Não é mais uma novidade que o Brasil despertou para o mercado da cerveja. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), compilados no Anuário da Cerveja de 2019, há 1.209 cervejarias registradas no país. No ano passado, para se ter uma ideia, foram abertas 320 novas fábricas, quase uma por dia. Em Caxias do Sul, desde sempre reconhecida como a terra da uva e do vinho, houve um crescimento de 25% em relação a 2018, com 20 cervejarias registradas em 2019. Caxias é a quarta cidade do país, em número de empresas, em um contexto que coloca o Rio Grande do Sul em segundo no ranking, com 236 cervejarias, perdendo apenas para São Paulo com 241.
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A novidade é que o Rio Grande do Sul desponta na produção do lúpulo, que é um dos principais ingredientes da cerveja, e que muitos o consideram como a alma do produto. Atualmente, as cervejarias brasileiras compram praticamente 100% do lúpulo importado da Alemanha ou dos Estados Unidos. Estima-se que existam no país, cerca de 130 a 140 produtores, sendo 25 no Rio Grande do Sul. Em função do interesse de novos produtores, somado à falta de dados científicos e estudos comparativos, provocou o governo do Estado a desenvolver o Projeto Monitoramento e Desenvolvimento da Cultura do Lúpulo.
– O início do projeto ocorreu com a reativação, no ano passado, da Câmara Setorial das Bebidas Regionais. Como tem havido um interesse muito grande pelo mercado das cervejarias, e por Caxias figurar com destaque, nos foi demandado, que elaborássemos um projeto para pesquisa e fomento da cadeia do lúpulo no Estado – explica Alexander Cenci, chefe do Centro de Pesquisa Celeste Gobbato, com sede em Fazenda Souza, no interior de Caxias, e também responsável pela coordenação do projeto de fomento ao lúpulo.
A região escolhida foi a da Serra, com a identificação e convite de sete propriedades, distribuídas em cinco municípios – Caxias, Nova Petrópolis, Bom Jesus, São Francisco de Paula e Serafina Corrêa. Estas propriedades passarão a receber suporte técnico da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), por meio do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA), com a Emater/RS-Ascar, que vai levantar informações a respeito do plantio, e da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), por meio do curso de Tecnologia de Alimentos, do campus Caxias, que vai fazer as análises de custo e de mercado. Tudo isso, em parceria com a Associação Gaúcha de Microcervejarias.
– A história do lúpulo do Brasil remete às colonizações europeias no Século 19, de poloneses no Paraná e, aqui na Serra, em Nova Petrópolis, com os imigrantes alemães, que trouxeram para o Brasil mudas de lúpulo para a sua produção artesanal de cerveja. Mas esse plantio teve um hiato bem longo, com registros de retomada da produção em 2005, em São Paulo. Então, se tu for ver, o plantio de lúpulo no país tem apenas 15 anos.
Cenci revela que o perfil desses novos produtores é de jovens, com espírito empreendedor
– Temos percebido que o perfil é de jovens com outras profissões, como publicitários, advogados, empresários, e que estão voltando para o meio rural, porque enxergam no lúpulo uma alternativa de negócio. Nossa expectativa é a de que essa possa ser também uma cultura para ser explorara no contexto da agricultura familiar, já que a área de cultivo não precisa ser muito grande. O lúpulo é com certeza um potencial para a cadeia produtiva na Serra – avalia Cenci.
O total de área plantada, conforme estimativas, é de 40 hectares no Brasil, sendo 7 no RS. A tendência é de um crescimento já a ser verificado em 2021, porque, diferentes variedades de lúpulo têm se adaptado bem ao solo gaúcho. Com relação aos custos da implantação e preço para a venda do produto, o projeto não mapeou ainda, porque se trata de um processo inicial. Mas Cenci diz, que, segundo dados do Estado de Santa Catarina, o custo do cultivo pode chegar até R$ 60 por planta. No entanto, por ser uma planta com longevidade de 15 a 20 anos, esse preço pode ser diluído em R$ 25, ao longo de 10 anos. Com relação ao preço do lúpulo seco, varia entre R$ 100 a R$ 350, o quilo. Pode ser ainda maior o preço, após ser processado em forma de “pellet”, que é a matéria orgânica comprimida em pequenos tabletes.
Programa do governo do estado pretender dar mais sutentação à cadeia do lúpulo
Alexander Cenci, coordenador do Projeto Monitoramento e Desenvolvimento da Cultura do Lúpulo, explica que nos próximos anos, com a continuidade desta ação, se poderá dar uma base melhor de sustentação à cadeia do lúpulo.
– Temos já alguns avanços e pessoas que já trilharam parte dessa cadeia e que têm contribuído muito com esse projeto. O Natanael Moschen Lahnel ajudou a fazer o manual da Apolúpulo (Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo), e tem viveiros de plantas em Gramado. Em Caxias tem a Lupulândia, do Jonas Dall Agnol, que é uma pessoa que projeta as máquinas para o manejo, e quase não existem empresas com esse enfoque, que faz também a peletização para os produtores. O Gustavo Laurindo, que é produtor em São Francisco de Paula, que é um dos poucos que já adquiriu máquinas para o beneficiamento do lúpulo. Enfim, há uma cadeia sendo formada, e nosso objetivo é contribuir para o melhoramento.
Cenci vai ainda mais além dos desafios do cultivo e da formação e uma cadeia especializada, quando cita exemplos do comportamento de consumo. Para ele, as cervejarias têm se aproveitado da tendência do consumidor que está cada dia mais em busca de um produto único, e não mais padronizado e massivo.
– Percebe-se que até mesmo as grandes cervejarias brasileiras já têm percebido essa tendência, lançando novos rótulos diferenciados. Está reduzindo a padronização do alimento, e sendo substituída pela singularização. Não se verifica isso apenas no ramo da cerveja, mas em outras cadeias. E em uma cadeia curta, como essa da cerveja, é possível conhecer até quem produz a bebida, o que acaba por se tornar um diferencial – argumenta Cenci.
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