A Serra está com gana de aprendizagem para garantir um futuro pujante. A semana foi marcada por eventos importantes na área econômica. Todo o mercado com sede de aprender e descobrir as novidades que o mercado já apresenta ou projeta para o futuro.
O Pioneiro separou 20 dicas que os sucessores de fundadores e herdeiros de grandes empresas da Serra apresentaram no Encontro de Gigantes, na última terça-feira (18). As dicas trazem experiências e aprendizados sobre carreira, sucessão familiar, transformação dos negócios e transformação cultural, além de uma opinião sobre o que vem por aí no cenário macroeconômico.
Os depoimentos são de Eduardo Colombo, neto de Adelino Colombo e presidente da Lojas Colombo; Gelson Castellan, filho de Lourenço Castellan e presidente do conselho de acionistas da Florense; James Bellini, filho de Paulo Bellini e CEO da Marcopolo; e Daniel Randon, filho de Raul Randon e presidente das Empresas Randon. Juntas, as empresas somam 33,3 mil colaboradores. O faturamento previsto por três delas para 2022 passa dos R$ 14 bilhões. A quarta delas, só no primeiro semestre, alcançou receita operacional líquida de R$ 2 bilhões.
O 8º Encontro de Gigantes foi uma realização da Gaúcha Serra, pelos 10 anos de atuação, com patrocínio de Sicredi Pioneira, RPP Construtora, Pioner Joalheria e Ótica, Supermecados Andreazza, UCS e Unimed Nordeste.
Carreira
1. É preciso ser inquieto para crescer na carreira, degrau por degrau
"Comecei a trabalhar com um 13, 14 anos e meio turno. E eu trabalhava como digitador. Mas sempre fui muito inquieto e não estava confortável em ficar parado todo o dia fazendo a mesma coisa. Vi num mural uma vaga de auxiliar de almoxarifado. Fui entender o que era aquilo e era trabalho no depósito, para separar o uniforme das lojas. Fui concorrer, fui classificado. Depois fui saber que não tinha candidato. Ninguém queria aquela vaga. Foi um momento interessante, porque ali eu conheci todas as lojas, sabia os números nas lojas de cor, a cidade de cor e aí a minha curiosidade foi aguçando."
Eduardo Colombo
2. Fazer a diferença entre os pares
"Outro marco da minha carreira é quando fui vendedor. O meu diferencial era ser muito estudioso com relação aos produtos. Levava os manuais para casa, estudava e, quando o cliente vinha, eu falava tecnicamente. Ninguém fazia aquilo. Outra característica que eu desenvolvi, porque o meu exemplo é assim: quando eu vendia algum produto, fazia questão de ir na casa do cliente instalar ou ver como o produto tinha ficado. Eu criava uma relação de empatia. Dentro da casa, eu olhava o parquê, se dava para oferecer um estofado, se faltava um micro-ondas, se o liquidificador já não estava tão bom. É o que hoje a gente chama de pós-venda."
Eduardo Colombo
3. Entender que o reconhecimento nem sempre vem do outro
"A gente tem que se esforçar muitas vezes mais do que um profissional que não é da família para ter algum tipo de reconhecimento. Muitas vezes, o reconhecimento nem vem dos nossos fundadores, vem da gente mesmo."
Eduardo Colombo
4. Fazer o básico bem-feito, descomplicar
"Os valores e os princípios da empresa se confundem com os do fundador – humildade, honestidade e simplicidade. Eles foram o alicerce para chegar onde chegamos. Entregar o básico bem feito. Simples assim. Só que esse simples assim é muito difícil de fazer acontecer dentro da organização. O comércio é feito de pessoas para pessoas. É convencimento o tempo todo. Dar capacidade, colocar as pessoas certas nas atividades adequadas. Se a gente quer atender bem o cliente interno, no caso, as lojas, são mais de 4 mil colaboradores espalhados no país. Precisa dar informação necessária para que eles representem a gente lá na ponta. É um processo que não é simples, e a gente tem uma dificuldade muito grande de descomplicar as coisas. Hoje quem consegue entregar o básico bem feito tem um sucesso absoluto. Porque está difícil de a gente conseguir até como sociedade, né, fazer as coisas básicas bem estruturadas e bem feitas."
Eduardo Colombo
5. Ser o profissional desejado
"O perfil do profissional dos meus sonhos é aquele que, primeiro, entende as pessoas, tem empatia, busca o entendimento do seu time e principalmente tem a capacidade de unir. O profissional que tiver a habilidade de colocar fazer as pessoas entenderem que o problema é nosso, porque qualquer problema em qualquer área vai impactar a produção, portanto, vai impactar a entrega, portanto, vai impactar o resultado e, portanto, vai impactar todos nós. Não só pratique a empatia, mas também que tem tenha atitude para fazer o que precisa ser feito."
James Bellini
6. Manter a humildade para aprender todos os dias
"A gente é uma região de muito empreendedor, que tem inúmeras histórias de realização, de sucesso, de construção. Está no nosso DNA. Nós precisamos é ter a humildade de querer aprender todos os dias, de nunca se dar por satisfeito, de sempre querer fazer algo a mais e melhor, sempre com o cuidado de fazer o bem, o certo. Se a gente conseguir caminhar por esses caminho, o sucesso vai vir. A gente tem que estar aberto a entender as situações que acontecem, seja com os clientes ou com o concorrente, com o colega de trabalho, independente da sua posição, independente da sua do seu tamanho, porque os problemas normalmente são os mesmos e a gente tem que ter a coragem de investir."
Eduardo Colombo
7. Aprender com os erros
"Montei um site com dois dois parceiros. Cada um tinha seu negócio e o foco maior não era para o site. Se você quer entrar num negócio, tem que focar, sem distrações do que tu acredita."
Daniel Randon
Sucessão familiar
8. Despertar o gosto pelo negócio nos sucessores
"Aos 5 anos, eu passava os finais de semana com os meus avós e, aos sábados, a gente saía para visitar as lojas. A norma era meu avó me trazer a duas lojas aqui em Caxias do Sul, uma delas ficava antes da Praça Dante. Depois, caminhávamos em direção à segunda loja e, ali na praça, tem uma sorveteria, que existe até hoje. Como recompensa, a gente ganhava um sorvete. Passei a minha infância toda com o meu avô. Ele era a minha inspiração. É minha inspiração até hoje."
Eduardo Colombo
"Meu pai sempre dizia para todos os filhos: ‘Primeiro tem que fazer Engenharia, depois Administração, depois o que quiser da vida’. Mas quando sinto aquele cheiro de fábrica, sinto cheiro de lembrança de infância, porque era quando o pai, principalmente no sábado de manhã, nos levava dar uma voltinha na fábrica."
Daniel Randon
9. Respeitar a identificação de cada herdeiro
"A gente tem que saber, no mundo empresarial familiar, respeitar aqueles que se identifiquem, aqueles que não se identifiquem, porque não importa se você está numa empresa familiar, não necessariamente você tem que exercer sua atividade. Essa identificação é muito pautada em cima dos valores estabelecidos no início das empresas."
Eduardo Colombo
10. Encontrar o caminho para driblar os conflitos de gerações
"Todas as empresas representadas por nós são de pessoas muito centralizadoras no primeiro momento e que por terem erguido do chão são muito resistentes a mudanças. Há medo do erro, de o sucessor fazer diferente. Eu tive várias conversas privadas com o meu pai, conversas privadas dessas cabeludos mesmo. Se eu tivesse que conversar com ele no meio de muitas pessoas, ele não ia aceitar, mas eu percebi que, quando eu conversava com ele de maneira privada, explicava até fazê-lo sentir que eu tinha a mesma paixão pela empresa, que eu queria o melhor, que a razão precisava prevalecer, ele aceitava. Lá adiante, talvez ele fosse vender a ideia como se fosse dele também. Essas conversas privadas me deram muitas vezes o caminho que eu tinha que seguir para conseguir aquilo que era necessário fosse feito sem ter que enfrentá-lo abertamente. Mas esse conflito de geração não existe mais na nossa empresa."
Gelson Castellan
Transformação, negócio e cultura da mudança
11. Transformar crises em oportunidades de mudança
"Na época da crise, em 2015, 2016, junto com o David (Randon, irmão e então presidente da organização), tivemos a chance de fazer estudos da parte de organizacional, de cultura. Repensamos o modelo da empresa, os próximos cinco, 10 anos. Trabalhamos primeiro a necessidade de uma empresa mais inovadora e menos burocrática. Resgatamos os valores e os princípios dos fundadores, para cada um, tem uma história contada pelo meu pai, daquele jeito simples. Juntamos a grande liderança, começamos um processo por elas. As pessoas e as Empresas Randon têm que trabalhar em colaboração. Depois, falamos dos colaboradores: são 16,5 mil. Cada um é um protagonista na construção de algo diferente com experiências do passado."
Daniel Randon
"Certa época, começamos a enfrentar dificuldades porque as redes de varejo não eram mais receptivas a um produto de determinada qualidade, com preço um pouco maior. Uma das agências de propaganda viu que os clientes não sabiam onde comprar nossos produtos e um diretor de marketing da RBS me mostrou franquias. Fui estudar. Trouxe essa proposta para a Florense, de fazer transição em vez de filiais redes de lojas especializadas. Substituímos 5 mil pontos de vendas que tínhamos em grandes redes por 80 pontos de venda especializados. A chave estava em termos um canal que pudéssemos comandar, controlar, interagir e fazer um trabalho diferenciado. E o franqueado vendia primeiro para depois encomendar, não precisa ter estoque. Faça diferente, faça melhor, faça novo. Esse projeto continua obviamente até hoje."
Gelson Castellan
12. Saber a hora de desapegar de um projeto pois o tempo das pessoas é o maior valor da organização
"Estamos andando com um projeto, daqui a pouco, mudaram os ventos, o cliente já não quer mais aquilo. O projeto já não é mais importante, só que as pessoas, as lideranças, estão comprometidas com ele. Dizer ‘a partir de agora acabou, joga para fora. Vamos iniciar um novo projeto que agora mais importante, esse é o que o cliente está demandando’. Não existe maior valor de organização que o tempo das pessoas. Você tem que trazer as lideranças, todo o grupo para as mudanças importantes. A transformação digital é rápida."
Daniel Randon
13. Colaboração precisa ser a cultura da empresa e começar pela liderança, mas também pode vir de fora
"A questão da cultura é um dos desafios. Começa com a família, em cima. O controlador estar alinhado facilita muito que a empresa toda tenha um fluxo e que a cultura seja transmitida. Temos tido a oportunidade enorme de contar com lideranças, não só dentro de casa, mas também pessoas que trazem a sua experiência de fora. É um orgulho sempre poder contar com vários parceiros. Quando a gente traz parceiros, fornecedores próprios trazem novidades, e é isso que a empresa precisa."
Daniel Randon
14. Ter um time que garanta a sobrevivência enquanto outro mira o futuro
"O nosso mercado mudou radicalmente com a pandemia. A gente teve que fazer todo um esforço realmente muito grande para manter a empresa saudável financeiramente, mas ao mesmo tempo, nós precisamos nos reinventar porque em algum momento a pandemia iria terminar e nós não podíamos estar apenas no foco de sobrevivência. Nós tínhamos que ter um segundo grupo de pessoas trabalhando olhando para o futuro, pensando como a gente vai voltar a crescer quando terminar essa pandemia."
James Bellini
15. Transparência gera confiança que gera engajamento e foco na solução
"A palavra que puxou a nossa transformação cultural foi a transparência. Começamos a conversar e vimos que, sem transparência, nada poderia mudar. Trazer o problema que está escondido embaixo do tapete para cima da mesa. Como é que tu consegues resolver um problema, se ele está escondido? Só que culturalmente é o que as pessoas estavam acostumadas a fazer por questões culturais, vícios culturais de muitos anos. ‘Isso aqui é melhor não falar. Deixa aí, porque isso aqui vira para cima da mesa. Eu vou passar por incompetente, porque fui eu que criei essa situação.’ E assim, desde a diretoria e gerência, coordenadores, líderes etcétera. Aí começamos trabalho ao contrário. Dentro dessa nova filosofia, dos novos tempos, quando é permitido errar. Todos nós somos seres humanos, todos nós erramos e, se a gente não admite o erro, como é que vai evoluir? Quando existe transparência que gera confiança, tudo isso gera engajamento e aí as pessoas se engajam."
James Bellini
"Nós temos esse programa que nós começamos em 1994 e se consolidou em 1997 chamado programa Sim, Soluções Inteligentes para Modernização. Hoje se chama Movimento Sim, Soluções Inovadoras para a Modernização. Esse programa disseminou conhecimento, compartilhamento das informações e aquela transparência é fundamental para que a gente possa de fato gerir a empresa sob o ponto de vista lógico, do que precisa ser feito, atacar o problema como sendo uma coisa recorrente do dia a dia, decorrente de tanta atividade e não culpa de alguém."
Gelson Castellan
16. Estruturar um programa para a mudança de cultura
"A gente estruturou muito bem um programa de workshops e com todas as nossas lideranças, começando pela diretoria, com a gestão toda da empresa. Hoje a gente já tem mais de 1,8 mil pessoas que passaram por esses workshops e isso está realmente provocando uma transformação. Os resultados a gente está vendo nos últimos dois, três meses, de forma muito clara. Hoje todo mundo já consegue enxergar o quão importante é essa mudança no midnset, na forma de pensar."
James Bellini
17. É preciso estar atendo às mudanças para transformar gaps da cadeia em oportunidade
"Ram Charan (famoso consultor de liderança indiano) já esteve com a gente comentou que, se você não preencheu os gaps da cadeia, que vai evoluindo e mudando com a transformação digital, alguém vai preenchê-los e normalmente não é um concorrente, alguém que vem de fora e implementou. O mundo atual tem muitas mudanças e elas geram oportunidades."
Daniel Randon
18. Inovação e tecnologia guiarão os negócios
"O meu aprendizado é que quando a gente está num mercado um pouco mais difícil, desafiador ou num momento mercadológico mais desafiador, a gente não pode se encolher. É ali que a gente tem que colocar o pé no chão, centrar a cabeça e fazer os investimentos necessários. As oportunidades virão logo ali na frente. Então nós não paramos de investir. Quem pensa a Colombo como uma empresa de commodities, geladeira, televisão... Não, não. Somos uma empresa também de tecnologia, uma empresa de inovação, nós temos o nós temos diversas outras empresas em outros setores, nós temos administradora de consórcio, nós temos uma financeira, a gente vende produtos financeiros, temos o cartão Colombo Visa, estamos entrando também para as contas digitais, ou seja, é uma composição de negócios que se viabiliza através da nossa geladeira, do nosso móvel, da nossa do nosso televisor. A gente precisa estar atento a essas mudanças mercadológicas."
Eduardo Colombo
"O que a gente enxerga para o futuro hoje é a transformação de uma empresa que sempre teve seu core business no soldador de ferro, vamos chamar assim, para uma empresa de tecnologia. Então, o que o que vai mudar da Marcopolo de hoje para Marcopolo do futuro é a questão da tecnologia embarcada, do software embarcado, a questão da mobilidade elétrica. Quem faz a transformação digital não é a tecnologia. Quem faz a transformação digital são as pessoas, né."
James Bellini
19. Não basta ter discurso de diversidade, é preciso aprender
"Quando se decide trabalhar pela diversidade, não é só falar. Temos que criar mindset, trazer pessoas que possam falar do assunto, principalmente para nível das lideranças, entender. Toda a organização tem que começar a ouvir, aprender que mudou, como é que funciona, como incluir as pessoas. No final do dia, a cultura é feita com muito aprendizado, aprendizado contínuo, mas sem nunca deixar de olhar os valores dos fundadores."
Daniel Randon
Cenário macroeconômico
20. Ser otimista, pois o Brasil tem muitas oportunidades
"O setor macroeconômico tem muitas dúvidas, muita volatilidade ainda. Por outro lado, quando nós olhamos oportunidades no Brasil, é um momento muito bom. Primeiro, a questão do agronegócio, que existe uma demanda enorme de países com as dificuldades que estão tendo. O exemplo da Europa, esse problema de energia, de curso de energia, além de demandar mais alimentos do Brasil, tem questões também de custos maiores, até dificuldade de fabricação, ar, além da guerra entre Ucrânia e Rússia. Estados Unidos e China, com questões políticas, entre outras, têm colocado oportunidades também de mais exportações do Brasil para os Estados Unidos. A longo prazo, temos muitas oportunidades de negócios, nós temos uma competitividade boa."
Daniel Randon