Diariamente, dezenas de aves são atraídas pelo lixo do aterro sanitário em Rincão das Flores, entre Caxias do Sul e São Francisco de Paula. O agravante é que a Central de Tratamento de Resíduos está dentro da provável Área de Segurança Aeroportuária (ASA) do futuro aeroporto de Vila Oliva.
Revoadas de urubus e outras aves são rotineiras sobre os entulhos e no entorno, o que amplia a possibilidade de um pássaro cruzar a rota de um avião e provocar uma tragédia durante pousos e decolagens se o aeroporto sair do papel.
O risco se deve à proximidade entre a central e a área demarcada para receber o terminal de cargas e passageiros. A legislação federal determina uma distância mínima de 10 quilômetros dos aterros sanitários em relação aos aeródromos que operam por instrumentos. Essa é a extensão aproximada entre Rincão das Flores e o terreno em Vila Oliva. Outras atividades que podem atrair bichos como matadouros e lixões não podem ficar a menos de 20 quilômetros.
A mesma legislação, porém, exige controle rigoroso sobre a fauna nos aterros sanitários para prevenir colisões em fuselagens, turbinas e janelas, situações também conhecidas como bird strike.
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), quase 90% das colisões com aves acontecem a até 3 mil metros de altura, perto dos aeroportos e durante o dia. Somente em 2011, foram reportados 1,5 mil casos no Brasil. Boa parte dos animais invadiu o caminho de aviões grandes ou pequenos por conta de lixões clandestinos ou aterros sem controle nas imediações.
Em 2012, um avião da Azul bateu em um pássaro ao decolar do Aeroporto Hugo Cantergiani, em Caxias, obrigando a tripulação a descer em Porto Alegre. Uma das colisões mais rumorosas no mundo provocou o pouso forçado de um avião da US Airways com 155 pessoas no Rio Hudson, em Nova York, em 2009.
Não haveria motivo para preocupações se o aterro sanitário estivesse fora da abrangência da ASA. A Central foi inaugurada em 2010, um ano antes da confirmação do distrito como sede do novo sítio aeroportuário da Serra. Entretanto, estudos realizados ainda no início dos anos 2000 já apontavam a comunidade como ponto mais adequado para construção de uma pista para cargas e passageiros.
O ex-diretor da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) Nério Susin reforça que a decisão de levar o lixo doméstico produzido em Caxias para Rincão das Flores foi baseada em questões de logística e economia. Caso contrário, o município seria obrigado a transportar os resíduos orgânicos para outros cidades. Susin não lembra de estudos apontarem a distância entre o aterro e o futuro aeroporto.
- Poderia ser pior. Queriam abrir o aterro em Vila Oliva, mas a ideia foi abandonada. Na época, existia a perspectiva de instalar um aeroporto, mas nada definido. Entendo que a lei faz previsões para lixões, mas o Rincão das Flores é controlado, tem sistema de tratamento, não tem lixo a céu aberto. Não havia outro local para aterro em Caxias - garante Susin.
De fato, a Central de Rincão das Flores é controlada e tem plano de manejo, mas ainda assim é infestada por urubus, além de receber ocasionalmente bandos de outras espécimes, conforme o Pioneiro constatou. Outro problema são criadouros de gado e lavouras, também considerados focos de atração.
O secretário do Meio Ambiente, Adivandro Rech, discorda. Segundo ele, a presença de aves é pequena no aterro, com maior participação de gaviões:
- Urubus são problema, mas gaviões não. Também não é um aterro que fica com lixo exposto em grandes áreas, se reduz a frente de trabalho todos os dias. Vamos esperar o aeroporto sair do papel e avaliar lá adiante como serão os procedimentos.
Alerta
Aves estão no caminho do futuro aeroporto de Vila Oliva, em Caxias do Sul
Aterro sanitário fica dentro da provável área de segurança aeroportuária e atrai bandos em busca de comida
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