Não é de hoje que moradores dos dois principais residenciais populares de Caxias do Sul – o Campos da Serra e o Rota Nova – se queixam da carência ou da inexistência de serviços públicos básicos no entorno dos conjuntos habitacionais. A maior preocupação da moradora Rosana Almeida, no entanto, é o convívio diário que os filhos têm com usuários e traficantes no Campos da Serra.
Leia mais
Residenciais criados para atender a demanda de habitação não resolveram problema social em Caxias
Convívio entre moradores é desafio nos residenciais populares de Caxias do Sul
– Vejo crianças com 10 anos usando drogas. Crianças de noite na rua, porque os pais não têm mais controle sobre os filhos. Isso me dói muito, porque tenho três, e fazemos de tudo para manter os nossos dentro de casa, explicando o certo e o errado. Só que eles vão crescendo vendo aquilo, por mais que seja errado, para eles está sendo normal – relata.
Todo esse cenário de insegurança faz com que Rosana pense em deixar o local assim que conseguir quitar o apartamento:
– A crítica é grande, mas ninguém sabe o que vivemos lá realmente. Tem muitas pessoas que são trabalhadoras, mas a gente se obrigada a morar com “outros” porque não temos escolha.
Desde janeiro, o Conselho Tutelar Norte, que já atendia o Rota Nova, passou a assistir também os moradores do Campos da Serra, que estavam na região do Conselho Tutelar Sul. A transferência dos procedimentos tem sido gradativa. Até o momento, foram 44. Dos casos atendidos, conforme o Conselho Tutelar Norte, foi possível identificar a dificuldade de acesso a serviços de saúde (os atendimentos especializados estão aglomerados na área central) e à assistência social. Do total de atendimentos, dois envolveram suspeita de envolvimento dos pais com substâncias psicoativas e de tráfico. O conselho também aponta a ausência de creches e de escolas, motivo pelo qual a escolarização se dá fora do território, com garantia, por parte do município do transporte para alunos em idade obrigatória.
O conselho estima que 43% dos residentes no Campos da Serra são crianças e adolescentes com idade até 17 anos. O loteamento é referenciado ao Centro de Referência de Assistência Social (Cras) do Centro e ao Centro de Referência Especializada de Assistência Social (Creas) Sul.
Os moradores do Rota Nova também convivem com a insegurança. As câmeras não inibem as ações de criminosos.
– Colocaram gente de má índole a morar com gente de bem. Tem moradores entrando nos apartamentos dos vizinhos, roubando e ameaçando as pessoas. Se a gente não tiver apoio da Polícia Militar ou Civil para nos ajudar, vamos recorrer a quem? A gente só quer conviver em um ambiente bom, tranquilo – diz Ariane da Silva.
Conselho acompanha famílias
Do início do ano para cá, período em que o Conselho Tutelar Norte passou a atender o Campos da Serra, foi possível confirmar a dificuldade de acesso aos serviços públicos por parte da comunidade. Outra problemática é a falta de oferta de Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) na região. A região conta apenas com um SCFV, o SOS Vida, que atende a cerca de 45 crianças.
Com relação ao Rota Nova, o Conselho Tutelar percebeu uma problemática semelhante. Apesar de diversos equipamentos públicos fazerem parte do Projeto Rota Nova, até o momento as 420 famílias acessam serviços de saúde e de assistência social no bairro Reolon. Existe uma estimativa de que a pé o usuário caminhe cerca de uma hora para ser atendido nesses locais. Também não existem creches, SCFV e escolas no local. A escolarização também se dá fora da área, com transporte escolar ofertado pelo município para alunos em idade obrigatória.
Os pedidos que chegam à Comissão de Direitos Humanos, Cidadania e Segurança da Câmara de Vereadores são os mesmos referidos pelas moradoras ouvidas pela reportagem e pelo Conselho Tutelar.
As demandas que chegam são encaminhadas aos órgãos competentes. Além disso, é papel dos vereadores, integrantes ou não de comissões, cobrar do Executivo melhorias solicitadas pelos moradores.