Ela nasceu na Áustria, mas pode se tornar em breve a primeira santa católica com alma gaúcha e porto-alegrense. O Vaticano confirmou, há poucos dias, que a freira Bárbara Maix, fundadora da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, será beatificada, um dos últimos passos para se transformar em santa.
A celebração oficial já tem data marcada. A festa para a austro-gaúcha ocorrerá no dia 6 de novembro, no Gigantinho, na Capital. Segundo a vice-diretora do Imaculado Coração, Amélia Thiele, o início do processo de canonização começou há 20 anos, quando a irmã Gentila Richetti entrou com o pedido no Vaticano. A história de Bárbara, no entanto, é secular.
Perseguida na Europa, ela e outras religiosas se refugiaram no Brasil. Desembarcou com 30 anos no Rio de Janeiro, em 1848, e um ano depois já assumia a educação de jovens. Sua fama de educadora e protetora de órfãos, mulheres e pobres se espalhou pelo país.
Convidada a assumir um asilo em Pelotas, expandiu a congregação, a primeira feminina no Estado. Bárbara se mudou para Porto Alegre, onde acolheu as crianças da Roda dos Expostos da Santa Casa - onde mães deixavam filhos recém-nascidos rejeitados. Fundou o Instituto Providência, que ainda funciona no Centro. Da Capital, por 14 anos, comandou asilos, orfanatos, pensionatos e escolas da congregação pelo Estado. No fim da vida, voltou ao Rio para assumir a sua última missão. Morreu em 1873, aos 55 anos.
Mais de 80 anos depois de sua morte, seus restos mortais foram trazidos a Porto Alegre, cidade que amava. Num dos antigos hospitais do Imaculado Coração ocorreu o milagre que levou a madre à beatificação. Um menino de quatro anos que teve o corpo completamente queimado num acidente teria sido salvo pela luz divina de Bárbara. O milagre atribuído a ela ocorreu há 66 anos e passou por uma bateria de análises teológicas e médicas até ser referendado pelo Vaticano.
A beatificação confirmada pelo papa Bento XVI movimentou todas as unidades espalhadas pelo Brasil e por outros oito países. Na sede da congregação, em Porto Alegre, o trabalho de preparação para a festa já começou.
- Estamos emocionadas por esse reconhecimento. Seguir espiritualmente essa mulher que tem uma história que fascina a todos é maravilhoso - afirma a irmã Amélia.
"Sou o menino do milagre", diz homem que conheceu a beata
Na noite 10 de julho de 1944, um acidente doméstico mudou a vida da família Ecker, de São Sebastião do Caí. Onorino tinha quatro anos e se aquecia com os irmãos próximo ao fogo, quando uma panela de água fervente caiu sobre ele. No hospital, os médicos desenganaram a família. Uma das irmãs do Imaculado Coração de Maria, porém, começou uma novena com os parentes da criança, invocando a intervenção divina de madre Bárbara Maix. Quinze dias depois, o menino deixou o hospital, curado. ZH falou por telefone com Onorino, um aposentado de 69 anos que mora em São Lourenço do Oeste (SC):
Zero Hora - O senhor se lembra do acidente?
Onorino Ecker - Fiquei com queimadura de terceiro grau. Tentavam colocar curativo, mas a pele e as unhas caíam. Meus pais andaram 15 quilômetros comigo num lençol até chegar ao hospital. Os médicos desistiram de mim, mas uma das irmãs fez uma novena para madre Bárbara e saí 15 dias depois. Só fiquei com problema no pulso. Foi um milagre.
ZH - O seu caso ficou famoso na região?
Onorino - Fiquei conhecido como o menino do milagre. Toda a vila e a cidade souberam. Hoje, meus filhos e netos são devotos. Tempos depois, a irmã Gentila Richetti (postuladora da causa de beatificação) me procurou para pegar os documentos e recontar a história para confirmar o milagre.
ZH - Como soube da notícia da beatificação? O senhor virá a Porto Alegre na celebração?
Ecker - As irmãs já me convocaram. É uma imensa alegria ter sido a peça principal para isso. Sempre rezei por ela e sou grato por tudo que ela me deu. Estou no lucro. Em novembro estou aí.
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Milagre de religiosa que nasceu na Áustria mas viveu no RS é reconhecido pelo Vaticano
A festa para a austro-gaúcha ocorrerá no dia 6 de novembro, no Gigantinho, na Capital
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