Muita gente gosta de dizer que nada na vida acontece por acaso. Para a estudante Ketllin Natalina Moreira, 23 anos, esse dito cai como uma luva. No jornal, a mãe dela, Marcia Rodrigues, 43, leu que as inscrições para o projeto Pescar do Hospital Pompéia, se encerrariam no dia seguinte e encorajou a jovem a participar.
No audioslide abaixo, a trajetória da estudante no projeto Pescar
Na época, então com 18 anos, seria a última chance da jovem, nascida no Pompéia no dia de Natal, fazer o curso gratuito. Depois da correria para juntar os documentos, Ketllin fez a prova, mas não foi chamada de imediato. Ela ficou na lista de espera, aguardando que algum candidato desistisse.
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para os 100 anos do Hospital Pompéia
- Faltavam poucos dias para a aula começar e eu nem tinha mais esperança de conseguir uma vaga. Mas então a orientadora me ligou e disse: "vem fazer a prova do jaleco e pegar o material que tu vai começar a estudar. Uma menina desistiu". Foi a minha grande chance - recorda Ketllin.
Foram 10 meses de curso no turno inverso ao da escola, intenso aprendizado, novas amizades e portas que se abriram para o futuro.
- Eu vi no Pescar a oportunidade de fazer um curso gratuito numa área que eu já tinha interesse, a administrativa. E foi muito mais do que eu esperava. Mas o principal é que consegui desenvolver muito meu lado pessoal, aprendi a ser mais simpática, a dar um bom dia a alguém e ver que não cai nenhum pedaço. Foi ali que amadureci para a vida - acredita.
Concluídos os estudos, Ketllin fez estágio na escola de enfermagem do Pompéia. Ficou um ano na biblioteca, engatando na sequência uma contratação de seis meses na recepção e mais dois anos no setor financeiro. Há um ano e três meses, ela trabalha como estagiária de logística na Eaton.
- Algumas pessoas só te veem como uma pessoa carente quando sabem que tu participou do Pescar. Mas outras te enxergam como alguém que aproveitou uma grande oportunidade de ingressar na empresa onde que tu fez o projeto. E foi isso que eu vi. Saí de uma escola com 30 funcionários para uma empresa que tem 600 colaboradores. Ali eu percebi a diferença de ter um bom relacionamento, conteúdo que o curso me proporcionou - acredita Ketllin.
Mesmo não sendo mais aluna nem funcionária do Pompéia, Ketllin ainda mantém laços com a instituição. A cada três ou seis meses, ela atua como mestre de cerimônia em formaturas do curso técnico de enfermagem do hospital.
- O pouco de vergonha que eu tinha, perdi depois de concluir o curso do projeto Pescar. Até hoje o pessoal me liga e pergunta quando vou visitá-los, quando vou aparecer para tomar um café - conta.
Além do trabalho, Ketllin diz que os ensinamentos que aprendeu no curso estão lhe servindo também para o ensino superior. Estudante de Administração na Universidade de Caxias do Sul (UCS), ela encarou o Pescar como uma faculdade a curto prazo:
- Conheci de tudo um pouquinho, na teoria e na prática, do financeiro até palestras sobre saúde e almoxarifado do hospital. Tudo teria sido muito mais difícil se não tivesse participado do curso.
E em um belo dia, ao organizar seu material do antigo curso do Pescar, Ketllin encontrou escritos do projeto de vida que havia feito naquele distante 2008. E ficou feliz com o que tinha consegui concretizar: terminar o magistério, concluir o curso do pescar e trabalhar.
- Vi que todas as etapas estavam acontecendo, seguindo conforme o planejado. Só tem uma que acho que vou acabar pulando, que é a de concorrer a Rainha da Festa da Uva. Até agora tá difícil, pois o patrocínio não tá fácil. Mas é o meu grande sonho - afirma.
Quem sabe não surge alguém disposto a ajudar, Ketllin? Mas preciso se apressar. As inscrições terminam na quarta-feira.
Personagem da série
100 anos do Hospital Pompéia: projeto Pescar mudou a vida de Ketllin Natalina Moreira
Foram 10 meses de curso no turno inverso ao da escola, intenso aprendizado, novas amizades e portas que se abriram para o futuro
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