No interior de Caxias do Sul, as estradas bucólicas de Santa Lúcia do Piaí desembocam numa propriedade rodeada pelo verde, que contrasta com o céu azul de uma manhã de sábado. O dono da propriedade, o fotógrafo caxiense Julio Soares, me dá as boas-vindas sussurrando, parece saber que está cometendo uma "infração". Logo percebo o motivo: a escapada dele para me dar o primeiro oi seria a última sentença em português que eu escutaria até o cair da tarde.
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Esse é justamente o propósito pelo qual estou na propriedade de Julio, para participar de uma imersão em língua inglesa. O Divers English Immersion é a mais nova proposta encabeçada pelo fotógrafo ao lado de uma equipe de parceiros. A ideia é reunir um grupo de interessados em praticar a língua de Shakespeare e promover um dia embalado por atividades divertidas, em que o objetivo principal é incentivar a perda da vergonha na comunicação oral. Afinal, por que temos tanto medo de nos expressarmos em outra língua? Eu mesma estava apreensiva com a ideia de participar do encontro. Estudo Inglês há anos, mas sempre rolam umas butterflies na barriga quando sei que terei que conversar exclusivamente falando uma língua que não é a que uso diariamente. Enfim, o medo foi passando assim que fui recebida pelo grupo alto-astral do Divers English Immersion.
No primeiro contato, tínhamos que nos apresentar e logo percebi que havia gente de diferentes níveis de speaking por lá. As duas jovens professoras presentes, Joice Ferreira e Leticia Eckhardt Hartmann, fizeram questão de tranquilizar todo mundo dizendo que estavam ali com o intuito de ajudar para que nós nos entendêssemos.
– A regra número um é "to have fun" – avisou Joice.
Logo saímos para a primeira atividade: uma caminhada até a Água Azul, um dos pontos turísticos do interior de Caxias. Fomos pelo interior da propriedade de Julio e de outras, atalhando o caminho enquanto apreciávamos a paisagem e tentávamos descobrir como falar em inglês o nome das frutas e legumes plantados por ali. Enquanto isso, fui tentando me enturmar com o grupo. Os primeiros com quem conversei foram o casal Loren Constante e Lidio Strelow. Eles já viajaram muitas vezes, já fizeram vários cursos de Inglês, mas, assim como eu, sempre sentiam certa dificuldade na hora de "sair falando" outra língua.
– É uma oportunidade importante, para tentar se sentir mais confortável ao falar, trocando ideia e conhecendo novas pessoas – comentou ele, que já morou na China por conta do trabalho na área de desing, na Marcopolo.
Lidio me diz que conseguiu desenvolver o Inglês lá fora, mas acabou ficando com um vocabulário muito técnico:
– Daí acabava não praticando as coisas mais comuns.
– Você só aprende mesmo falando e aqui podemos conversar sobre tudo – complementou Loren.
Chegando ao destino da caminhada, a professora Leticia compartilhou a história do riacho existente no local, que teria ficado com a água de cor azulada depois que o corpo do padre jesuíta Cristóvão de Mendoza foi jogado lá, em 1635. No retorno do passeio, puxei papo com o único estrangeiro do nosso grupo, e dono do inglês mais afiado. O neozeolandês Theo Bennett é esportista e trabalha em Caxias do Sul como técnico de rugby, o esporte mais tradicional da sua terra natal. Tímido, porém, super bem-humorado e receptivo, a presença do esportista no grupo acrescentou muito ao passeio.
– Acho que Caxias é como Nova York, se você sobreviver lá, sobrevive em qualquer lugar _ brincou o estrangeiro, citando a economia da cidade ainda muito ligada ao setor familiar.
Trabalhando em Caxias desde 2012, Theo parece ser uma dessas pessoas cheias de conhecimento para compartilhar. Além das conversas informais, ele ainda concedeu uma breve aula de rugby ao grupo – acompanhado do atleta caxiense Lucas Zandoná. Depois do momento esportivo, o cardápio do almoço não podia ser mais americano.
Convidado de Julio Soares, o chef André Tessari (da escola Sal a Gosto) aproveitou a imersão em inglês para relembrar a língua que aprimorou enquanto morava na Austrália. Puxando pela memória, ele ia lembrando o nome de todos os ingredientes, ervas e temperos que o grupo usaria para preparar o próprio almoço. Seguindo a regra de falar só em inglês e abocanhando um enorme hambúrguer com deliciosas onion rings, até parecia mesmo que a gente nem estava no interior do interior do Rio Grande do Sul.
Enquanto fazíamos a digestão, chegou o momento de tentar conversar mais. Foi quando me aproximei mais de Liciê Viapiana Leite, a participante mais jovem e extrovertida do grupo. Aos 20 anos, ela é atualmente atleta de vôlei na Florida e fala inglês fluentemente, claro. Mas logo avisa que o lugar não é bom para quem quer aprender inglês:
– Eles só falam espanhol lá.
Quando chegou no Estados Unidos, Liciê já entendia bem a língua porque, quando criança, era uma espectadora assídua da série Smallville. Mesmo com a timidez de estar entre estrangeiros, ela resolveu que iria soltar o verbo em Inglês até tornar-se fluente.
– Falei para mim mesmo, não vou falar português, mesmo estando com colegas brasileiros, quero falar só Inglês aqui. Foi assim que desenvolvi o vocabulário.
– Isso se chama foco – elogiou a professora Joice.
De fato, é preciso força de vontade para aprender (principalmente depois que já não somos mais crianças), mas o mais importante é entender que não há nada para se envergonhar se errarmos uma palavra, ou esquecermos de outra. E a tentativa em grupo é o que torna o Divers English Immersion tão especial.
– O que vale é a experiência de estar num ambiente onde todos estão falando em Inglês, onde ninguém vai rir se você cometer algum erro – disse a professora Leticia.
– Comecei com essa ideia porque eu mesmo sentia essa dificuldade de treinar a língua. Acho que tem tudo para dar certo, muitas atividade são possíveis, reunir grupos de empresas, ou só de adolescentes, enfim – animou-se Julio, que prepara uma nova edição do encontro para o próximo 15 de julho.
Programe-se
O quê: Terceira edição do Divers English Immersion.
Quando: dia 15 de julho, das 8h30min às 18h30min.
Onde: chácara a cerca de 45 minutos do centro de Caxias do Sul, em Santa Lúcia do Piaí. Em caso de chuva, há local para atividades internas.
Investimento: R$ 250 reais (pessoa), com três refeições e atividades inclusas. Se levar um acompanhante, o valor fica R$ 220.
Atividades: dinâmicas que variam de ações tecnicamente simples para expor os participantes ao inglês de forma natural até dinâmicas sensoriais, em grupo Informações: (54) 99972-8079 e www.facebook.com/diversimmersion
Inscrições pelo e-mail diversimmersion@gmail.com. Vagas são limitadas.