Irma Overlock está mais perdida que cachorro em dia de mudança. A costureira até achava que entendia um pouco de política, mas os acontecimentos recentes esvaziaram qualquer pretensão que ela ainda alimentava.
Irma não entendeu: em plena crise, a Câmara dos Deputados aprovou emenda constitucional permitindo reajuste a uma caminhão de gente, de advogados a delegados. Não que esses trabalhadores não mereçam ganhar bem, mas.
- Mas que momento para aumentar a folha de pagamentos em mais de R$ 2 bilhões, né? - observa a costureira.
Dos 31 deputados gaúchos em Brasília, apenas um votou contra o aumento. Os 30 restantes votaram a favor do projeto - por extensão, contra as contas federais e estaduais, pois o efeito cascata vai alcançar o RS e também cidades com mais de 500 mil habitantes.
Por essas e outras Irma está zonza.
Outro fato que desconcerta Irma: Mauro Pereira, do mesmo PMDB que apoia (apoia?) Dilma e que é companheiro de Sartori, votou favorável ao reajuste bilionário dos servidores.
- Em algum momento passou pela cabeça do deputado que seu voto afetará o Rio Grande também? Os deputados estão a favor de quem, afinal? - pergunta.
Aqui no celeiro, nesta semana Sartori nomeou mais de 50 CCs.
Precisava?
O governador nomeou os CCs menos de uma semana depois de ter fatiado o salário dos servidores. A temporada escondido sob a escrivaninha foi insuficiente para Sartori alcançar o significado simbólico de atos primários.
- Agora era a hora de contratar CCs? - Irma quer saber.
A costureira pensa seriamente em tirar o timinho de campo por um tempo, investir no aluguel de uma caverna e tentar se reposicionar no mundo revisando o bê-á-bá da existência.
As amigas andam surpresas de verdade com as novas ideias de Irma. A costureira anda invocando com frequência o caráter, o comprometimento, o respeito, a seriedade, o senso de responsabilidade, o coleguismo, a.
- Será que Irma vai ministrar cursinhos de boa conduta nos parlamentos e nos palácios? - matutam as amigas.