Depois de um 2022 castigado pela estiagem, com perdas consideráveis para alguns produtores, Nova Petrópolis prevê colher 456 toneladas de figo em 2023, cerca de 50% a mais do que no ano passado, chegando a patamares de anos anteriores, considerados "normais". Em geral, a colheita da fruta se inicia entre o fim de dezembro e meados de janeiro, a depender da variedade, e pode se estender até maio em algumas regiões.
O município, juntamente com Gramado, que tem entre 26 e 28 hectares ocupados por figueiras, são os maiores produtores de figo da região, conforme a Emater/RS. Em Nova Petrópolis, são 60 produtores rurais que se dedicam ao cultivo da fruta em uma área plantada estimada em cerca de 38 hectares.
O volume de colheita esperado é bom, normal. Uma safra cheia, que há tempos não tínhamos.
LUCIANO ILHA
Emater de Nova Petrópolis
— O volume de colheita esperado é bom, normal. Uma safra cheia, que há tempos não tínhamos. Não tivemos nenhum evento climático grave que pudesse afetar significativamente a produção. Agora, esperamos colher 456 toneladas. Fazemos uma média de 12 toneladas por hectare, uma safra normal — explica o engenheiro agrônomo do escritório da Emater de Nova Petrópolis, Luciano Ilha.
As variedades produzidas são, principalmente, Roxo de Valinhos, Pingo de Mel e Negrito. O engenheiro agrônomo da Emater aponta que algumas se adaptam melhor ao clima mais quente e outras suportam as temperaturas inferiores, o que impacta nas regiões onde são produzidas dentro do município e também no volume da colheita.
— São duas realidades bem diferentes. Na região do vale (comunidades como Linha Temerária e Pirajá Baixa), onde se trabalha especialmente com o figo Roxo de Valinhos, poda drástica, um sistema que, naturalmente, oferece produtividades maiores. Nestes locais, podemos passar, tranquilamente, de 20 a 25 toneladas por hectare. E toda a região mais fria, no alto, onde temos produtores menores, há as variedades Pingo de Mel e Negrito, principalmente. São plantas maiores, numa condição mais livre e as produções não atingem um valor tão alto.
Estima-se que cerca de 80% da produção do município das Hortênsias seja encaminhada à indústria e agroindústria, que compram a fruta madura e a transformam em doces em pasta. Uma fração menor é destinada ao consumo in natura, consumidores avulsos que fazem figada em casa e ainda há venda de figo verde para os doces em calda.
— Geralmente, o figo verde é vendido para o pessoal de Pelotas e para pequenas agroindústrias da região da Serra — comenta Luciano.
Trabalho começa cedo na Linha Temerária
Antes mesmo de o sol nascer, corpos protegidos por chapéus, blusas leves de mangas longas e luvas se movimentam entre milhares de figueiras na Linha Temerária, em Nova Petrópolis. É que a colheita do figo exige madrugar. Os relatos são de que nos primeiros minutos de trabalho é até difícil de enxergar se a fruta está no ponto de ser retirada do pé. "Pular" cedo da cama, portanto, é um esforço necessário e seguido à risca pela família Kich, que mantém 4,5 hectares da fruta, ou em unidades, 5 mil pés de figueira. Já no meio da manhã, o sol e o calor escaldante dificultam o trabalho, que se encerra antes do meio-dia na plantação.
A história dos Kich com a fruta começou há cerca de 12 anos e foi crescendo gradativamente. Neste ano, a colheita foi iniciada em dezembro e, dependendo do clima, poderá seguir até maio, com total esperado de 70 a 80 toneladas. O maior volume é do Roxo de Valinhos, considerado propício para regiões quentes, como a comunidade onde a família reside.
— Mas teve uma vez que já colhi até em junho. Foi um ano que quase não fez frio — recorda-se o agricultor Volmir Kich, 51 anos, responsável pela produção.
O mesmo sol que castiga o trabalhador também impacta no rendimento das plantas. Por isso, em função das poucas chuvas deste ano, as irrigações na propriedade têm sido em dias alternados. A água é proveniente de quatro açudes da família.
— Às vezes, chego a irrigar todos os dias. Não molhamos tanto como deveria, fica menos tempo. Temos feito assim para manter a planta, porque não sabemos se a estiagem vai se prolongar — detalha Kich.
Assim como os demais produtores do município, mais da metade da produção é vendida para a indústria. Também há uma demanda significativa para o consumidor final: em cerca de 40 minutos em que a reportagem esteve na plantação, às margens de uma estrada asfaltada, três clientes chegaram no local em busca da fruta.
— Temos até uma agenda em casa que o pessoal liga e nós reservamos. Vem gente de Caxias, Farroupilha, Novo Hamburgo, Porto Alegre... Ficam sabendo de um, de outro — comenta o agricultor.
Cultivo é herança familiar
Por entre dezenas de figueiras, posicionadas lado a lado, o agricultor Nilo Marcon, 59 anos, mostra com precisão e orgulho as variedades que cultiva na Linha Araripe, às margens da RS-235. Embora mantenha diferentes tipos de figo, como Pingo de Ouro, Roxo de Valinhos e Negrito, é o Pingo de Mel, de casca mais esverdeada, que predomina nos cerca de 1,5 hectare destinados à fruta na propriedade da família.
A expectativa seria de ultrapassar as 20 toneladas, mas a geada tardia e, agora, a falta de chuva devem impactar no volume colhido, prevendo cerca de 16 a 18 toneladas até fim de março — a produção, distribuída em diferentes terrenos, não conta com irrigação.
O cultivo da fruta é uma herança na família Marcon. Foi com o pai que Nilo pegou apreço pelo figo e, hoje, cuida das figueiras com a esposa Marina, 59.
— Segundo meu pai contava, quando ele tinha 15 anos, trouxe de Caxias as primeiras mudas de Pingo de Mel e Roxo de Valinhos. Isso foi 85, 86 anos atrás. Na época, ninguém conhecia aqui. Meu pai e meu tio eram grandes produtores. Juntos, produziam umas 120 toneladas — conta o agricultor.
Atualmente, quase toda a colheita dos Marcon vai para a indústria. A parcela restante é vendida para quem procura a família para produção de doces caseiros, consumo in natura, fabricação de cucas, entre outros destinos. O casal também trabalha com plantações de abóbora, milho e produção leiteira.
Dificuldade de encontrar trabalhadores para a colheita
Além das questões climáticas, os agricultores relatam outra dificuldade no cultivo do figo: está complicado encontrar pessoas dispostas a trabalhar na colheita da fruta. Os motivos são principalmente a aspereza da folha e o líquido branco liberado pela planta, que causam irritação à pele de muitas pessoas, e as próprias condições de trabalho, que inevitavelmente envolvem exposição ao sol e ao calor.
— Tem muita gente que está desistindo porque não acha mão de obra para a colheita. É complicado, precisa de luvas, de manga comprida... Tem o calor que também influencia — diz o produtor Volmir Kich.
A solução encontrada por muitos é contar com o apoio dos familiares e dos vizinhos para que a fruta seja retirada da planta no momento certo e não haja perda na produção.
— Não adianta, o figo tem que ser colhido todos os dias. Se não colher, perde a fruta — resume Kich.
Armazenamento e sucesso na feira
Por ser uma fruta considerada sensível, o figo precisa de cuidados especiais quando chega para o consumidor. Em supermercados e fruteiras, é comum encontrar a fruta armazenada em um refrigerador, que controla a temperatura e mantém o figo pronto para o consumo.
— Temos todo um cuidado porque é uma fruta muito sensível. Ela depende de certos cuidados e sempre na refrigeração é o recomendado. Além de ser uma fruta sensível, a refrigeração mantém o sabor da fruta — explica o supervisor da fruteira, Bira Almeida, em entrevista à RBS TV.
Em uma fruteira de Caxias do Sul (Empório Minuano), por ser uma das primeiras remessas dessa safra, conforme explica Almeida, o quilo da variedade Roxo de Valinhos era comercializada a R$ 19,90.
— O produto está com uma excelente qualidade neste ano, embora seja ainda o início da produção. O preço ainda está um pouquinho alto, mas com o passar da safra a tendência é ele baixar — explica.
Outra opção de compra é nas feiras do agricultor espalhadas pelos bairros de Caxias do Sul. No Centro, é possível comprar o figo direto do produtor Joseval Adriano, de Nova Petrópolis, que também é feirante. No local, a fruta é vendida a R$ 7, o quilo. Segundo ele, na feira, o consumidor procura a fruta para transformá-la em figada.
— Muitos pegam in natura e também para doce porque ele é um figo muito gostoso para comer e o tamanho dele é padrão, acessível. O consumidor acaba levando esse figo porque tem demanda, a família toda come porque vê que é um figo saudável, muito limpo — avalia.
O aposentado Milton Angelo Berti sempre passa na feira durante a caminhada que ele faz todas as manhãs.
— Compro aqui (na feira) e compro em outro lugar que eu sei que tem. Mas compro quase todos os dias. Figo é muito bom.
Já o também aposentado Emílio Ugarte, chileno que mora há mais de quatro décadas em Caxias do Sul, o figo dá um toque especial na alimentação.
— Gosto de comer in natura. Figo com presunto parma fica muito bom — recomenda.
Festa que celebra o figo é retomada
A 48ª Festa do Figo de Nova Petrópolis ocorre no sábado e domingo (4 e 5), na Sociedade Cultural e Esportiva Linha Araripe, e representa a retomada da celebração já que em 2021 e 2022 o evento não foi realizado por conta da pandemia. A entrada e o estacionamento são gratuitos. A programação começa às 8h de sábado (4) com uma caminhada de 14 quilômetros. Para participar, é preciso se inscrever antecipadamente — o link está disponível na página do Instagram @festadofigonp. O custo é de R$ 50 por pessoa e há limite para até cem participantes.
Ao longo do fim de semana, haverá apresentações de bandinhas típicas, venda de produtos coloniais, exposição de tratores e máquinas agrícolas, além de comercialização das variedades Negrito, Pingo de Mel e Roxo de Valinhos. Quem circular por lá ainda poderá provar o chope de figo, novidade nesta edição da festa.
PREÇO MÉDIO DO FIGO (VENDA DO PRODUTOR)*
:: Figo maduro: R$ 2,05 (kg)
:: Figo verde: R$ 5,50 (kg)
:: Figo in natura: de R$ 5 a R$ 10 (kg)
Fonte*: Emater de Nova Petrópolis.