O mais recente levantamento da Agência Nacional de Petróleo (ANP) aponta que o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), conhecido como gás de cozinha, está custando, em média R$ 86,70 em Caxias do Sul. A Síntese dos Preços Praticados, disponível para consulta no site da ANP, refere-se aos botijões de 13 kg, no período de 14 a 20 de março de 2021. Para o mesmo período, a média de preços do Rio Grande do Sul é de R$ 80,40; e no Brasil, R$ 83,18.
De acordo com o presidente do Sindicato das Empresas Distribuidoras, Comercializadoras e Revendedoras de Gases em Geral no Estado do Rio Grande do Sul (Singasul), Ricardo Tonet, a variação no município sofre influências de mercado, mas não está fora do padrão observado para cidades de porte parecido. Ananindeua, cidade paraense com mais de 500 mil habitantes, praticou a média de R$ 86 no mesmo período, por exemplo.
Tonet afirma que o preço de venda ao consumidor tem sido mais intensamente afetado há cerca de uma ano, com frequentes reajustes praticados pela Petrobras.
— Foram 14 reajustes desde março de 2020, sendo que quatro deles ocorreram em 2021 — afirma o representante da entidade.
De acordo com a Petrobras, o GLP vendido para as distribuidoras nas refinarias representa menos da metade do preço do botijão de 13 kg cobrado do consumidor. No ano passado, foi, em média, 39%. O restante corresponde a impostos estaduais e federais, custos e remuneração de distribuidoras e revendedores.
No início de março, o governo federal isentou de PIS/Cofins os botijões de 13 kg comercializados em todo o Brasil. Tonet explica que a medida representou uma redução de R$ 2,18, mas lembra que, ainda no dia 2 de março, um novo reajuste da refinaria, em aumento equivalente a R$ 1,90, praticamente anulou o impacto no preço final do gás de cozinha.
— As distribuidoras e revendedoras levaram cerca de duas semanas para se adequarem ao novo valor, mas nesse meio tempo também houve o aumento. Então, essa diferença de R$ 0,28 centavos praticamente não fez diferença para o consumidor — explica.
Revendas lidam com a situação
Em meados de 2020, Eduardo da Silva comercializava botijões de 13 kg de gás de cozinha por R$ 70, com variação para R$ 75 com o serviço de entrega. Diante dos reajustes que partem da refinaria e são repassados pelos distribuidores, o preço foi aumentando e chega nesta semana a R$ 95, com entrega. Ele afirma que, desde o início do ano, tem percebido queda nas vendas.
— Em 2020 teve um aumento, mas não foi muito significativo e, agora, desde o início do ano, as vendas começaram a cair. Tivemos uma redução de aproximadamente 20% — relata o proprietário da revenda, que tem sede no bairro Santa Corona.
O mesmo ocorre em uma revenda do bairro Bom Pastor, onde o botijão atinge o mesmo valor — R$ 90 para retirada e R$ 95 com entrega. Ainda em janeiro, a empresa publicou um vídeo nas redes sociais, para seus clientes, buscando explicar de que forma os reajustes da refinaria estão recaindo sobre as revendas.
— Se a gente repassasse todos os reajustes, o botijão estaria chegando a R$ 130, atingindo praticamente 10% do salário mínimo. É um absurdo. As distribuidoras até absorveram um pouco, logo no início, mas agora praticam os valores reajustados e cabe a nós tentarmos gerir isso para não perdermos clientes. É uma situação bem complicada, não estamos vivendo, estamos sobrevivendo — afirma Alcides Gabriel, proprietário da revenda.
De acordo com ele, para dar conta dos reajustes sem disparar o preço final, a empresa tem cortado custos que vão desde o consumo de energia elétrica e materiais de escritório até demissões que precisaram ser feitas para garantir o equilíbrio das contas. Ele destaca também o custo operacional, que envolve combustível, pneus e outros itens que estão com preços em alta. Segundo o revendedor, o custo para entrega do gás a domicílio, que costumava ser de R$ 12, agora passa dos R$ 20.
Reflexos chegam ao consumidor
Quem compra gás de cozinha começa a sentir os efeitos da constante alta do preço do item aliada a outros agravantes decorrentes da crise da pandemia. Cassiano Bertin é proprietário de uma confeitaria, no bairro Cruzeiro, e também atua para evitar o repasse aos clientes.
— No final de 2020 fizemos um reajuste de 30%, mas não foi somente pelo gás, a situação está complicada em muitas frentes, inclusive nos ingredientes que utilizamos, como o óleo de cozinha, o açúcar, a farinha e o leite condensado, por exemplo — avalia o empresário.
Segundo ele, os reajustes do gás de cozinha que ocorreram ainda em 2019 foram mais pesados, mas afirma que a empresa tem negociado com a revenda, parceira de 10 anos, para evitar impactos.
— Como já trabalhamos com eles há bastante tempo, eles seguram um pouco lá, nós seguramos um pouco aqui, para não repassar aos clientes, na expectativa de que o cenário melhore — comenta Bertin.