Quem não simpatiza com o inverno tem motivos para celebrar: embora tenha começado frio, junho será mais quente do que nos anos anteriores. De acordo com o Instituto Climaterra, uma nova onda de frio está prevista para terça, quarta e quinta-feira da próxima semana, mas as temperaturas próximas de zero grau durarão poucos dias. Mais, esta deve ser a última friaca de junho. A segunda quinzena deverá ser mais úmida, com chuvas semanais, e os termômetros dificilmente registrarão temperaturas abaixo dos 10ºC.
- Ainda que não tenha dias e mais dias de frio, quando ele aparecer chegará com força. Teremos frio com pouca quantidade, mas de boa qualidade -explica o agronômo do Instituto Climaterra, Ronaldo Coutinho.
Mesmo que a expectativa até julho seja de dias amenos, junho começou com temperaturas negativas. Foi na madrugada da terça-feira, em São José dos Ausentes, com mínima de - 0,5ºC. Neste mesmo dia, Canela chegou a 0,7ºC e Bom Jesus a 0,8ºC, atingindo as mínimas deste ano no Estado. O alerta de que dias tão frios assim não devam se repetir neste mês preocupa produtores de uvas e especialistas no cultivo da fruta. O frio é importante para que a brotação ocorra uniformemente e, com isso, garanta boa qualidade e produção maior.
- Todas as plantas entram em dormência agora e ficam assim até a metade de agosto. A uva precisa do frio para se desenvolver plenamente, assim como o kiwi, por exemplo - explica o técnico em agropecuária da Emater, Jair Carlin.
O ideal é que os parreirais sejam submetidos acima de 300 horas abaixo de 7,5ºC, especialmente uvas viníferas. O frio de junho está praticamente descartado, mas os índices ideais, porém, podem ser alcançados em julho e agosto
Um estudo em andamento na Embrapa de Bento Gonçalves aponta que uvas comuns possam apresentar boa qualidade mesmo submetidas somente a 90 horas de frio intenso. Os pesquisadores fizeram abordagem a campo e também com uvas em ambientes controlados. O estudo é aprofundado há três anos.
_ A espécie Isabel, por exemplo, apresenta brotação satisfatória com menos que 100 horas de frio. Mas a uva Cabernet exige mais de 360 horas de frio_ compara o autor do estudo, o pesquisador em fisiologia de produção Henrique Pessoa dos Santos.
Quando o inverno é rigoroso até meados de agosto, o empresário e agricultor Ivo Tonet, 70 anos, prevê ótima qualidade da safra da uva colhida no verão. Diante das previsões de meteorologistas de que junho não deve despontar como mês de frio intenso, ele sentencia:
- Era visto que isso ia acontecer. Até agora, não teve geada, o que sempre acontece em maio. Prova disso é que as folhas ainda não caíram das parreiras - explica Tonet.
A família Tonet se prepara agora para a pré-poda das videiras plantadas em 12 hectares de área. Seu Ivo acompanha as previsões do tempo e se preocupa com a ausência do rigor da estação, e ainda palpita sobre o frio que está por vir:
- Quando o inverno começa desse jeito, com calor, é provável que esfrie bem mais tarde. Lembro de neve que aconteceu até em outubro.