Não é mais algo comum entre os clubes brasileiros a disputa de jogos amistosos na preparação para o início da nova temporada. O calendário apertado e a ampla reformulação no elenco fizeram com que os testes da pré-temporada se resumissem a jogos-treinos, sem presença de público, por vezes fechado até para a imprensa, justamente para que os técnicos tenham menos pressão em observar o elenco que está à sua disposição.
Por isso, o Juventude saiu da rotina com a confirmação de uma partida amistosa diante de uma das potências do futebol sul-americano, o todo poderoso Boca Juniors.
Mas o que alguns torcedores não sabem é que até o Verdão foi pego de surpresa pelo convite vindo da Argentina e que reconhece o bom trabalho realizado no Estádio Alfredo Jaconi, especialmente nas últimas duas temporadas.
— No primeiro momento, eu não achei que fosse verdade — admitiu o diretor-executivo de futebol alviverde, Júlio Rondinelli.
Do trote ao luxo
Numa noite em que a direção alviverde e o técnico Fábio Matias jantavam e ajustavam detalhes da pré-temporada, uma ligação pegou todos de surpresa. Mas ela não vinha da Argentina. Uma pessoa se fazendo passar por Dorival Júnior, o técnico da Seleção Brasileira, queria falar com Matias.
Alguns dirigentes então tomaram a iniciativa da conversa e viram que passava apenas de um trote.
Dias depois, um novo telefonema pegaria a todos de surpresa. Um empresário querendo saber a disponibilidade do Juventude em enfrentar o Boca Juniors em uma partida amistosa.
— Eu recebi a ligação de um sujeito que eu não conhecia. E o Adami (vice de futebol) também. O Adami recebeu a ligação e não atendeu, e eu atendi. No primeiro momento, eu não achei que fosse verdade. Aí eu falei, jogo com o Boca, mas quem é você? Como você chegou até mim? — questionou Júlio Rondinelli, que completou:
— Ele falou que pegou meu contato com fulano de tal. Mas por que o Juventude, questionei. A resposta era que o Juventude estaria próximo, dentro de um raio, de uma quilometragem que eles teriam condição de arcar com as despesas como o voo e também não ter muita distância, pois todo mundo está em pré-temporada.
Percebendo que, desta vez, não era um trote, e sim de um empresário de Curitiba que faz este elo para promover eventos esportivos em meio ao período de pré-temporada, Rondinelli passou a ligação para Almir Adami. E o vice de futebol do Verdão se encarregou de ver os detalhes do acordo, que levou quatro dias para ser assinado.
No contrato estabelecido, o Boca Juniors ficou responsável pelas despesas da delegação alviverde.
— O Juventude não terá despesas, só os organizadores. Há um investimento significativo. Você tem 80 mil dólares de um voo, uma concentração, um deslocamento. O investimento é grande, só que a gente já percebeu que pela divulgação e a repercussão, o evento se paga por si só.
Sendo assim, a partida foi confirmada para quarta-feira (15), às 20h, no Estádio San Nicolás, em San Nicolás de Los Arroyos, província de Buenos Aires, há cerca de 240 quilômetros da capital argentina.
O que atraiu filas de torcedores argentinos nos arredores do estádio. Alguns chegaram a acampar e ficar mais de 48 horas na espera por um ingresso. O estádio estará lotado, mas não terá, segundo o acordo, a presença de torcedores do Juventude nas arquibancadas. Os jaconeros poderão assistir pela ESPN, que anuncia a transmissão tanto para os seus canais no Brasil, quanto para a Argentina.
— Estamos imensamente satisfeitos em promover este encontro inédito entre dois clubes tradicionais e que representam dois dos mais expressivos países do mundo do futebol. Tenho certeza de que será um grande jogo e espero que os apaixonados por esportes possam aproveitar ao máximo este encontro — destacou Israel Bodziack da Silva, parceiro direto da Proenter no Brasil, responsável pela promoção do evento.
Outro fato curioso é que foi o Verdão que propôs a data do jogo. O Juventude se programou para realizar dois testes durante a pré-temporada, para os dias 11 — quando enfrentou o Sindicato dos Atletas Profissionais do Rio Grande do Sul — e outra para o dia 15.
— Nós sugerimos no dia 15 porque é uma semana antes da estreia do Campeonato Estadual (contra o Ypiranga). Aí bateu, sincronizou e desenvolveu. O Adami, brilhantemente, fez esse desenho junto com o organizador. Fazer um jogo contra o Boca Juniors, mas também não vamos olhar ele de baixo pra cima, vamos olhar ele de igual. Fazer um jogo bom também, mostrar o nome do Juventude no cenário sul-americano, o nome da cidade e tudo mais — finalizou Rondnelli.
Será o primeiro encontro entre Juventude e Boca Juniors na história. A última vez que o Verdão atuou contra um clube de outro país foi na festa comemorativa dos 100 anos, em 2013, diante do Nacional-URU. Vitória alviverde por 2 a 0, com gols de Diogo Oliveira e Bérgson.
— Jogar contra o Boca Juniors não tem como você não competir. Nos apresentamos praticamente na mesma data da equipe do Boca, as duas equipes vão estar no 100%. Nós estamos levando praticamente duas equipes mais um ou outro jogador para que a gente consiga fazer trocas de todos. A ideia também é controlar um pouco essa questão de volume de atletas, de volume de parte física — destacou o técnico Fábio Matias.