Mesmo sem perceber, todos foram impactados com a inovação e foram quase forçados a assimilar novos processos e novas tecnologias. Esse foi o extrato desse tempo pandêmico, que mudou hábitos, fazendo com que a sociedade se ambientasse a um novo mundo, mais virtual e menos presencial, só para citar uma das mudanças mais radicais, que atravessam famílias de todos os níveis, classes e faixas etárias, com maior ou menor impacto, conforme o contexto social.
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Na última quinta-feira (22), ocorreu o Innovation Day, com palestras acerca da inovação, da tecnologia, e das implicações dessas rupturas de processos no dia a dia das pessoas. Uma das palestras, que ocorreu de forma virtual em 3D, como se fosse um daqueles games no estilo Second Life, com participantes e convidados incorporando avatares, foi a Renata Zanuto, co-head do Cubo Itaú.
O Cubo é um espaço idealizado pelo Itaú Unibanco em parceria com o fundo de venture capital Redpoint Ventures com o objetivo de criar pontes entre empreendedores, empresas consolidadas do mercado, investidores e grupos de ensino, tendo como enfoque a tecnologia e a inovação. Para ela, uma das lições mais importantes nessa pandemia foi a assimilação da “cultura do erro”.
– Quando você pensa em inovar está suscetível ao risco e ao erro. Porque não tem um manual para propor uma novidade, uma inovação, visto que a solução é buscada por quem nunca fez aquilo. Na pandemia, todos tiveram de fazer novos processos, tiveram de arriscar, em um cenário de incertezas. Foi algo mais ou menos assim: “Vamos fazer, testar e ver no que vai dar”. Porque todos tiveram de se adaptar. A cultura do erro sempre foi um aprendizado inerente nas startups, mas não era ainda inerentes às grandes corporações – avalia.
Leia a seguir, trechos da entrevista concedida ao Pioneiro, por telefone, a partir de São Paulo.
Qual perfil de inovação tem sido mais comumente adotado?
Inovação é você fazer algo totalmente novo, diferente do que já existe, ou criar novos processos ou ainda, dar uma nova solução ou propor um novo modelo de negócio, não esquecendo que a decisão nesses processos está suscetível ao risco e ao erro. Antes da pandemia, pensando em inovação e evolução, era algo que aos poucos estava entrando na vida das pessoas, nas startups já era uma realidade, e nas grandes empresas estavam olhando com interesse para iniciativas de inovação. Mas o que mais temos visto no Brasil é o uso da tecnologia em modelos antigos. Por exemplo, o táxi era um modelo tradicional em que foi colocada uma tecnologia para mudança do modelo e com isso foram criados os transportes por aplicativo como Uber e 99. Da mesma forma a Netflix, que é a Blockbuster com tecnologia, em um modelo que facilita a vida das pessoas.
Qual tem sido o impacto da tecnologia em um público mais tradicional, que durante a pandemia se viu praticamente na obrigação em usar aplicativos e entrar em sites para fazer compras online?
Foi feito um estudo na China, cujo relatório pode, de alguma forma, nos dizer algo com relação ao comportamento do consumidor brasileiro, naturalmente, sem generalizar. Eles fizeram um estudo com pessoas de todas as idades, para avaliar seu comportamento durante a pandemia. Como o estudo se seguiu quando houve a retomada na China puderam perceber o comportamento também no pós-pandemia. O mais interessante, e que chamou a atenção de todos, é que antes da pandemia, as pessoas de 60 anos ou mais, mesmo com a tecnologia mais acessível ao dia a dia, continuavam indo aos estabelecimentos para fazer suas compras. Seja porque eles não acreditavam que o sistema era seguro, seja com relação aos dados ou mesmo se entregariam o produtor na casa deles. Na pandemia, no entanto, eles foram obrigados a fazer compras online por meio do uso da tecnologia e perceberam que não era tão difícil como imaginavam.
E qual foi o comportamento desses consumidores na reabertura da economia, na China?
Como eles perceberam que era uma compra segura, tanto inserindo seus dados em um site, quanto na confiança de que o produto foi realmente entregue em casa, eles demonstraram gostar tanto, que o estudo mostrou que o comportamento foi mantido e eles continuam a fazer compras com uso da tecnologia. Claro que é muito difícil generalizar e comparar com o Brasil. Mas assim como as empresas desafiaram suas verdades na pandemia, as pessoas também tiveram de se ambientar em um novo cenário tecnológico.
O que a crise gerada pela pandemia do coronavírus ensinou ou oportunizou para o mercado de inovação?
De uma forma geral, a pandemia acelerou o processo de transformação digital nas empresas. Foi a mudança de mindset (mentalidade) das grandes empresas, mesmo quem não estava olhando para a transformação como algo benéfico, tiveram de se desafiar. E mais do que uma mudança de mindset, ocorreu uma mudança cultural. Porque uma transformação digital não se faz apenas com a mudança de mindset, mas com transformação da cultura. Agora, as empresas que estavam mais inseridas em um cenário de inovação, com um olhar mais próximo da realidade das startups, tiveram menos “prejuízos”, ao passar pela crise de forma mais fluída. Em 2020, vimos acontecer, mais do que nos anos anteriores, as aquisições de startups por parte das grandes empresas. Porque neste ano, muitas delas tiveram seu valor de mercado diminuído.
Quais dicas podes dar aos jovens empreenderes que estão desenvolvendo projetos de inovação?
Primeiro, as startups de sucesso resolvem problemas que já existem. Se for dar uma dica, não fique pensando em uma ideia brilhante, mas tente resolver um problema e, nesse atual momento, o que não falta é problema e oportunidade. Faça pesquisa e entenda se esse mercado que você deseja apostar está em crescimento ou declínio. Se esse mercado vai existir daqui 10 anos, e se está em crescimento, faz sentido colocar seus esforços para encontrar ideias e soluções. Outra dica, não espere o produto estar 100% para lançá-lo. Faça testes com seus clientes, teste ele com os usuários, faça feedback e vá incrementando o seu produto. E ainda, entenda a sua concorrência, analise ela. Veja o que eles têm e como você pode ser melhor. Se o produto ou serviço deles não deu certo, aprenda com os erros dos seus concorrentes.