Ao meio-dia do dia 25 de abril, cheguei ao Centro Obstétrico (CO) do Hospital Pompéia para conhecer como é a rotina da unidade. A ideia era ficar até a meia-noite, tempo suficiente para acompanhar alguns partos e o primeiro atendimento aos bebês. Vesti o uniforme verde claro, a touca e entrei toda faceira para conhecer a equipe.
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para os 100 anos do Hospital Pompéia
Desde a madrugada, alertaram-me as técnicas de enfermagem, não havia nascido nenhuma criança. "Tu é pé frio. Isso aqui tá uma calmaria irreconhecível", brincavam comigo. Elas sabiam o que diziam: nos dias mais corridos, o CO chega a fazer 11 partos. Ignorei a previsão e fiquei na torcida. Cada vez que a campainha lá na frente tocava, eu pulava junto para ver se seria a minha chance de assistir ao meu primeiro parto normal. Mas a tarde passou, os plantões mudaram e nada acontecia.
Aborrecida, reclamei mentalmente da minha falta de sorte. Quando eu já pensava em ir embora, o relógio marcando 23h35min, o cansaço e o sono já batendo, ouvi gritos abafados vindo de longe. A campainha tocou a seguir. Uma gestante em trabalho de parto, 10 centímetros de dilatação, uma contração atrás da outra. Enquanto a moça gritava de dor na maca do consultório, lá nos bastidores as meninas preparavam a sala, vestiam aventais, deixavam tudo pronto para o acolhimento do bebê.
Em segundos, ela já estava na sala de parto, acompanhada do obstetra e de duas técnicas de enfermagem.
- Vamos, já estou vendo os cabelinhos do bebê. Não grite, faça força para ajudar o seu filho a nascer. Seja corajosa, menina! - ordenava o médico.
Trêmula e exausta, a jovem, sentada sobre uma maca, pés elevados por suportes e mãos agarradas a barras laterais, fez força mais uma vez quando a contração veio e empurrou a cabeça e o corpinho do filho para fora, às 23h40min daquela quinta-feira. Instantaneamente, suplicou para vê-lo:
- Meu Deus, mas é a cara do pai. Ele é lindo! - disse, tocando de leve o corpinho do filho.
- Como vai se chamar? - perguntou a enfermeira, já com o menino de 2,3 quilos e 44,5 centímetros no colo, todo protegido por lençóis azuis.
- Vai se chamar Isaac. Como na Bíblia - sentenciou.
Após um breve contato entre os dois, o menino seguiu para o acolhimento, onde foi atendido pelo pediatra, recebeu as pulseirinhas de identificação e teve o pé carimbado em um documento de identificação. Foram os primeiros instantes de vida de Isaac, o quinto filho de Cristiane Costa de Souza, 28 anos (foto abaixo), natural de Porto Alegre e moradora do bairro Desvio Rizzo há oito anos.
Parto cesário de gêmeos
Eu e o fotógrafo Porthus Junior estávamos no Pompéia fazendo algumas fotos quando encontrei uma das técnicas de enfermagem do Centro Obstétrico.
- Nossa, hoje o CO está numa agitação só...Tivemos vários partos e daqui a pouco teremos uma cesárea de gemelares. Não quer assistir? - convidou-me.
Minutos depois, lá estávamos nós, vestidos com a roupa verde clara, acompanhando tudo da porta da sala de cirurgia onde Venilda Garcia Werle, 35 anos, 33ª semana de gestação, iria dar à luz dois meninos: Wendell e Welligton. O parto foi antecipado (o normal é o nascimento ocorrer após 40, 41 semanas) porque Venilda teve pré-eclâmpsia e o desenvolvimento dos meninos estava muito desparelho.
Natural de Picada Café, a mamãe foi encaminhada a Caxias do Sul para tratamento e só não teve os bebês no Hospital Geral porque não havia leitos na UTI neonatal da instituição para receber as duas crianças. Assim, o destino se encarregou de unir o destino de Venilda ao Pompéia naquele 26 de abril. O primeiro a nascer foi Welligton, pesando 2,050 quilos, às 16h55min. Um minuto depois, a cabecinha de Wendell, 1,49 quilo, já era vista fora do útero materno.
Os meninos, que têm cabelinho ruivo e ainda se recuperaram e ganham peso na UTI neonatal, são visitados pela mamãe dia sim, dia não. E em breve, vão fazer companhia à maninha Raven, quatro.
- Foi estranho ter de deixá-los no hospital depois do parto, mas estou feliz que eles estão bem e que tudo deu certo - contou Venilda.
Fotos: Porthus Junior, Agência RBS