"O delírio do verbo estava no começo, lá onde a criança diz: eu escuto a cor dos passarinhos. A criança não sabe que o verbo escutar não funciona para cor, mas para som. Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira."
Assim como poeta Manoel de Barros, o grupo Parlapatões, de São Paulo, há 26 anos na estrada, também acredita na ressignificação das palavras. Por isso, em seu 62º espetáculo, traz a Caxias, neste sábado, Os Mequetrefe, escrito por Hugo Possolo, dirigido pelo gaúcho Álvaro Assad e protagonizado pelos atores Raul Barretto, Hugo Possolo, Fabek Capreri e Alexandre Bamba.
Na história, quatro palhaços que, não por acaso, se chamam Dias, vivem a jornada de um longo e divertido dia. Em situações cotidianas e banais, do acordar ao dormir, eles revelam a loucura incrustada em cada pequeno ato e desconstroem lógicas, revelando diferentes maneiras de encarar, construir e presenciar a realidade.
Raul Barretto, um dos criadores dos Parlapatões, explica como é feito esse trabalho de reconstrução das coisas:
– O palco é montado com dois objetos: barris e escadas, que ora se transformam em ônibus, ora em barco, ora em aviões, ora em automóvel. Assim a peça corre, criando novos significados o tempo inteiro. Tentamos pegar essas "coisas" e criar um novo significado ao bel-prazer delas.
Em situações bastante comuns, esses cidadãos nada convencionais provocam uma série de confusões tão hilárias quanto poéticas. O lúdico toma conta do palco e uma simples atividade com ir trabalhar pode ser feita tanto de trem quanto de navio, ou até de avião. O objetivo é voar, ressignificar em cima do palco e para além dele. O espetáculo, para todas as idades, tem um forte apelo infantil, pois procura trazer à tona, na criança, aquilo que ambos têm mais em comum: a ludicidade.
– Esse espetáculo é também para competir com os tablets e celulares aos quais as crianças estão o tempo inteiro interagindo hoje. Resgata a importância dos objetos, de se divertir com os amigos. Mostra como uma simples escada e um barril podem ser qualquer coisa, e a criança entende isso – explica Barretto.
O show pode também atrair os adultos, para resgatar a criança dentro de cada um:
– Nossa peça pede aos adultos que resgatem a infância, lembrem dos terrenos baldios onde brincavam, da genialidade que é ganhar os espaços públicos. De como eram capazes de ressignificar qualquer objeto. Levá-los de volta ao lúdico e tirá-los das clausuras do mundo moderno, dos escritórios, das casas. Retomar o seu espirito do palhaço de rua.
Programe-se
O que: espetáculo Os Mequetrefe
Onde: Teatro Pedro Parenti (Rua Dr. Montaury, 1.333), na Casa da Cultura
Quando: sábado, às 18h
Quanto: R$ 10 (comerciários), R$ 12 (empresários, classe artística, estudantes e idosos) e R$ 24 (público geral)