Os estragos causados pela estiagem prolongada no interior do município estão sendo levantados para embasarem um provável decreto de emergência da prefeitura de Caxias do Sul. Os dados, buscados pelas subprefeituras junto aos produtores rurais, devem ser apresentados à administração municipal na próxima segunda-feira (3). O objetivo é comprovar que a falta de chuva causa danos ao abastecimento humano.
Conforme o secretário da Agricultura, Rudimar Menegotto, essa confirmação é importante para que o decreto seja posteriormente aceito nos níveis estadual e federal. O secretário conta que os problemas vêm aumentando dia a dia e que, de uma maneira geral, os moradores de zonas rurais dizem que têm capacidade de abastecimento para até uma semana.
— O clima está seco e não tem uma previsão de uma grande quantidade de chuva. Isso pode causar uma situação ainda pior do que estamos vivendo — projeta Menegotto.
A condição climática já prejudica a distribuição de água para animais. Neste caso, as regiões mais afetadas são de Vila Seca e Criúva, mas os estragos são generalizados. Agricultores têm de escolher quais lavouras priorizar na irrigação para não perder todas as plantações. No caso da fruticultura, conta Menegotto, há relatos de amadurecimento precoce. Ameixas e pêssegos, por exemplo, estão com calibre menor por falta de água. Isso traz como consequência a redução da renda dos produtores rurais.
Com o solo seco, os agricultores também não fazem novas plantações. E isso deve atingir o bolso do consumidor, porque vai reduzir a oferta dos produtos no mercado.
— É o terceiro ano consecutivo de chuvas irregulares e abaixo da média, mas esse ano acho que ainda é pior de todos.
Com o decreto de emergência, um dos principais resultados é que se abre a possibilidade para os trabalhadores rurais renegociarem empréstimos no sistema bancário. Do ponto de vista do poder público, são dispensadas licitações para contratações relacionadas à estiagem. Com isso, há mais agilidade para a contratação de caminhões para abastecimento das propriedades.
“Não passa nem pela minha cabeça o que vou fazer”
Na propriedade de Maicon Luiz dos Passos, em Vila Seca, está difícil manter cerca de 50 cabeças de gado de corte e outras 40 de cavalos. Os reservatórios de água estão muito abaixo do nível normal e a estiagem também afeta a alimentação, porque o capim está seco e acabando. A alternativa é comprar ração para alimentá-los. Ainda assim, Passos diz que os bichos estão magros demais e não conseguirá vende-los. No caso das plantações, como milho, ele preferiu nem arriscar:
— As lavouras não plantei nada. Não vou ter prejuízo porque não plantei nada. Já estava um pouco previsto (um novo período de estiagem). Os gados, a água está acabando. Engordar, elas (vacas) não vão. Não passa nem pela minha cabeça o que vou fazer.
Quantidade de chuva em Caxias
Desde o início de outubro e até a tarde de terça-feira (28), o que corresponde a quase três meses, choveu 204,5 milímetros em Caxias do Sul. O dado foi registrado na estação do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), instalado no aeroporto Hugo Cantergiani. Para se ter uma ideia da estiagem, a média mensal de chuva na região é de 120 milímetros. Os meses de novembro e dezembro têm sido particularmente críticos. Outubro ainda foi chuvoso na metade inicial, mas a estiagem se iniciou na reta final daquele mês.
- Outubro: 130 milímetros de chuva
- Novembro: 51 milímetros de chuva
- Dezembro: 23,5 milímetros de chuva*
*Até 28 de dezembro
Fonte: INMET
A previsão do tempo
A estiagem é causada pelo La Niña, que resfria as águas do Oceano Pacífico e altera o calor e a umidade em diversas partes do mundo. No último dia 16, o Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Estado do Rio Grande do Sul (Copaaergs) divulgou que a probabilidade do fenômeno climático permanecer até o final do verão está acima dos 80%, considerando-se os modelos de previsão para definição do evento El Niño Oscilação Sul (ENOS) do International Research Institute for Climate and Society (IRI). Para janeiro e março, a previsão é que a chuva se mantenha próxima da média na Serra. Para fevereiro, a tendência é de que fique abaixo da média.