Gilberto Blume: Política é um eterno toma-lá-dá-cá, e isso interessa especialmente a nós, os cidadãos

Tem gente que reclama que tem eleição demais, que eleição não leva a lugar algum, que está cansado de eleição, que. É e sempre será saudável, porém, recordar que só avançamos porque tem eleição.

Não sejamos ingênuos a ponto de crer que os grupos políticos se formam e nos convencem a votar neles porque eles são altruístas. Não, eles não são altruístas. Eles têm projetos de poder que defendem com unhas, dentes e mediante um balaio de coligações que evita o projeto fazer água.

Isso é política.

Os respingos dessa arte reservada a alguns poucos às vezes calham de cair sobre nós em forma de obras. De novo, não é o altruísmo que leva o grupo que está no poder a construir uma ponte, uma estrada, um loteamento, um aeroporto.

É o instinto de preservação que leva o grupo que está no poder mostrar serviço.

Governo que nada faz é apeado do poder.

Essa é a brecha que nos interessa ocupar.

Por isso eleição é coisa tão importante.

Também por isso é tão importante especular com os candidatos como eles pretendem executar as promessas de campanha. Prometer por prometer é fácil. Também é fácil, frise-se, remover do poder quem descumpriu o prometido.

Tem obras prometidas há anos que só deslancham porque ali na frente tem eleição.

Sempre foi assim, sempre será assim.

Nada é de todo negativo: a entrega de obras é o quinhão que nos é reservado nesse cipoal de interesses. O mundo democrático, onde tem eleição, anda mais ou menos assim: eles prometem, nós apostamos nas promessas, eles cumprem as promessas, nós somos beneficiados, eles prometem, nós apostamos nas promessas, eles...

Contudo, não é porque obras brotam do chão na véspera da eleição que a vitória está garantida.

É preciso pôr os miolos para trabalhar minimamente a fim de clarear o cenário e não irmos até a urna tateando, inseguros, influenciados pela promessa cumprida e, por não?, pela promessa descumprida.

Política é um eterno toma-lá-dá-cá, e isso interessa especialmente a nós, embora muitos grupos políticos invistam energia em doses industriais para tornar o processo desinteressante.