A depender do otimismo dos malheiros da Serra, a temporada outono/inverno 2022 vai ser um sucesso. Empresários projetam aumentar as vendas em relação ao ano passado, quando o setor teve uma “edição de luxo”, devido ao tempo frio que se prolongou. Neste ano, as temperaturas baixas, que vieram ainda em março, são um dos principais fatores para as boas perspectivas.
O comportamento do tempo daqui para a frente tende a ser um fator-chave para as vendas. Mas o otimismo dos malheiros não está baseado somente nisso. O fato do ano passado ter sido de boas vendas contribui também. É que isso fez com que os estoques baixassem ou até zerassem para alguns revendedores. Portanto, os pedidos ficaram mais acentuados ainda em 2022.
O presidente da Associação dos Centros de Compras da Serra Gaúcha (Acecors), Paulo Dalsochio, explica que uma dificuldade enfrentada por parte das malharias é a falta de matéria-prima. O fio encareceu e até o fornecimento foi afetado. Ainda assim, segundo ele, o cenário se desenha como favorável ao setor:
— Está muito positivo. O lançamento da moda inverno foi feito por praticamente todas as empresas associadas ainda em janeiro, quando recebemos um grande volume de empresas que vieram comprar e compraram bem. Em março, houve a Semana da Moda por parte da Acecors, houve lançamentos por parte dos shoppings e o movimento tem sido bom. As compras ainda não são como as que ocorrem nos meses de inverno, mas os consumidores estão comprando. Então, nós estamos com uma expectativa otimista em relação ao que podemos ter neste ano.
Na Gida Malhas, em Caxias do Sul, a projeção é aumentar em 30% as vendas na comparação com o ano passado. Esse percentual é particularmente bom porque trabalha com um base forte, depois de 2021 ter sido de boas vendas para o setor. A empresa, que trabalha principalmente com pronta-entrega para atacado, teve de contratar 10 funcionários nos últimos dois meses para dar conta da produção. O sócio-diretor, Nelso Giacomin, explica que o frio ainda em março, mesmo que não seja intenso, aquece a procura pelas malhas:
— Ano passado tivemos um bom inverno e esse bom inverno fez com que as lojas sobrassem pouca mercadoria. Esse ano também a gente está vivendo um cenário um pouco diferente, as pessoas estão saindo mais, a pandemia está diminuindo ou quase acabando. Então, tudo isso leva a crer que a gente vá ter um ano muito bom pela frente.
Em Farroupilha, a Malhas Cida tem hoje 50 funcionários e também projeta fazer novas contratações, apesar do reforço já realizado recentemente. Além disso, vai aumentar o parque industrial, com duas novas máquinas de tecer. Hoje, a empresa tem 23 máquinas instaladas na região de Nova Milano, onde está construindo um novo prédio de 17 mil metros quadrados. A projeção é que a obra, iniciada em 2021, fique pronta em dois anos. A empresa, que aposta em uma coleção bem colorida, também traduz o otimismo em números:
— A gente quer dobrar as vendas para esse ano. Como está faltando matéria-prima, quem está com a matéria-prima está produzindo, criando e vendendo — comenta a proprietária Cida Vedovelli Fiorio, ao explicar que se prepara para esta temporada desde setembro do ano passado.
Mix de produtos atrai lojista a Farroupilha
As vendas de malharias da Serra ocorrem, principalmente, para os estados do Sul do país. Contudo, o próprio Rio Grande do Sul é um grande consumidor da produção regional. Na sexta-feira (1º) à tarde, por exemplo, a lojista Juliana Anita Câmara aproveitava para fazer compras na Cida Malhas. Praticamente duas vezes por semana, ela sai de Dois Irmãos, em uma viagem de cerca de uma hora e meia, para fazer compras em Farroupilha.
Depois de trabalhar por oito anos na prefeitura da cidade onde reside, o sucesso das vendas da loja própria a fizeram sair do serviço público. No mês de março, já vendeu o dobro em relação ao mesmo mês do ano passado.
— Venho bastante, porque tem muitas opções. Já comecei as vendas. Os consumidores têm procurado muito blusão, mas também capas — conta.
Embora a região Sul seja uma grande consumidora das malhas serranas, clientes de outros Estados, como São Paulo, também são frequentes nas lojas. Além disso, a produção da Serra está inclusive em outros países, como no caso da Cida Malhas, que exporta até para a Austrália.