Com medidas de distanciamento controlado ainda em vigor, que impedem aglomerações, os motéis estão se tornando uma opção segura de entretenimento para os casais. Além de ser um ambiente privativo, sem contato com funcionários ou outros clientes, oferece gastronomia e a possibilidade de permanecer quantas horas o hóspede desejar. Os diferenciais já refletem em um leve crescimento no movimento dos motéis em Caxias do Sul nas últimas semanas.
— A partir de julho começou a aumentar, mas a procura é ainda tímida, segue a tendência dos meios de hospedagem. Com a chamada "fica em casa", tiveram períodos com zero de faturamento e quando puderam abrir o fluxo não aconteceu. A retomada é gradual e lenta — destaca Marcia Ferronato, diretora executiva do Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria Região Uva e Vinho (Segh).
Embora a demanda ainda não tenha normalizado, esse pequeno aumento na busca pelo serviço já é um alento. No início da pandemia, quando as medidas eram mais enfáticas e os casais estavam mais receosos de sair de casa, a queda no faturamento chegou a 70% em alguns estabelecimentos. Atualmente, entre os cinco motéis ouvidos pela reportagem — Caxias tem 25 —, a redução fica entre 30% e 50%. Os números são similares à realidade no país, que também amargou perdas na faixa dos 70% entre março e abril, conforme dados da Associação Brasileira de Motéis (ABMotéis).
De acordo com a entidade, o faturamento hoje em relação ao período pré-pandemia, está entre 70% e 80%. Neste caso, diferente de Caxias, a retomada começou antes, ainda no Dia dos Namorados — sem restaurantes, teatros e cinemas abertos em muitas cidades na época, os motéis acabaram sendo a alternativa para a comemoração.
— A gente foi entendendo que oferece uma forma de entretenimento seguro. O hóspede não tem contato com ninguém, apenas com o parceiro — destaca Larissa Calabrese de Deus, coordenadora da ABMotéis.
Um novo consumidor
Com a nova realidade criada pela pandemia, surgiu um novo cliente de motel. Conforme levantamento realizado pela Associação Brasileira de Motéis, os hóspedes estão permanecendo mais tempo no estabelecimento ou optando até mesmo pelo pernoite. O aumento na permanência também provocou crescimento proporcional no consumo de alimentos e bebidas durante a estadia. Cerca de 54% dos motéis consultados pela ABMotéis tiveram aumento nos pedidos por refeições.
— Há muito tempo trabalhamos para acabar com o preconceito que existe neste aspecto. Os motéis têm investido em alta gastronomia, com chefs renomados. Agora, na marra, as pessoas puderam experimentar — brinca Larissa.
Cuidados redobrados
Higiene, limpeza e proteção sempre foram preocupações constante do setor. Com a chegada do coronavírus, os cuidados foram redobrados. Uma cartilha foi publicada pela Associação Brasileira de Motéis (ABMotéis) com orientações aos estabelecimento para garantir a aplicação de boas práticas e protocolos sanitários vigentes. Entre as medidas, por exemplo, a aferição de temperatura dos colaboradores e a proibição da entrada no motel de mais de dois hóspedes por quarto.
Além de processos e controles rígidos, os motéis têm utilizado produtos profissionais para esterilizar e desinfetar todas as áreas das suítes. Uma parceria foi firmada pela ABMotéis com a Bureau Veritas para promover a certificação profissional de higiene e limpeza dos motéis.
— O setor redobrou a atenção, fez treinamentos, adotou cardápios digitais. O objetivo é passar segurança aos hóspedes, a importância do cuidado com a limpeza. A relação de consumo é baseada na confiança e tem hábitos que vão mudar — acredita Larissa Calabrese de Deus, coordenadora da ABMotéis.
A internet tem servido como principal ferramenta para estabelecer essa relação de confiança com os hóspedes. Conforme Larissa, muitos motéis tem apostado em vídeos curtos para mostrar as medidas adotadas e o quão seguro o estabelecimento é:
— Os motéis têm investido em marketing nas redes sociais, se comunicando mais com o cliente.
PERFIL:
71% dos frequentadores assíduos e 85% dos menos assíduos de motéis no Brasil são pessoas em relacionamento estável.
Detalhes para atender aos clientes
Patrícia de Souza, proprietária do motel Astral, foi uma das tantas empresárias do setor que viu o movimento despencar no início da pandemia. Primeiro, o faturamento zerou com os dias de portas fechadas por força dos decretos. Depois, com a reabertura, a queda foi de 70%. Em julho, a demanda começou a crescer, ainda que de forma acanhada, e agosto já está melhor.
— Aos poucos os hóspedes foram retornando, mas não chegou ao que era antes. O maior movimento é durante o dia. À noite, como não teve mais festa, caiu a procura — diz.
O retorno tem sido cercado de cuidados. Patrícia conta que recebe muitas ligações e mensagens de texto com perguntas sobre as medidas de higiene adotadas pelo motel. Os hóspedes também têm feito pedidos que acabaram sendo incluídos na rotina do estabelecimento como o fornecimento de lenços com álcool para limpeza dos celulares dos clientes.
Outra solicitação dos casais foi a possibilidade de mais opções de refeições. Como o Astral oferecia somente pizza e batata frita, Patrícia fez uma parceria com restaurantes da cidade para delivery.
— Foi um hóspede mesmo que pediu se podia pedir uma telentrega, então abrimos essa opção. Eles estão ficando mais tempo no motel. Antes a média era de uma hora, agora ficam três horas e acabam consumindo mais — acrescenta.
O que também cresceu foi a quantidade de pernoites, seja de casais seja de viajantes. Por conta disso, Patrícia incluiu o café da manhã no valor de quem passa a noite no motel:
— É uma coisa que está nos segurando. Hoje, o motel concorre com o hotel. A diferença é que trabalhamos por hora, eles por diária.
Dos 14 quartos do Astral, seis estão à disposição dos hóspedes. Patrícia aproveitou a redução para fazer reforma em um deles e colocar uma banheira — item que tem tido muita procura neste período de distanciamento. Nestes meses de baixo faturamento, duas pessoas foram desligadas. Mas a expectativa é recontratá-las quando a pandemia passar.
NO PAÍS:
São cerca de 5 mil motéis espalhados pelo território brasileiro.
"Ainda não é o que era antes"
Após 20 dias fechado, sem faturamento, e meses com baixa procura, o motel Sedução vê os clientes voltarem aos poucos. A procura começou a crescer na metade de julho — e a animar o gerente Jonas de Bairros. Ainda não é a mesma demanda pré-pandemia, quando o estabelecimento, com oito quartos, recebia entre 40 e 45 hóspedes por dia, mas já dá sinais de retomada.
— Logo na reabertura, o faturamento foi de 50%. Há cerca de um mês a coisa começou a melhorar. O movimento começou a voltar, mas ainda não é o que era antes. Hoje o número de clientes fica entre 30 e 35 por dia.
A redução no movimento também se deve ao menor número de quartos oferecidos — o motel opera com metade da capacidade. Enquanto metade é ocupada pelos hóspedes, a outra metade é higienizada.
— Mas estamos evitando locar as suítes, porque demora mais para ser higienizada por causa da banheira — completa Bairros.
O gerente conta também que no retorno, em abril, os hóspedes estavam ficando menos tempo no motel, entre quarenta minutos e uma hora. Agora, a média de permanência voltou a ficar em duas horas:
— Acho que no início não sabiam muito bem como funcionava ou tinham mais receio.
"Tomara que seja um indício de retomada"
Agosto parece estar sendo o mês da retomada para o motel Lebond. A clientela, que deixou de frequentar de forma mais intensa o estabelecimento a partir da segunda quinzena de março, quando as medidas de distanciamento foram adotadas, começa a retornar.
Conforme a gerente do estabelecimento, Helena Dalanhol, um dos pontos que tem chamado a atenção da direção é o grande número de pernoites nos últimos dias.
— Teve aumento de casais pernoitando, acho que é porque não tem mais festas à noite. Tomara que seja um indício de retomada — espera.
A expectativa é de que o movimento, que caiu 40%, aumente a partir de agora. Para garantir a segurança dos hóspedes, a higiene foi reforçada.
— Tudo o que pode ser tocado é higienizado — frisa Helena.
Os 20 apartamentos do Lebond estão em funcionamento e, apesar da crise, nenhum dos 10 funcionários foi demitido.
— Fomos apertando as contas, deixando de fazer alguns investimentos, mas não teve nenhuma demissão — orgulha-se Helena.
IMPACTOS
> Queda no faturamento em março e abril foi de aproximadamente 50%, chegando a 70%.
> Hoje, faturamento está entre 70% e 80% do que era na pré-pandemia.
> Mais de 40% dos motéis permaneceram abertos durante todo o período de pandemia.
> Apenas 4,6% esteve fechado por mais de dois meses.
> Hóspedes têm optado por períodos mais longos e pela modalidade de pernoite.
> Aproximadamente 54% dos motéis tiveram aumento no consumo de alimentos e bebidas durante a estadia.
Fonte: Associação Brasileira de Motéis
HIGIENE E PROTEÇÃO
A ABMotéis publicou uma cartilha de orientações sobre o funcionamento dos motéis nesse período. Entre as medidas que os motéis devem tomar, estão:
> Cuidado e aferição de temperatura dos colaboradores.
> Intensificação da higiene e comunicação em todas as suítes sobre a importância de lavar as mãos.
> Proibição da entrada no motel de mais de dois hóspedes por quarto.
> Acompanhamento das orientações e procedimentos indicados pelas autoridades sanitárias.
> Utilização de produtos químicos de linha profissional para esterilizar e desinfetar todas as superfícies, hidros e demais áreas das suítes.