Tomo a liberdade de me dirigir ao futuro governador do Estado e ao futuro presidente da República. Os escritos a seguir correm grande risco de resultarem piegas, repisados, óbvios ou, pior, inócuos.
Corro o risco, porém.
A causa é merecedora, o objetivo é elevado, juro.
Quem superou a idade de 40 anos convive com a redemocratização desde o começo, acontecimento aguardado por muito tempo e celebrado como divisor da história recente do país. Em 30 e poucos anos avançamos bastante. Também tropeçamos, claudicamos, até recuamos.
Tudo faz parte, o balanço da embarcação é natural, previsível, pois a rota é singrada em mar de rendas. Trinta e poucos anos, contudo, é bastante tempo. Um homem constrói uma vida em 30, 40, 50 anos. O restante da existência é ocupado em segurar o leme, manter a rota, prever incidentes. Essa lógica, porém, não é aplicável aos governos, aos grupos políticos, à nação.
O tempo que vivemos na vida real é diferente do tempo vivido pela coletividade, esse cardume dependente dos caprichos palacianos e dos interesses políticos que tantas vezes vaga solto, sem perspectivas, soluções.
Governador e presidente, repitam na vida pública a experiência de sucesso que vocês obtiveram em suas vidas privadas. Não há dúvidas, o projeto que vocês elaboraram lá atrás, na juventude, resultou vitorioso.
Vocês dois, governador e presidente, são exemplos.
Agora sentados no trono, vocês precisam mover mundos para bafejar os milhões de cidadãos que creem em vocês.
Como vocês farão isso não vem ao caso. O caso é que vocês se comprometeram conosco. O caso também é que o tempo passa excessivamente rápido, governador e presidente. Trinta e poucos anos de análises de cenário, de promessas, de eleição após eleição, de debates, de tudo o que surge no filme da memória resultaram em avanços incompatíveis com o tamanho do tempo espacial.
No frigir, ainda falta muito para que o país tenha condições de fazer como faz aquele cidadão que chegou aos 50 anos confortável, com a vida encaminhada - exatamente como vocês puderam fazer, governador e presidente.
Que tal apressar as coisas para que mais de nós vivamos um Brasil adulto, sério, bacana?
Opinião
Gilberto Blume: Carta ao futuro governador e ao futuro presidente
Vocês precisam mover mundos para bafejar os milhões de cidadãos que creem em vocês
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