O golpe do falso sequestro renasceu das cinzas. Funciona mais ou menos assim: você recebe um telefonema anunciando que algum parente seu foi sequestrado. O sequestrador dá poucas informações, avisa que ligará novamente para dar mais detalhes.
Desespero.
Ao fundo, você ouve alguém gritando, pedindo clemência. É seu filho sequestrado, não restam dúvidas, o pobrezinho está na mão de bandidos. O golpista deixa claro: não avise a polícia, muito menos telefone para seu filho. A desobediência será respondida com a morte do guri. Na segunda ligação o malandro avança, determina o preço do resgate, fornece uma conta bancária, etc. Às vezes há uma terceira, uma quarta ligação, o que torna o caso ainda mais verossímil.
As negociações prosseguem até que você:
a) paga o resgate;
b) descobre que seu filho está na escola, na casa de um amigo, no shopping (caso deixem ele entrar, claro).
O golpe do falso sequestro ganhou uma forcinha que já era esperada: a internet, especialmente as redes sociais, notadamente o Facebook.
Dependendo de como é empregado, o face é igual areia da praia, plataforma ideal para imprimir pegadas. Revelamos no face aonde estamos e para onde iremos, socializamos nosso dia-a-dia, falamos o que comemos, anunciamos a que hora sairemos e a que hora chegaremos, confessamos nossas preferências e nossas ojerizas. Ou seja, tornamos públicos nossos hábitos mais pueris a ponto de nos assemelharmos àquelas revistas de subcelebridades que colorem os varais das bandas. Em resumo, tiramos toda a roupa que ainda protegia nossa privacidade.
O problema é que essas informações tão pessoais podem ser preciosas nas mãos de gente mal intencionada.
Junte nosso vício em deixar pegadas inapagáveis pela internet com a malandragem e estará montado o prato que pode levar a momentos de pânico, desespero.
Nem sempre a marginalidade quebra a cara. Há golpes que de fato se concretizam porque estamos perdendo a capacidade de viver uma vida que não seja compartilhada.
Um pouco menos de falso glamour pode ser útil e, por que não?, mais seguro.
Opinião
Gilberto Blume: os falsos sequestros renasceram das cinzas. O golpe é velho, mas nós não precisamos facilitar
Há golpes que de fato se concretizam porque estamos perdendo a capacidade de viver uma vida que não seja compartilhada
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