O ano era 2021. O Juventude disputava a Série A depois de 14 anos. Mas no elenco formado para a disputa do Brasileirão faltava uma peça capaz de comandar o meio-campo. Em 1º de julho daquele ano, o Verdão anunciou o volante Jadson. E pouco mais de dois anos depois, o jogador não apenas tem sido uma das referências da equipe como conquistou o respeito do torcedor alviverde.
Diante da Ponte Preta, nesta terça-feira (18), pela 18ª rodada da Série B, Jadson pisará nos gramados com a camisa do Ju pela centésima vez.
— Quando cheguei no Juventude queria voltar a praticar o futebol que me trouxe até aqui. Era uma retomada na carreira. Vir para um clube de tanta tradição no Brasil era uma oportunidade única. Eu lembro que na época o gerente do Ju, Marcelo Barbarotti, me ligou e perguntou se queria fazer parte do elenco. Prontamente aceitei, porque já tinha boas referências do clube — recordou o jogador.
Jadson chegou ao Alfredo Jaconi desacreditado pela passagem no Cruzeiro. Os dias eram difíceis na Toca da Raposa. A equipe mineira disputava a Segunda Divisão. E os problemas financeiros do clube ficavam cada vez mais evidentes.
— Pra mim, representava a volta do prazer em estar em campo, porque eu vivi dias muito tristes no Cruzeiro. Cheguei a pensar em não voltar na temporada seguinte, a tentar outra coisa. Estava muito triste com o futebol e é por isso que tenho tanto carinho pelo Juventude. Naquele momento, me sentia tão mal psicologicamente, e encontrei um clube que me abraçou.
Natural de São Bernardo no Maranhão, Jadson mudou-se muito cedo para Brasília. Seus pais ainda moram na capital do Brasil. O futebol foi o responsável por fazer com que os pais José e Francisca, mudassem de vida.
Números de Jadson pelo Ju
:: 99 jogos
:: três gols e cinco assistências
:: 22 vitórias, 32 empates e 45 derrotas
:: duas expulsões
— Futebol sempre foi aquilo que sempre tive prazer em fazer desde pequeno. Inclusive, desde os 13 anos moro fora de casa, não tenho um contato diário com meus pais. Meu pai sempre me apoiou desde cedo, me levava aos jogos e me cobrava também. Até por isso hoje sou mais rígido comigo mesmo. E deu tudo certo. Consegui ter uma projeção como jogador profissional, pude dar um conforto à família — apontou Jadson que ainda revelou ter ajudado na formação das duas irmãs:
— Tenho duas irmãs, uma veterinária outra fisioterapeuta, graças ao futebol. Como a maioria dos jogadores, vim de uma família humilde. Fazer uma faculdade naquela época era muito difícil. O futebol nos proporcionou sair de uma vida de dificuldades, consegui formar minhas irmãs. Hoje tenho três filhos (Davi, 9 anos, Isabella, 5, e Giovanna, de seis meses) que vão ter a oportunidade de construir suas famílias e dar condições de vida para meus netos.
Bastidores de Jadson no Alfredo Jaconi
Jadson não chama atenção apenas pela regularidade nas atuações com a camisa 16 do Ju. Afinal o jogador entrou em campo em 27 das 29 partidas do clube em 2023. Nos bastidores do CT alviverde, o atleta de 29 anos é querido não apenas pelos companheiros de equipe, mas também pelos funcionários. Como é o caso da Dona Maria. Responsável pela limpeza e organização do café no refeitório dos atletas, a "Tia", como é conhecida no clube, não esconde o carinho pelo volante.
— O Jadson aqui é nosso bebê. É muito comportado. Um menino alegre, sempre em alto astral. Esse menino aqui não costuma aprontar. Amo como se fosse o meu filho. Como se tivesse saído de mim — revelou ao abraçar e beijar a testa do jogador. Jadson se surpreendeu pelas palavras e completou:
— A Tia Maria é praticamente uma mãe pra mim. A gente passa mais tempo juntos do que com as próprias famílias. Eu gosto de estar aqui. Por isso chego cedo. Gosto de estar nos bastidores do clube, com a Dona Maria, com a rapaziada da rouparia. Não tomava chimarrão, agora eu tomo. Aprendi um pouco da cultura do Sul. Não é só o jogo ou treino pra mim. Eu gosto de estar aqui dentro.
100 jogos nesta terça
Ao entrar em campo, no gramado do Moisés Lucarelli, Jadson vai completar seu jogo de número 100 pelo Juventude. É o atleta que está há mais tempo no clube. E, ao lado de Jean Irmer, o único remanescente do elenco de 2022.
— Eu fico feliz e ao mesmo tempo tenho a responsabilidade em adaptar e mostrar aos atletas que aqui chegam como funciona o clube. Como é sua característica e essência. E formamos neste ano um grupo de muita qualidade, de caráter e isso tem se refletido dentro de campo. É difícil a gente ter um rebaixamento como foi o do ano passado. Vínhamos de tantas expectativas depois de um 2021 tão bom. Quis continuar aqui porque, mais importante do que os 100, 150 jogos é a gente voltar a estar entre os melhores do Brasil — destacou.
Além do rebaixamento, conviver com atletas acusados de manipular jogos da Série A do ano passado não foi uma tarefa simples para alguém que, como Jadson, sempre prezou pelo trabalho e honestidade.
— Chateado pelas coisas que aconteceram, pelo tanto que nos sacrificamos para nos manter na Série A. Pelas pessoas que trabalharam aqui corretamente. Muitos atletas acabaram tendo uma redução salarial drástica pra esse ano, e foi o meu caso. E você pensa que às vezes podia estar jogando a Série A, com visibilidade maior. A gente não pode ser hipócrita e achar que todos aqui se sacrificaram no ano passado. Isso não é verdade. Sabemos quem são. E de resto, se as coisas não aconteceram não foi por falta de empenho nosso — apontou.
Quis continuar aqui porque, mais importante do que os 100, 150 jogos é a gente voltar a estar entre os melhores do Brasil
JADSON
E para cicatrizar a ferida aberta em 2022 Jadson cita o jogo final do Brasileirão de 2021 como referência:
— A reta final do campeonato foi muito importante. E o jogo que marca bastante, não apenas a mim, mas aos funcionários, foi a partida final contra o Corinthians. Vencemos e nos garantimos na Série A por mais um ano. Nosso objetivo é continuar performando bem pra conseguirmos resultados. Muito em virtude da essência implantada após a chegada do Carpini. Com uma forma diferente de marcar, pressionar e de se comportar dentro de campo. Nos colocou num caminho que a gente deveria estar há muito tempo.
Times com mudanças
Para seguir na linha dos clubes que almejam o acesso, o time alviverde vai mudar para enfrentar a Ponte Preta. Reginaldo retorna de suspensão. Com isso, o jogador deve atuar mais à frente, fazendo dobradinha pela direita com Dani Bolt. Mandaca e David continuam fora. E no ataque, Victor Andrade e Ruan disputam uma vaga. A formação com dois camisas 9 não funcionou como imaginava o treinador diante do ABC e deve ser desfeita.
Certo mesmo é que Jadson estará no meio-campo. Não importa mais qual função vai exercer. Uma vez que, desde o início da temporada, o atleta tem se colocado à disposição em qualquer uma das posições do meio. Tudo por uma causa maior.
— Confesso que futebol é a única coisa que me dá prazer. Tirando minha família, só penso em futebol. Se depender de mim serão mais 200 jogos. Gosto de fazer parte deste ambiente. Espero que a gente possa atingir muitas marcas e estar na Série A. Tenho prazer de estar aqui todos os dias e isso é maior do que qualquer conquista.
Já na Ponte Preta, o técnico Felipe Moreira volta a contar com o zagueiro Fábio Sanches e com o volante Felipe Amaral, que cumpriram suspensão na derrota em casa para o Tombense, por 1 a 0. Mas o comandante alvinegro tem o desfalque de um velho conhecido da papada. O volante Matheus Jesus levou o terceiro amarelo e não estará à disposição.
Com 21 pontos, a Macaca está em 13º lugar na tabela. O Juventude, mesmo com o empate diante do lanterna na última rodada, subiu para a sétima posição, com 26.