
Com 27 mil alunos na graduação e um corpo docente de mais de 1 mil professores, a Universidade de Caxias do Sul (UCS) está perto do cinquentenário: hoje, a instituição chega a 49 anos de vida e com desafios. Diante de dificuldades financeiras que atingem a comunidade como um todo e inclusive afastam estudantes da sala de aula, a UCS quer manter o índice de alunos e continuar crescendo. Ao mesmo tempo, investe na educação: no ano passado, inaugurou um Parque de Ciência, Tecnologia e Inovação (TecnoUCS). A iniciativa, comum em países desenvolvidos e presente em algumas regiões do país, visa a gerar ideias inovadoras para a solução de problemas das empresas ou para a criação de produtos ou processos com potencial de se tornarem empreendimentos competitivos no mercado.
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Depois de um 2015 difícil, em que o governo federal atrasou o repasse correspondente ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) em R$ 17 milhões e obrigou a instituição a se socorrer com empréstimos bancários, a expectativa é de manter as contas equilibradas neste ano. No entanto, a UCS começa 2016 ainda enfrentando atraso no repasse do Fies. São R$ 6 milhões que o governo federal ainda não pagou, o que deve impactar no caixa, sobretudo se os valores continuarem em atraso. Por ano, são cerca de R$ 50 milhões de financiamento.
- Como sabemos que é um dinheiro que um dia vai entrar e que os alunos precisam, não podemos abrir mão - pontua o presidente do Conselho Diretor da Fundação Universidade de Caxias do Sul (Fucs), Ambrósio Luiz Bonalume.
Como o número de alunos com financiamento federal pode diminuir em função das novas regras do Fies, a UCS prepara um modelo próprio, cujo edital deve ser lançado até a próxima semana. Com regras semelhantes às do Fies, será possível parcelar 50% ou 75% do curso. O recurso estará disponível já para este semestre. Somados os cursos de pós-graduação, a universidade concentra cerca de 30 mil estudantes.
No domingo, às 19h45min, haverá missa na Igreja São Pelegrino, com participação da Orquestra Sinfônica da UCS e dos solistas Elisa Machado (soprano) e Maicon Cassânego (tenor), sob a regência do maestro Manfredo Schmiedt.
A seguir, confira entrevista com Bonalume:
Como a UCS se mantém?
A grande renda é da graduação, tem renda também da pós-graduação, da prestação de serviços e de algum subsídio de venda de atividades nossas. Mas a grande massa é do ensino.
Qual a receita que mantém a UCS?
A universidade teve renda em 2015 em torno de R$ 350 milhões, mas temos em cima disso despesas que quase se equivalem, e a lucratividade é bem pequena, porque as mensalidades não são muito altas para atender ao poder aquisitivo dos estudantes. São trabalhadores que estudam e normalmente têm renda limitada. Em contrapartida, a Fundação através da UCS tem que dispor ao governo federal, para não pagar tributos por ser filantrópica, bolsas ProUni. Nós tivemos em 2015, 5.344 alunos com Pro Uni e 360 com bolsa UCS. Desses mais de 5,5 mil alunos com bolsas de estudo, a quase totalidade é integral. Isso representa despesa de R$ 55 a 60 milhões/ ano.
Existe a tendência de fechar a creche da UCS, já que não será cobrada mensalidade?
Na UCS, compreendendo a sede e todos os campi, temos 380 alunos com idade de creche. Desses, 330 são aqui do campus-sede, de Caxias. E nós só privilegiamos 52 vagas na creche. Então nós deixamos as demais em desamparo, que recebem apenas R$ 210 por mês. Então eu, como presidente da Fundação, entendo que é uma injustiça grande, não é uma situação de equilíbrio. Vamos tentar tratar todos de forma igual. Como? Não entra nenhum novo aluno e em dezembro de 2016 fecha a creche. Estabeleceremos um valor único a ser repassado, que será decidido pelo Conselho-Diretor, para todos os 380 que têm direito. Não se está querendo prejudicar ninguém.
A ideia da UCS é aumentar o valor repassado, hoje de R$ 210?
Sim. Porque hoje, por exemplo, esses nossos alunos da creche custam entre R$ 1,2 a 1,3 mil por mês, cada um, e os outros recebem R$ 210. É uma injustiça.
Isso tem ligação com a questão financeira da UCS?
Não sei quanto vão custar os 380 alunos, porque não sei o valor que vamos dar a cada um. Claro que se nós pudermos evitar um déficit, vamos evitar. O que não dá é para continuar mantendo o privilégio desproporcional.
Existe risco para outros serviços, como a orquestra?
Está na nossa projeção para o próximo ano tentar diminuir o déficit onde existe um gargalo.
Vocês já identificaram esses gargalos?
Estão sendo identificados. Há laboratórios, campi. Temos que buscar melhoras. Há campis da instituição que não são lucrativos, mas nós não buscamos lucros, buscamos o equilíbrio, porque nós somos uma instituição filantrópica. O reitor está fazendo um grande trabalho de alteração de currículos para centralizar os estudos, minimizar as despesas e maximizar a ocupação de espaços. Tudo para manter a qualidade de ensino e o número de alunos.
Se esses campis não se equilibrarem, podem fechar?
Não dá para se dizer isso porque não é como fechar uma fábrica. Como nós temos cursos, tu tens que terminar o curso, então nem se pensa em fechar. Vamos supor que hoje nós decidimos fechar um campi, só poderemos fechar daqui a cinco anos. Pode parar de fazer vestibular, mas se tem um curso de cinco anos, vai ter que esperar. Buscamos que se mantenha equilíbrio entre receita e despesa.
A UCS programa construir um edifício-garagem (para posterior cobrança de estacionamento)?
Existe um estudo, que não chegou no Conselho-Diretor. Até não chegar aqui, não tem nada definido. Das 15 universidades comunitárias do RS, somos se não a única, uma das duas que não cobra estacionamento. Está num projeto futuro, mas não é para este ano. Não se sabe sob qual forma ou qual modalidade. E até poderá se fazer um edifício-garagem. Poderá até se terceirizar. Não há planos para agora. É projeção para o futuro que talvez possa ser feito.
Como está a saúde financeira do Hospital Geral?
O HG em 2015 teve grave risco de ter 20% da capacidade fechada por falta de repasse do Estado, através do IHOSPI, um incentivo para hospitais filantrópicos, em torno de R$ 6 milhões. Fizemos um esforço muito grande e conseguimos diminuir esses R$ 6 milhões para em torno de R$ 4,2 milhões. Quando não tínhamos mais como manter o hospital, porque ele já tinha dado déficit no primeiro semestre de R$ 5,1 milhões, tivemos que buscar uma solução: ou adequar a capacidade à receita ou que o poder público aumentasse a receita para mantermos a mesma capacidade. O poder público foi sensível, o prefeito municipal está repassando até julho R$ 350 mil mensais. E o governo do Estado renovou também por este período um repasse que já vinha sendo feito de R$ 2,58 milhões por mês, até julho. Então até julho deste ano, o HG está equilibrado, fizemos uma série de ajustes internos de diminuição de despesas e de pessoal. Para o primeiro semestre de 2016, o HG está com a sua capacidade instalada, com a mesma qualidade. Vamos continuar atendendo aos 49 municípios. Vamos, a partir de março, buscar junto ao poder público valores para que possamos no segundo semestre também manter o hospital equilibrado. É princípio da administração atual, minha e do reitor, não pegar dinheiro da educação para fazer saúde pública, que é obrigação do Estado. Somos também um hospital-escola, temos a área da saúde com 400, 500 alunos que frequentam mensalmente o hospital, mas a UCS repassa o valor deles ao hospital.
Como a UCS fechou o ano e inicia 2016?
Podemos falar na Fundação, junto com a UCS. Fechamos numa situação de equilíbrio financeiro e com número de alunos dentro do que prevíamos. Tenho certeza que neste ano, embora a gente preveja grande dificuldade, com o esforço de todos nós também chegaremos ao final do ano numa situação de equilíbrio.