Ele poderia se chamar Santo Antônio, Santa Catarina ou mesmo São José. Só que o hospital idealizado pela Associação das Damas de Caridade em Caxias do Sul, há exatos 100 anos, acabou por homenagear a mãe de Jesus com um título dado por italianos no início do Século 19: Nossa Senhora do Rosário de Pompéia.
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São raros os registros históricos que revelam como e porque o nome foi escolhido para batizar a instituição. De acordo com o padre Claudio Pezzoli, capelão do Pompéia desde 2009, na época em que a Associação das Damas surgiu, o culto a Nossa Senhora do Rosário de Pompéia era muito forte entre as famílias dos italianos que povoaram a cidade.
Há quem diga, inclusive, que nos navios que traziam os imigrantes para o Brasil havia missionários que pregavam a devoção à santa.
- Sabemos também que várias famílias viajavam à Itália e voltavam trazendo quadros ou imagens da santa para Caxias. Assim, a devoção se espalhou por aqui também - conta o padre.
Isso explica a existência de outras igrejas que homenageiam Nossa Senhora do Rosário de Pompéia na região, como a paróquia de Galópolis, idealizada em 1902 e concluída em 1947, e o santuário mariano de Pinto Bandeira, inaugurado em 1902.
Falecida em 2002, dona Paulina Moretto, ex-presidente da Associação das Damas de Caridade, mais tarde transformada em Pio Sodalício Damas de Caridade, revelou à historiadora Tânia Tonet pistas de como foi escolhido o nome do hospital.
Em um trecho do depoimento, publicado no livro Em presença do Tempo, dona Paulina diz que as damas fizeram uma pesquisa junto à comunidade para decidir o nome da futura casa de saúde: "Na época, a maior parte da comunidade era descendente de italianos e a devoção à santa estava muito presente".
Uma demonstração dessa ligação dos caxienses com Nossa Senhora do Rosário de Pompéia está presente na parede junto aos elevadores do bloco anexo, na Rua Marechal Floriano. A gravura, que traz Maria ladeada por Santo Domingo e Santa Catarina de Siena, veio da Itália em 1875 e foi doada pela professora Suely Bascú, ex-dama que morreu em 1999.
Amiga de Suely, Maria Joana Spiandorello Gaio, que também integra o Pio Sodalício, recorda que o quadro ficava sobre uma cômoda na residência da família Bascú, formando uma espécie de oratório. A ligação da família com a santa, aliás, transcende o quadro doado ao hospital. A avó de Suely, Mariana Bascú, cuidou durante muitos anos de um capitel localizado na Rua Matteo Gianella.
A capelinha, que ficou conhecida mais tarde como Capitel da Mariana, foi tombado pelo patrimônio histórico do município em 2002. A construção, conforme registros históricos, também era dedicada a Nossa Senhora do Rosário de Pompéia. A pequena imagem que habitava o interior do capitel teria sido trazida do Tirol pela família de Giovanni Michele, vizinho e compadre de Mariana, que teria construído a capelinha em retribuição a uma graça alcançada.
Hoje, o que resta no terreno é apenas um capitel depredado. Padre Claudio também observa que as damas do Pio Sodalício certamente se identificavam com Maria, já que se preocupavam em socorrer os pobres. Além disso, a história de devoção a Nossa Senhora do Rosário na cidade de Pompéia também está ligada a obras de caridade (veja quadro).
Capela
Quadros com a imagem de Nossa Senhora circulam há bastante tempo no hospital. Uma foto da década de 1940 já mostra o objeto sobre o altar de uma pequena capela de madeira, cuja localização não é certa. Sabe-se que o bloco central, inaugurado em 1940, contou com uma capela apenas em 1948. Assim, a imagem pode retratar a capela do primeiro prédio, de madeira, aberto em 1920.
A atual imagem de Maria, esculpida pelo artista Michelangelo Zambeli, foi idealizada sobre as nuvens, também ladeada por Santo Domingo e Santa Catarina de Siena. Recentemente, a obra passou por um restauro, por ocasião das comemorações do centenário do Pompéia. Parte dos recursos para a obra vieram de um comendador português muito rico que estava no Rio de Janeiro e era conhecido por ajudar em obras de caridade.
O fato é lembrado por Maria Emília Pezzi Portela, a dona Lilinha, em relato à historiadora Tânia Tonet no livro Em Presença do Tempo. Como ela e as damas Ignês Parolini Thompson e Angelina Sassi Comandulli conseguiram uma parte do dinheiro, passaram então a visitar igrejas cariocas para ter uma noção de como fazer o altar em Caxias. "Visitamos várias igrejas e, numa delas, lá no Leme, encontramos um altar que era dedicado à Nossa Senhora do Rosário. Encontramos a imagem flutuando nas nuvens, pelas janelas entravam raios de sol. Como era lindo! Aquilo ficou gravado na mente. Aí, pedimos permissão ao bispo e tiramos fotografias. Trouxemos a ideia e entregamos a responsabilidade de fazer a imagem ao escultor Michelangelo Zambelli", diz o depoimento.
Batismo
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