Fruto da visão de um grupo de empreendedores, o centro comercial que puxou a fila para a criação de shoppings centers em Caxias do Sul está completando 30 anos de atuação. Pioneiro em reunir gastronomia em uma praça de alimentação, lojas de vestuário, perfumaria e serviços, o Prataviera Shopping surgiu de uma necessidade de mercado no início dos anos 1990, surfou na tendência de ramificação de grandes lojas de departamento e contribuiu para a expansão do comércio caxiense.
Inaugurado em 29 julho de 1993, o shopping ganhou de imediato a simpatia da comunidade que lotou os corredores por meses a fio após a abertura e tomou a liberdade, com o passar do tempo, de inclusive reduzir seu nome e o apelidar. Chamado carinhosamente de "Prata" pelos caxienses, os dois prédios que ligam duas artérias da cidade, a Avenida Júlio de Castilhos e a Rua Sinimbu, recebe atualmente, segundo a administração, uma média de 10 mil pessoas.
Das atuais operações, que vão de tabacaria e salões de beleza a cursos de desenho e escola de enfermagem, o Prataviera Shopping tornou-se um ecossistema em permanente transformação diante das mudanças de hábitos de consumo. Em três décadas, foi sede de um curso pré-vestibular e de uma sala de cinema. Empreendimentos que criaram a atmosfera para fazer dos seus corredores ponto de encontro cativo e histórico da comunidade.
Prestes a completar 88 anos de idade, Ruy Prataviera participou ativamente da construção do prédio, inicialmente destinado a abrigar a loja de departamentos que levava consigo o sobrenome da família. Abrir espaços para que outras lojas e serviços explorassem o ponto central fez incluir no dicionário da cidade uma frase que enche de orgulho seus fundadores: “Nos encontramos no Prata”.
— Criamos um nome muito forte, uma relação com Caxias. Me lembro de um período que existia em Caxias dois pontos de encontros: a Estação Rodoviária e o Prataviera. Não é uma vaidade, é uma realidade. Esse prédio como conhecemos hoje foi construído só com dinheiro do caixa, sem financiamentos e sempre pensando no futuro — orgulha-se Ruy.
As rampas que dão acessibilidade à sua estrutura vertical, uma inovação à época por exemplo, se tornaram uma das marcas do shopping e símbolos da constante evolução do empreendimento que sempre se transformou com as operações de venda e serviços em andamento.
— É um shopping de vizinhança, de conveniência. Na inauguração, foi arquitetonicamente elaborado dentro do modelo da época. Quando foi aberto ao público, não existia rede social e a telefonia móvel dava os primeiros passos, então os encontros eram presenciais e muitos aqui. O Prataviera surge então como uma rede social, era o Facebook e o Instagram da cidade (na época) — analisa o diretor administrativo do shopping, Octávio Coelho Dozza.
Inovação
Antes de ser shopping, a estrutura de sete andares, sendo dois de estacionamento, abrigava uma única loja, o Comercial Prataviera. Lá era possível sair com o enxoval pronto de cama, mesa e banho e ainda adquirir roupas infantis, tecidos, confecções e armarinhos.
Construído por etapas na década de 1960 e conforme permitia o caixa da sociedade entre João Prataviera, José Mocelin, Francisco e Raymundo Alberti, o prédio foi desenhado originalmente para abrigar salas comerciais aéreas e, em nos últimos andares, os apartamentos dos diretores.
— Vendíamos muito para o interior, as pessoas vinham fazer os enxovais. Aos poucos desenvolvemos com o cliente a relação de ter tudo o que uma família precisa à disposição, mas quando começou a globalização e o mercado informal, vimos a concorrência se aproximar. Então resolvemos fazer uma transformação nesta área que era muito grande, com mais de 14 mil metros quadrados e 400 funcionários — recorda o presidente do Conselho Administrativo da empresa, Ruy Prataviera.
A grande loja se ramificou em comércios específicos dos artigos que vendia e passou a ancorar, em mais de um ponto, o recém-inaugurado Prataviera Shopping. Filho de Ruy, João Prataviera Neto, então 32 anos, viu naquela época o apartamento onde morou na infância se tornar escritório e a loja da família, onde cresceu, se multiplicar.
— A chamada para novos lojistas foi muito bem recebida. Essa necessidade de um novo modelo para o comércio já estava em ebulição. Então foi uma visão de futuro. O Brasil vivia um momento em que as grandes lojas de departamento estavam começando a se transformar em cadeia de lojas menores focadas em um público-alvo — relata João.
Diferentemente de outros shoppings já instalados nas capitais, o Prataviera foi idealizado a partir da união de dois prédios, o mais antigo, com a entrada pela Júlio de Castilhos, e outro mais contemporâneo, com acesso pela Sinimbu.
A galeria no primeiro andar possibilita a circulação das pessoas entre as ruas, mas era preciso atrair também os consumidores ao mezanino e aos andares superiores. A solução foi encontrada na instalação da Praça de Alimentação no terceiro andar e o cinema, que operou até o ano de 2004, no segundo andar.
— O princípio do shopping é de concorrência e colaboração. Todos disputam o recurso do cliente e ao mesmo tempo uma operação pode cativar o cliente que acaba aproveitando outro de outra loja. O Prataviera, que era referência comercial naquela época, abriu o espaço e transformou o empreendimento, trazendo uma série de marcas e apresentando um modelo de negócio inédito até então — resume Dozza.
Instalação de âncora foi divisor de águas
No fim dos anos 2000, o Prataviera Shopping já tinha uma variedade de produtos que agradavam a diretoria, mas o fechamento do cinema, em 2004, e a concorrência com outros shoppings que surgiram depois, criavam a necessidade de um novo empreendimento para atrair o público. Uma nova loja âncora estava na mira e, depois de uma série de negociações e adaptações do espaço, o empreendimento pôde então receber uma rede nacional: as lojas Renner.
— Nos faltava uma operação fixa. Tivemos desde a inauguração a Casa Prataviera, mas ficamos um período sem e fomos à procura. Foi quando encontramos a Renner, que tinha a intenção de abrir uma segunda operação na cidade — lembra Dozza.
A exigência da rede de lojas de vestuário e acessórios era que o espaço destinado a ela possuísse no mínimo 3 mil metros quadrados. A metragem não seria problema, segundo o administrador, mas era preciso realocar parceiros para abrir um espaço integral e receber a nova operação.
— Foi uma grande negociação no sentido de realocar parceiros da época que estavam no corpo onde hoje está localizada a Renner, para ter o espaço reunido. E foi feito em um período curto. Formalizamos em julho de 2007 e a loja foi inaugurada em dezembro. Foi feita uma revolução dentro do shopping, e, assim como em outras reformas, seguimos a operação, sem fechar o shopping — contou.
Desde lá, a Renner ocupa o primeiro e o segundo andares do Prataviera Shopping e tem acesso direto à praça de alimentação.
— Somou a grande atratividade da loja com o conhecimento que a população tem do shopping. Foi válido para todos os lados. Pra nós, em termos de fluxo de público e consolidação do empreendimento, foi um divisor de águas — considera Dozza.
E o Prataviera ainda tem para onde crescer. De acordo com João Prataviera Neto, um alvará de construção já está aprovado para a construção de cinco novos andares no prédio da Sinimbu. A expansão, segundo ele, tem projeto pronto e possibilitaria mais 40 salas comerciais.
Além disso, a praça de alimentação está sendo reformada e uma área para comodidade de saída de entregas de delivery está sendo adequada. A atração de um restaurante âncora em um dos andares também é estudada pela administração.
Desde o início com o "Prata"
Deixar a loja de rua e fixar ponto em um prédio comercial era uma experiência às cegas em Caxias do Sul até 1993, ano da inauguração do Prataviera Shopping. O modelo de negócio era visto apenas em capitais, mas confeitaria Doce Docê, já tradicional na cidade, com duas filiais na época, precisava embarcar na novidade e marcar presença no primeiro shopping de Caxias do Sul.
Esse foi o raciocínio da família Zanella quando instalou a sua quarta operação, que se mantém até hoje na Praça de Alimentação do empreendimento. Três décadas depois, a cafeteria conta atualmente com 15 lojas e, além de Caxias, está em Porto Alegre, Bento Gonçalves, Canoas e Florianópolis.
— Foi uma decisão inovadora. Há 30 anos, o shopping criou um novo produto. Naquela época, já tínhamos plano de crescimento e tivemos certeza de que o ambiente criado pelo shopping seria o local certo para estarmos instalados — lembra o sócio proprietário Gladimir Zanella.
Instalada à esquerda de quem acessa a praça pela rampa, o modelo de negócio da Doce Docê, com cafés, doces e salgados, lembra o que na década de 1950 já existia em um dos andares do Comercial Prataviera. Naquela época, a loja de departamentos já criara um espaço para convivência e pausa entre as compras, como em uma inovação para o período e embrião do que viria no futuro.
Estar instalado em pontos de grande circulação, mesmo que em ambientes internos, se tornou, desde a inauguração no Prataviera, estratégia da diretoria da cafeteria. Atualmente a marca também está presente em hospitais e redes de supermercado.
A multiplicação de negócios gerada pelo shopping se deu também ao lado oposto da cafeteria. Em 2002, Pedro Zanella, então sócio da Doce Docê, enxergou na necessidade de pratos prontos no novo empreendimento. Nascia a Pasta e Cia, que consolidou uma das tradições do Prataviera: os cestos com frango, batata e polenta frita acompanhados de chope gelado.
— Os cestinhos estão para o Prata como o xis ou o bauru para Caxias — conta Fabricio Zanella, 37.
O empresário estava às vésperas de completar 16 anos quando ajudou o pai, falecido em 2008, a instalar a novidade. Assumiu o negócio depois de crescer junto do shopping e, em 2005 incorporou ex-funcionários à sociedade. Junto de Cleusa Pristsh e Saul Amarente, mantém a tradição de oferecer até hoje os cestos ao público e costuma dizer que não está no Prata, mas sim com o Prata.