda é encaminhada a consolidação do diaconado, que permite que homens casados sejam mais atuantes e até líderes de comunidades religiosas.
Quem frequenta as missas nas paróquias São Roque e Faria Lemos, em Bento Gonçalves, não imagina que o jovem padre Daniel D'Agnoluzzo Zatti, 30 anos, já trabalhou em uma empresa petroquímica e deu aulas em cursos pré-vestibulares.
O diploma de Engenharia Química, obtido após árduos anos de estudo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), não foi suficiente para dar ao caxiense a profissão que sempre sonhou. Desde criança, costumava pedir aos pais para ir às missas e seguia com animação para as vivências religiosas _ muitas vezes, com mais dedicação que os próprios pais, que lhe ensinaram os costumes católicos. Diz que sentiu ter despertado para a fé aos 14 anos, mas a certeza de que só se sentiria realizado profissionalmente como padre chegou no segundo ano da faculdade, quando morava em Porto Alegre.
— Era uma inquietação muito grande. Eu sentia, nas poucas horas vagas que tinha entre os estudos, uma palpitação diferente, uma sensação que só sumiu quando eu decidi ir ao seminário — afirma Daniel.
A Diocese de Caxias tem 110 padres, e só 18% deles têm menos de 40 anos, caso de Zatti. Portanto, além de bastante conectada e marcante nas redes sociais _ no Facebook, o padre Daniel já excedeu o número permitido de 5 mil convites de amizades _, a nova geração de sacerdotes tem em seu currículo a inquietação e o desafio de manter-se inserido nas novidades da nova Igreja Católica.
— Eu senti que minha missão era evangelizar. É muito bom ser padre, é muito bom quando ouvimos aquilo que Deus quer para nossa vida — define Daniel.
Tendência mundial
A tendência de ingressar na vida religiosa cada vez mais tarde é percebida em todo o mundo, avalia o bispo diocesano dom Alessandro Ruffinoni. Um período de reflexão, diz, é importante para que os jovens reflitam sobre a caminhada que enfrentarão na igreja e, então, decidam dedicar sua vida a ela.
— Antigamente, era costume entrar no seminário ainda criança. Hoje em dia, não é mais psicologicamente oportuno tirar uma criança da família ainda pequena. Ela precisa do carinho e do ambiente familiar. A juventude opta, tanto pelo matrimônio quanto pelo sacerdócio, mais tarde. São nossas vocações mais adultas, mais maduras — afirma o bispo.
Seminarista aos 35 anos
O encerramento das atividades do Seminário Nossa Senhora Aparecida, em Caxias do Sul, não é reflexo, obrigatoriamente, da baixa procura e formação de novos padres. Prova disso é que, mesmo nas décadas passadas, quando o seminário acolhia cerca de 200 internos, o número dos que seguiam na vida religiosa era semelhante aos de hoje: cerca de dois ou três. O que é mais recorrente agora são vocações maduras, ou seja, homens que escolhem ser padres bem depois de saídos da adolescência. Se antes os seminaristas ingressavam aos 14 anos, agora há seminaristas próximos dos 40 estudando na Diocese de Caxias.
É o caso de Joacir Marcolin, 35 anos, natural de Galópolis. O desejo de ser padre iniciou na infância, quando ajudava nas missas como coroinha. Frequentou o Seminário de Fazenda Souza aos 11 anos, mas decidiu sair e seguir os estudos em escola regular aos 15 anos.
— Eu trabalhei na paróquia de Galópolis, inclusive, nunca deixei de estar próximo da igreja. Fui também ministro da Eucaristia. Mas tive diversos empregos, trabalhei com tecnologia, em pousadas, fiz curso técnico. E a vontade de ser padre nunca passou — conta Joacir.
Há cerca de cinco anos, ingressou em um emprego estável e enxergava sua carreira ascender. Já era cotado para assumir a gerência de um negócio que tecnologia em Caxias quando passou por sessões de coaching _ metodologia que ajuda a identificar ou potencializar competências e habilidades. Foi ali que externou a frustração de não ter se tornado, de fato, padre. Largou tudo: carro, casa da família, amigos, e rumou ao Seminário Maior São José. Agora, dedica o dia à igreja e aos estudos no seminário. É o mais velho entre os seminaristas, que têm, na maioria, 18 anos.
— Conversei com o padre da paróquia e decidi que ia atrás do eu queria de fato. Mesmo que eu seja mais velho entre os seminaristas, há respeito e sou bem tratado. Estou muito feliz _ diz o futuro padre.