O público com idade a partir dos 60 anos é considerado uma parcela importante da clientela no comércio de Caxias do Sul. Conforme o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 463.501 habitantes no segundo maior município do Estado, 83.169 têm mais de 60 anos (18% da população caxiense).
Nesta terça-feira (1º) é celebrado o Dia Internacional das Pessoas Idosas e Dia Nacional do Idoso. Por isso, na última sexta (27), a especialista em Mercado da Longevidade, Janaína Randon, foi a palestrante convidada do projeto Café com Ideias, promovido pelo Sindilojas, onde falou sobre o tema para os empreendedores da Serra. Janaína também conversou com a reportagem do Pioneiro e revelou algumas dicas para o atendimento a chamado público 60+.
— A gente precisa pensar no todo, como uma comunidade mesmo. O varejo, a indústria, o serviço, o turismo. A gente tem um potencial gigantesco para atrair os 60+. E precisamos olhar isso. E hoje, infelizmente, ainda nós não enxergamos e não ouvimos o público maduro — afirma ela.
Ainda sobre Censo de 2022, a especialista ressalta que houve apontamento de que o Rio Grande do Sul é o Estado brasileiro que tem o maior percentual de idosos. Além disso, a população com mais de 60 anos no Brasil quase dobrou em 12 anos, subindo de 8,7% para 15,6%.
Nina Randon, como é conhecida, destaca que o público 60+ tem dois perfis distintos: uma parte migrou com a tecnologia e sabe fazer compras online, mexer em aplicativos de bancos e incorporou o ambiente virtual ao dia a dia; já a outra ainda tem receio e opta pela compra ou orientação em ambiente físico. Em ambos os perfis, o empresário precisa ficar atento e adequar o atendimento para atingir a necessidade imposta pelo idoso.
Um dos exemplos de pessoa com mais de 60 anos que é ativa, física e virtualmente, é o caxiense nato César Bertolucci, de 62 anos. Ele participa do grupo Conviver do Bairro São Pelegrino, atividade desenvolvida pela Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (Smel). Lá, pratica exercícios físicos e conversa com outras pessoas, também com mais de 60 anos, integrando experiências.
— Eu sou um dos mais novinhos no grupo lá. E apesar de ser aposentado, não trabalhar mais, eu não me sinto um idoso. Não costumo usar as vagas de estacionamento para pessoas idosas, por exemplo, sou uma pessoa muito ativa ainda — relata Bertolucci, que nesta segunda-feira (30) estava curtindo uma viagem à praia com a esposa.
O morador do bairro Exposição em Caxias conta que é adepto à tecnologia desde 1986. É formado na área de Administração e trabalhou na empresa Eberle, onde teve o primeiro contato com computadores. Portanto, sempre teve acesso a softwares, como o atual Access. Diante dessa facilidade com o meio digital, prefere fazer compras online e relata que nunca teve problemas com as aquisições. Por isso, só procura loja física quando precisa de algo urgente. Diz que, apesar deste pouco contato físico com o comércio local, acredita que o empresário caxiense está bem antenado e proporciona atendimento de qualidade.
Comunicação e acessibilidade
Dentre os pontos que Nina pede atenção aos empreendedores é quando um cliente desta faixa etária entra no estabelecimento e se depara com um atendente mexendo no celular, e nem percebe que o consumidor precisa de ajuda.
E ressalta a importância de se humanizar o atendimento, tendo uma boa escuta e paciência. A especialista acredita que a comunicação é um ponto-chave, por isso, pede que os atendentes tenham cuidado com gírias, palavras comuns no meio jovem que não serão compreendidas por pessoas que não convivem nele.
Na parte física, não só aos idosos, mas para todo o público que precise de acessibilidade, ela chamou a atenção para que escadas e rampas dentro dos estabelecimentos tenham corrimão e faixas antiderrapantes, para facilitar a locomoção.
— Não se deve infantilizar a pessoa com 60 anos ou mais. Muitas delas têm, sim, limitações e precisam ser respeitadas. Porém, existem pessoas que são melhores, física e mentalmente, que muitos jovens por aí. Então, a estratégia é analisar cada caso e atender aquela característica do cliente que entrar na loja — exemplifica.
Nina também falou sobre a contratação de pessoas com 60+. Conforme ela, no Mercado da Longevidade é possível perceber que essas pessoas têm capacidade de retorno ao trabalho e podem agregar com a experiência. Ela observa que é um público mais responsável, o qual pode ser misturado com adolescentes para trocas com a agilidade na tecnologia.
Conforme Rossano Boff, presidente do Sindilojas Caxias, o público maduro tem maior poder aquisitivo e costuma comprar para consumo próprio, além de presentear familiares.
— O planejamento do empresário deve abranger desde o espaço físico destinado à acessibilidade do idoso, a abordagem, quando entra na loja, como o funcionário vai atendê-lo, até a comunicação direcionada nas redes sociais e meios de comunicação. Pensar o que meu cliente vê no dia a dia para que eu possa chegar até ele por este meio — orienta Boff.
Por ser proprietário de uma loja de calçados na área central de Caxias, cita como exemplo o próprio comércio. Na loja, que tem mais de um pavimento, há divisão de setores com locomoção por meio de escadas. Para atender ao público idoso, que muitas vezes tem alguma limitação, este cliente é atendido sempre no primeiro pavimento. Além disso, a loja sabe que uma parcela dos idosos busca um calçado que traga conforto e que possibilite vestir sem grande esforço. Por isso, o empreendimento mantém disponíveis opções. Um exemplo é um tênis em que é possível calçar apenas com o pé, sem a necessidade de curvar-se para usar as mãos. Boff acredita que estratégias como essas aproximam e fidelizam o cliente.
Além do evento Café com Ideias, do Sindilojas, Caxias do Sul já recebeu neste ano outras palestras direcionadas ao tema. Algumas foram oferecidas pela Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC). Confira:
- CIC Connection — palestra de Márcia Monteiro, com o tema Diversidade geracional e suas potências / os dois lados do balcão.
- Semana dos Núcleos — Conexões para fortalecer negócios: "Economia prateada", com Martin Henkel, da Senior Lab sobre mercado e consumo 60+
- Reunião-Almoço com o superintendente do Sesi/RS, Juliano Colombo Sesi, sobre transição demográfica.