Foi só o vírus H1N1 dar as caras por aqui que os caxienses correram para as unidades de saúde (UBSs) em busca de vacinas. Apesar de a dose ser o método mais indicado para prevenir a influenza (gripe), especialistas garantem que as pessoas com boa imunidade conseguem vencer a doença sem a imunização. O melhor mesmo é prevenir o contágio seguindo os cuidados diários de higienização e comportamento.
– As cepas mudam muito, mas sabemos que a H1N1 (cepa pandêmica de 2009) representa 60% dos casos do Rio Grande do Sul. Pessoas com imunidade normal têm condições de se recuperar sozinhas na maior parte dos casos – destaca a médica Lessandra Michelin, infectologista e coordenadora do Comitê de Imunizações da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Depois de encerrar a campanha de vacinação com procura abaixo do esperado nos grupos de risco, a população de Caxias do Sul parece ter despertado tardiamente para o perigo da Influenza. Nesta segunda-feira à tarde, eram poucas as unidades que ainda tinham as doses em Caxias, e, nas que tinham, o número era reduzido. A Vigilância em Saúde não divulga os nomes das UBSs porque o cenário muda de um dia para o outro. Então, a orientação é para que as pessoas procurem a unidade mais perto de sua casa para se informar. O órgão não descarta um pedido de mais imunizantes à Secretaria Estadual da Saúde (SES). A possibilidade já foi tratada internamente, mas mesmo que a solicitação seja feita, não há garantia de recebimento de mais doses. Na rede privada, não há mais oferta do produto.
Leia mais:
Secretaria acredita que procura reduzida por vacinas ocorre por não haver registro de mortes por gripe em Caxias
Primeira morte por gripe A é confirmada em Caxias
Prefeitura de Caxias projeta mutirão para reduzir fila para consultas com especialistas
Neste ano, segundo a Vigilância em Saúde do município, dos 13 casos confirmados de influenza, 11 foram causados pelo H1N1 e dois pelo H3N2 (gripe comum). Do total, apenas três tinham se vacinado – dois que tiveram H1N1 e um que teve H3N2. Outros 34 casos estão em análise. Os dados consideram somente as notificações de internações hospitalares. Ou seja, casos mais graves que necessitaram de internação.
Nesta segunda-feira, foi confirmada a primeira morte por agravamento da doença causada por H1N1 na cidade. Após complicação do quadro respiratório, a professora universitária Fabiane Ferreira, 48 anos, morreu na madrugada do último domingo. Ela estava internada no Hospital Pompéia desde o dia 8 de junho. Essa foi a quarta morte com confirmação na região em 2018, porém, a primeira de um morador de Caxias. As três anteriores ocorreram nos municípios de Gramado, Canela e Flores da Cunha.
– Temos influenza todos os anos. A maior parte do tempo temos influenza H3N2, que é a sazonal e apresenta quadro clínico mais brando. Então, se temos maior circulação de H1N1, temos mais pessoas doentes que procuram assistência e temos mais casos graves que vão para a UTI pela agressividade desse vírus. Por isso, as pessoas acham que está tendo um surto, mas não. Todos os anos que temos Inverno mais rigoroso, com temperaturas mais baixas, as pessoas se confinam. Um contaminado espalha para vários outros e acabamos tendo mais casos de Influenza e outros vírus respiratórios – explica Lessandra que coordena o Setor de Infectologia do Hospital Geral.
Os casos mais graves são tratados com oseltamivir, popularmente chamado pelo nome comercial Tamiflu. A indicação de tratamento depende de avaliação médica.
TIRE SUAS DÚVIDAS
Sobre a influenza
:: Por que não temos casos no verão no Rio Grande do Sul?
Porque a circulação do vírus é menor. Ele circula mais no inverno porque é a época em que estamos mais confinados, porque nosso inverno é rigoroso. Nesse período, a mucosa das vias aéreas fica mais seca e, com isso, mais suscetível. A chance de se contaminar com um vírus que está no ambiente ou de outra pessoa é mais fácil.
:: O vírus sofrem mutação a cada ano?
Sim. As mutações ocorrem anualmente, mas são pequenas. Como as vacinas são feitas a partir das nova cepas, uma pequena mutação não deve interferir no resultado da imunização.
:: As pessoas que está com sintomas respiratórios necessita tomar oseltamivir?
Os casos são avaliados individualmente. Pessoas dos grupos de risco e os casos mais graves sim. Pessoas com boas condições de imunidade, não. Lembrando que Tamiflu só deve ser usado com prescrição médica, que deve ser usado nas primeiras 48 horas em que aparecem os sintomas e que ele não mata o vírus, ele impede que o vírus se multiplique, fazendo que a pessoa tenha quadro inflamatório menor.
:: Quem já teve gripe A em anos anteriores pode ter de novo? Se sim, será com a mesma intensidade?
Sim, pode. Não se sabe com certeza a intensidade.
:: Quais as medidas que as pessoas podem fazer em suas casas e que ajudam a proteger contra a Influenza?
A população deve manter os cuidados para prevenir a contaminação sempre porque o vírus continua circulando. Entre eles, higienizar frequente as mãos com água e sabão ou álcool gel a 71%. Secar mãos e punhos com papel-toalha descartável. Evitar contato com as torneiras. Usar lenço descartável para higiene nasal e ao tossir ou espirrar cobrir nariz e boca. Evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca. Não dividir objetos de uso pessoal, como toalhas de banho, talheres e copos. Evitar aglomerações.
Sobre a vacina
:: Como foi feita?
Ela é desenvolvida a partir de três ou quatro cepas do vírus Influenza que circularam no ano anterior no mesmo hemisfério ou em outro hemisfério no período que antecede o sazonal de Influenza no país. A vacina trivalente atual, distribuída pelo Ministério da Saúde à rede pública, contém H1N1, H3N2 e Influenza B. A tetravalente ofertada na rede privada tem uma cepa a mais de Influenza B.
:: De que forma age no organismo?
Quando a defesa do organismo entra em contato com o vírus inativo, induz a formação de anticorpos (proteção). Não há como a vacina causar doença.
:: Quanto tempo leva para fazer efeito?
Ela leva duas semanas depois da aplicação para começar a agir no organismo.
:: Qual o percentual de proteção que oferece?
O percentual divulgado pelo Ministério da Saúde é de 85%.
:: Existem contraindicações?
Não se aplica em quem já teve reação adversa à vacina em anos anteriores, em pessoas alérgicas à algum componente presente na vacina, nem em quem estiver em estado febril agudo (febre acima de 38ºC), gripada ou com infecção bacteriana.
:: As pessoas podem ter reações?
As pessoas podem ter dor no local da aplicação, mal-estar e, raramente, febre baixa.
:: Se se sentir mal após a aplicação da dose, a pessoa pode tomar remédios como analgésicos para combater os sintomas?
A orientação é procurar atendimento na rede básica de saúde para avaliação.
:: Ela vale para gripe comum?
Sim, a gripe comum é a Influenza H3N2. Não combate outros vírus respiratórios que não sejam Influenza.
:: Quem já teve gripe A em anos anteriores deve se vacinar?
Sim, todos os anos. A vacina é a melhor proteção contra a doença.
:: A pessoa pode contrair Influenza depois de se vacinar?
Nenhuma vacina protege 100%. Caso ocorra, a doença deve ser mais branda.
:: Essa vacina é feita no país?
Sim. Um dos laboratórios que produzem as doses é brasileiro, o Instituto Butantan.