As coleções de peças de vestuário, que colorem as lojas, tem sentido alguns efeitos em cadeia no processo produtivo que ainda não se organizou. O Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem, Malharias, Vestuário, Calçados e Acessórios da Serra Gaúcha (FitemaVest) atribui as dificuldades de acesso ao material à situação econômica mundial.
— Acredito que hoje ainda tenha uma falta de matéria-prima por uma questão de falta de investimento, de falta de recurso empresarial mesmo, que inclui também falta de mão de obra e de capacidade produtiva. Esperamos que 2023, pós todas estas crises, que a gente consiga reverter esse cenário — aponta Débora Sikelero, presidente do FitemaVest.
Há empresas de Caxias do Sul em fase de adaptação ao mercado. Diretora de compras em uma loja de Caxias do Sul, Lakchmi Posser, disse que não está mais vivenciando o problema na loja, só que isso ocasionou um atraso. A dificuldade agora está mais ligada ao tempo, porque precisaria continuar fazendo casacos, mas não consegue mais, já que os fornecedores entendem que não é mais época.
— O dólar interferiu muito, acabou ficando o tecido diferente, importado, muito caro e a indústria nacional acabou utilizando mais o produto nacional. Também os pedidos estão vindo com bastante atraso em função de dificuldade de aviamento. Tive um pedido atrasado uns 30 dias porque não tinha botão para colocar no casaco — exemplifica.
Indústrias também sentem impactos. Uma empresa de Caxias do Sul aposta na compra antecipada de tecidos para não ficar sem o produto essencial para se manter no mercado:
— A indústria parou e, quando voltou, voltou com tudo, então faltou mão de obra, faltou mercadoria. O nosso cliente tem, como a gente fabrica bastante uniforme, o tecido (de preferência) dele, então não tem como a gente mudar o tecido, tem de ser aquele que ele sempre usa — explica o diretor da empresa, Ângelo Roberto Milani.
Lojas que trabalham com a venda de tecidos e aviamentos substituem materiais, para que a venda seja menos afetada. A empresária Sirlei Stumpf comenta que as coleções já são pensadas considerando os materiais disponíveis.
— Hoje, eles fazem uma peça mais clean, não com tantos aviamentos. Uma vez tinha uma oferta muito grande de zíper. Tu achavas zíper de todos os tamanhos, cores variadas. Hoje não. Tu achas o trivial, o básico, o preto, branco, o marinho e acabou.
O vice-presidente da FitemaVest, Elias Biondo, acredita que a escassez de insumos é hoje é mais pontual do que generalizada, já que o mercado começou a se normalizar. Ele também garante que o mercado nacional é capaz de suprir as necessidades de insumos da indústria têxtil:
— A qualidade existe tanto quanto a importada. Não tem uma diferenciação. Em muitos casos, a nacional é até melhor do que a matéria-prima importada. Existem alguns casos, sim, de que a matéria-prima nacional é um pouco mais cara do que a nacional, por uma questão de Custo Brasil — explica, referindo-se ao conjunto de entraves burocráticos e estruturais que dificultam o crescimento econômico do país.
Desafio na contratação de funcionários
Outro desafio que a indústria têxtil enfrenta é a dificuldade em contratar mão de obra, como ocorre em outros setores. De acordo com o vice-presidente da FitemaVest, indústrias de Caxias do Sul estão oferecendo treinamento dentro das fábricas, inclusive com a contratação de funcionários antes mesmo da capacitação.
— A gente tem uma escassez de mão de obra. Temos mais vagas que candidatos na indústria têxtil aqui da Serra. Isso é uma coisa geral. Nós temos ouvido muito dos empresários que a grande dificuldade encontrar mão de obra. Mão de obra qualificada, é quase impossível (de encontrar). Então, quem tem está valorizando, pagando melhor o seu colaborador, está treinando internamente.
Para os próximos meses, ele acredita que a tendência é de uma estabilização na necessidade de trabalhadores. Isso porque, segundo o empresário, o varejo vem se desacelerando, como resultado do cenário político-econômico do país e também devido à extensão do período frio na Serra, o que prejudicou as vendas de produtos de meia estação.