Seria precipitado cravar opinião definitiva contra ou a favor, mas é preciso admitir que a Igreja Católica exerce seu direito à coerência quando anuncia o fim das domingueiras regadas a álcool nas paróquias. As tradicionais festas dominicais se dividem entre antes e depois do almoço. E é preciso pesar esse antes e depois para não incorrer em pré-julgamentos, pré-conceitos.
>> OPINE: Você concorda em acabar com a venda de álcool nos salões paroquiais?
Todos sabemos, todos já fomos, todos já curtimos, todos repetiremos: os almoços paroquiais têm o agradável e (por que não?) saudável hábito de oferecer vinho gratuitamente aos convivas. O preço do vinho, óbvio, está incutido no preço do almoço. Você bebe se quiser. Geralmente são oferecidos moscatéis e bordôs, vinhos de mesa que harmonizam satisfatoriamente com agnolini, galeto, pão, churrasco, piem, crem e outros acepipes coloniais preparados pelas diligentes mãos de voluntários.
Não há indícios de que alguém se embriague nesses almoços, pois o mote é outro. Os almoços paroquiais existem para confraternizar, para os vizinhos se reverem, para comer comida boa, para bebericar um vinho colonial, enfim. Precedidos de concorridas missas, os almoços ainda são ímã que atrai a comunidade. Naturalmente, os almoços também são importante fonte de recursos das paróquias. Manutenção, reformas e obras são viabilizadas nas igrejas e nos salões paroquiais graças ao dimdim arrecadado nos almoços.
Via de regra, a turma que almoça se despede depois do rifon, depois do café com bolacha. Ato contínuo, o salão é limpo, os mesões coletivos desaparecem, o cenário é preparado para outro público. É meio da tarde quando começam a chegar os frequentadores da reunião dançante, da domingueira, do bailão, seja lá que nome se queira dar. Não há vinho grátis, e o dinheiro obtido com a venda da bebida forra a gaveta da paróquia igual o almoço de horas antes. Diferentemente dos almoços, há episódios de embriaguez, brigas, etc.
É essa tradição que a Igreja Católica condena: obter recursos mediante venda de álcool. Talvez um dia, tempos atrás, as domingueiras tenham cumprindo função social semelhante aos almoços.
O debate posto na mesa é fruto da época que vivemos. Venha o que vier, precisamos admitir que a Igreja é corajosa ao se posicionar como se posicionou.
Opinião
Gilberto Blume: Igreja Católica demonstra coragem e atitude
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