- Esse título aí vem desde 1971. Eu só tenho a agradecer a todos que sempre acreditaram, que vieram ajudar, vieram jogar. Meu pai não merecia, com um clube grande que a gente tem, que representa nossa comunidade, não ter um grande título. E não tinha conseguido ainda. Esse título é para o meu pai, é para nossa comunidade, nossos jogadores - disse o presidente.
Quem lê pode pensar se tratar de Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG, falando logo após ser campeão da Libertadores deste ano. A equipe mineira, desde a década de 1970, não conquistava um título de expressão. Mas não é.
O autor da declaração foi Jeferson Alves da Silva, o mandatário do Vindima, clube do bairro Pioneiro, em Caxias, emocionado ao fim da decisão do Campeonato Municipal de Futebol Amador de Caxias do Sul. O clube venceu o Áz de Ouro por 2 a 0, no Complexo do Enxutão, no sábado, sendo campeões da Série Ouro da competição. Os gols foram marcados por Chileno (foto) e do próprio Jeferson.
Bolão, como é conhecido, faz de tudo pelo time. Além de presidente, é gerente de futebol, tesoureiro, psicólogo, motorista e jogador, e tudo mais que for necessário. Aos 37 anos, dono de uma assistência técnica para celulares, é um típico boleiro: correntão prateado no pescoço, tatuagens nos braços e malemolência no andar.
Centroavante trombador, já atuou na base do Caxias, convivendo com jogadores como Washington e Rafael Baungarten. Também jogou futsal pelo extinto Enxuta, entre outros times. Hoje, tem fortes dores na coluna causadas por uma hérnia de disco e não deveria mais jogar. Porém, pelo Vindima, faz de tudo. Toma analgésicos fortes e, antes de cada partida, realiza todo um ritual de aquecimento da lombar.
- Só consigo jogar tomando morfina um pouco antes da partida e passando um spray nas costas - explica Bolão.
Mas, valeu a pena superar a lesão para participar decisão. Afinal, assumiu o clube há dois anos no lugar do pai, seu Jorge Alves da Silva, o Chorão, que foi suspenso após dar uma cabeçada em um árbitro, com uma missão clara: dar um título ao pai. E, para garantir o campeonato, assim como o pai, Bolão deu uma cabeçada, mas na bola, e para o fundo da rede.
_ Nós brigamos muito, mas ele merece muito esse campeonato. Ele não merecia passar a vida inteira sem isso. O problema é que meu pai é muito brigão. Fomos prejudicados em um jogo, ele não gostou e bateu no juiz. Aí foi suspenso, e eu assumi.
Chorão, junto com o irmão Adelar, o Tina, e outros amigos, criou o clube no início dos anos 1970 para representar a comunidade local. O nome do mais antigo clube em atividade no bairro, sem nunca ter parado de atuar, surgiu dos jogos que os amigos realizavam pelo interior da Serra, com as festas das colheitas da uva, as Vindimas.
- O clube é tão importante que até a linha de ônibus que passa aqui pelo (bairro) Pioneiro levou o nome do time. É a referência que nossos jovens têm. Se não tivesse o Vindima, eles não teriam onde jogar - conta Chorão.
Na disputa pelo terceiro lugar, o Fonte Nova goleou o Beltrão de Queiroz por 8 a 0.