Oportunidade de ajudar o Estado, atuar na retomada e receber pessoas e empresas. Esse pode ser um resumo do papel da indústria da Serra em meio a tudo o que o Rio Grande do Sul enfrenta. Embora também sofra com perdas de vidas e prejuízos enormes em diversos segmentos, todos afetados direta ou indiretamente com os estragos da chuva, o setor não teve muitas plantas afetadas.
O posicionamento é do presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC), Celestino Loro. À frente de um comitê de crise formado pela entidade e sindicatos patronais da região, ele projeta um cenário de muita dificuldade até restabelecer acima de tudo a malha viária local, mas também vê o momento como uma possibilidade de a região contribuir para o abastecimento de diversas cadeias gaúchas nos próximos meses.
— A cada fase da tragédia, nós precisamos da dosimetria certa de remédio para ir retomando a normalidade possível. E o papel que a indústria vai exercer na retomada econômica do Estado está neste planejamento. Dentro do mapa da tragédia, nós temos bases produtivas extremamente afetadas. A região metropolitana de Porto Alegre ainda embaixo da água. A região dos vales muito agredida. E a Serra, nessa geografia da tragédia, embora com dificuldades de acesso extremas, manteve a base produtiva preservada. Então, é também uma oportunidade de liderarmos esse processo, o resgate econômico do RS como um todo — salienta o presidente da CIC.
Nesse caminho, de acordo com Loro, os principais passos estão no entendimento do que pode ser fornecido em cada momento que surgir.
— Vamos ter muitas alternativas. Seja fornecer diretamente para as regiões afetadas, seja assumir etapas da produção que não podem ser feitas lá. Nós estamos preservados, felizmente. E temos de ter essa entrega, o senso de responsabilidade, entregando e gerando riqueza para todos — acredita.
Chegada de empresas e mão de obra
Um movimento esperado pelas entidades é a migração de trabalhadores e negócios para a Serra a partir da inviabilidade de outras regiões de atender as necessidades humanas e de mercado. A chegada de mão de obra e empresas de vários lugares do Rio Grande do Sul representa mais uma oportunidade de crescimento e acolhimento, fatores que são observados pela CIC Caxias com toda a atenção.
— As pessoas agora estão saindo do que chamamos de fase 2 da tragédia. Estão olhando o que aconteceu, a água baixou em algumas cidades, e vamos ver o que, efetivamente, aconteceu. A história nos mostra que grandes catástrofes geram esses movimentos migratórios, de reposicionamento geográfico. E uma região extremamente empreendedora que, felizmente, preservou as suas bases produtivas e que tem uma cadeia de suprimentos, de oportunidades muito forte, vai receber muita gente. Se não estendermos a mão, muitos vão desistir — conclui.
Operação de guerra para viabilizar o Estado
O primeiro passo para viabilizar uma retomada esperada por todos os gaúchos é retomar a logística de abastecimento pelas rodovias do Estado. Construção de pontes, restabelecimento de trechos rodoviários e realização de obras de contenção de encostas são algumas das frentes nas quais as empresas da Serra estão envolvidas.
Por meio da representatividade das entidades, o objetivo é buscar soluções que auxiliem os governos, que não terão verba para tantas demandas. Ruben Bisi, vice-presidente de Relações Institucionais do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul e Região (Simecs), ressalta a urgência de estabilizar as vias para garantir as principais necessidades do momento e, pela situação caótica, acelerar processos sem aguardar pelo Estado.
— O primeiro mote é de como salvar pessoas que estão ilhadas, sofrendo, como ajudar as pessoas. A segunda questão é de liberar todos os acessos que estão bloqueados ou fragilizados. Muitas obras vão ter de ser feitas sem olhar para o Estado. Tem de ser feito assim. Se nós vamos esperar pelas liberações, nem vai sair. Está tudo debaixo d’água. Agora, é uma operação de guerra — revela Bisi.
O executivo reforça o papel da Serra na condição de liderança em uma crise que já afeta todos os setores da economia. Para ele, indústria e demais segmentos têm as condições necessárias para ajudar o Rio Grande do Sul.
— Nós somos uma das regiões mais importantes do Estado, e todas as entidades são muito fortes aqui. Nossos sindicatos são fortes, e nós falamos que nós temos de liderar. Primeiro, essa questão de desobstruir os acessos, depois tentar trazer para cá alguma coisa que não se pode fabricar no resto do RS. E não como oportunismo, mas, sim, como uma forma de ser rápido, para depois vermos como fazer a reconstrução. Nós temos muitas fábricas de autopeças do país, os maiores fabricantes de implementos, os maiores fabricantes de ônibus. Precisamos preservar o nosso parque fabril e liderar essa retomada — pontua.