A história de quem já percorreu parte dessa trilha do lúpulo é marcada por um misto de teimosia, ousadia, coragem e apreço pelo desafio. O caxiense Jonas Dall Agnol tem 35 anos, com formação em gestão comercial. Passou parte da vida profissional no departamento de engenharia de projetos, em uma empresa multinacional austríaca, com sede em São Bernardo do Campo, no interior do Estado de São Paulo.
– Minha formação foi o que menos ajudou… – diz, desviando o olhar, como se voltasse no tempo.
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Jonas não consegue esconder, é um apaixonado. Não apenas pelo processo, que começa, no seu caso, no plantio das mudas, passa pela colheita, processamento do lúpulo nas máquinas que ele mesmo projetou e desenvolveu, até a comercialização no seu site e em plataformas de distribuidores. Jonas é apaixonado pelo desafio.
– Ainda estamos no meio de dois grupos: um que diz ser impossível fazer um bom lúpulo no Brasil e outro, dos entusiastas, que acredita no potencial. Na verdade, muitos me chamam do maluco do lúpulo – diz, em gargalhadas.
Em quatro anos, desde que começou com o plantio de lúpulo, Jonas enfim viu a floração do seu empreendimento. Foi durante a pandemia, enquanto muitos estavam calculando as perdas por conta da paralisação forçada de diversas cadeias produtivas.
– As pessoas estavam mais em casa, sem ter o que fazer, e começaram a pensar: “vou aprender a fazer cerveja.” Eu tive a sorte de ter enviado meu produto, em pellet, para o cara certo, o Leandro Oliveira, do canal Cerveja Fácil. Depois que ele fez um vídeo mostrando o meu produto, no dia seguinte tinha gente me escrevendo no instagram, por e-mail, me telefonando, dizendo que não conseguia comprar pelo meu site, porque o sistema não deu conta de tantos pedidos – conta.
Jonas afirma ser o primeiro no Brasil a vender lúpulo peletizado.
– Esse é um dos meus orgulhos, e pra cidade também. Porque está na história, é de Caxias a primeira empresa que começou a vender lúpulo em pellet. Atualmente já tem outras, mas quero ser a melhor opção no Brasil nesse segmento. Nos sites das distribuidoras, tem lá os produtos importados, mas o meu também está ali.
Outro pioneirismo ostentado por Jonas é o de ser o primeiro a fabricar máquinas para o processamento do lúpulo. O empresário diz que, no mundo, há nove empresas desse porte e afirma ser o décimo nesse seleto mercado.
– Eu só não estou na lista oficial porque os americanos não me conhecem, ainda – brinca.
O foco de Jonas é seguir mirando no cervejeiro caseiro, chamado de paneleiro, que é um apaixonado pela cerveja artesanal. Mas revela que já existe interesse das cervejarias pelo seu produto. Temporariamente, o empresário deixou de lado a perspectiva de ele mesmo fabricar uma cerveja com a sua marca. No entanto, com olhar atento às possibilidade do mercado e enxergando uma forma de levar a marca do seu produto para outro patamar, ele abre o jogo e conta que vai lançar três tipos de cerveja em uma parceria com uma empresa de Caxias.
– Desisti de fazer cerveja, por enquanto, mas iniciei um contato com uma cervejaria de Caxias para ter um produto com a minha marca, com meu terroir, e vou lançar três rótulos, agora em dezembro. Será uma do tipo Harvest Ale, conhecida como cerveja de colheita, outra Ipa, estilo que tem usado muito o lúpulo brasileiro, e uma Apa, que é mais popular. Meu objetivo é mostrar que é possível fazer uma boa cerveja 100% brasileira – revela.
Em meio à entrevista, por mais de um momento, Jonas se emocionou com o relato da epopeia em tornar viável seu sonho. Além de noites mal dormidas, a preocupação com o recurso escasso, a demissão do antigo emprego em meio ao desenvolvimento da primeira máquina para peletizar, diz ser difícil explicar porque insistiu tanto com algo que parecia impossível. Depois de refletir, mirou no repórter e sintetizou em uma frase o nível da sua ousadia:
– Eu não tenho opção de dizer que não vai dar certo. Eu preciso fazer isso dar certo.
Reunião importante para o fomento da cadeia do lúpulo
No dia 5 de novembro ocorre uma reunião importante para o fomento do setor, em Caxias do Sul, com a presença de representantes da Emater, Secretaria Estadual da Agricultura e Ministério da Agricultura, com a presença de Jonas Dall Agnol.
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