Lançado no início do mês, por um grupo de executivos brasileiros — entre eles, Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, Sérgio Rial, do Santander, e Cesar Gon, da CI&T — o movimento Não Demita já ganhou a adesão de mais de 4 mil empresas. Do Rio Grande do Sul são, pelo menos, 230. Há, inclusive, marcas da Serra Gaúcha, como Marcopolo, Dedeka, Duo Studio Interativo, O Sucateiro, Solferti Indústria de Fertilizantes, Exacta Engenharia, Posto Fagundes e Malba Gestão e Tecnologia, de Caxias do Sul; Alpen Park, de Canela; Loja Verse, de Farroupilha; Dupont Spiller Advogados, de Bento Gonçalves; Rotenge Engenharia e Construção, de Carlos Barbosa; e Mave Comércio de Acessórios, de Garibaldi. São empreendimentos comprometidos, mesmo com a crise provocada pela pandemia do coronavírus, a não demitir nenhum funcionário até o dia 31 de maio.
O grupo defende que é possível neste período "segurar as pontas". Os empresários entendem que desligar colaboradores gera um custo imediato, muitas vezes maior que dois meses de salários. Além disso, eles reforçam que há soluções, como linhas de crédito, para ajudar as empresas a atravessar a tempestade.
CEO da HSM, braço da Ânima Educação, uma das idealizadoras da campanha, Reynaldo Gama conversou com a reportagem para explicar o que é o movimento, que tem gerado, segundo ele, muita cooperação entre os participantes — novos produtos e negócios estão surgindo. E fez um apelo: que as empresas demonstrem união e mantenham seu quadro funcional. Confira:
Pioneiro: O que é o movimento Não Demita e como ele surgiu?
Reynaldo Gama: É um movimento que foi criado no começo de abril, lançamos oficialmente no dia 3 de abril e foi um movimento em que alguns executivos se reuniram, o Daniel Castanho, que é o presidente e fundador da Ânima Educação, a Luiza Helena Trajano, o Sérgio Rial (presidente do Santander), o Cesar Gon, da CI&T, enfim, alguns executivos se reuniram para incentivar que as empresas não demitissem neste momento tão importante, neste momento em que as pessoas estão inseguras e que isso é um momento que vai passar. Para as empresas segurarem de 1º de abril até o final de maio as demissões, que é onde o grupo acredita que será o pico dessa crise. O movimento surgiu dessa união de executivos de quase 40 empresas.
Como as empresas têm lidado com essa situação? Quais as soluções para não demitirem?
É um momento muito difícil, mas a gente tem ficado muito feliz com o resultado desse movimento, dessa campanha. Até agora, mais de 4 mil empresas aderiram ao movimento. São empresas do Brasil inteiro. A gente está falando em mais de R$ 1,5 milhão de empregos impactados com essas empresas que já aderiram. É um momento difícil, mas é o momento de as empresas se unirem, se ajudarem para não deixar descobertos aqueles que mais precisam, que são os funcionários. O movimento foi muito bem aceito e você tem empresas desde porte pequeno, de até 10 funcionários, até empresas com mais de 10 mil funcionários. Quem tem aderido: redes de cinema, lojas, farmácias, pequenas empresas de software, de serviços, até as grandes empresas, como XP, Santander, Itaú, Magazine Luiza. São muitas empresas aderindo, e esse é um movimento que não deve parar. A gente deve continuar incentivando as empresas para que aceitem esses termos para que de fato consigam manter os seus funcionários empregados.
Como está a adesão das empresas do Rio Grande do Sul ao movimento?
Muito grande, muitas empresas do Sul aderindo. Está muito focado em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Rio Grande do Sul. O RS é um Estado que tem se posicionado muito bem perante o movimento.
Como as empresas participantes se auxiliam para evitar demissões?
A gente tem visto uma união muito grande entre as empresas, desde se unindo para criar produtos até unindo para serem clientes ou fornecedores umas das outras. A gente tem visto empresas criando coisas juntas, produtos, serviços e também se ajudando como fornecedores, como clientes, se descobrindo, fazendo bons negócios. Tem empresas de software, por exemplo, fornecendo soluções para empresas grandes neste momento. A gente tem visto, sim, um movimento de cooperação muito grande tanto no quesito de criação de novos produtos até como cliente e fornecedor.
Vocês imaginam o pico no final de maio. Se essa situação se estender, é possível segurar as demissões por mais meses?
É um momento muito delicado, a gente tem acompanhado, as conversas têm sido muito profundas em todos os aspectos. É uma crise que de manhã você toma uma decisão e, às vezes, à tarde você tem de rever a sua decisão. Então, esse é um movimento que é muito vivo, e obviamente que se isso se estender, nós precisamos entender os impactos que têm para as empresas neste momento. Nem todos vão conseguir se segurar por mais meses dependendo de como essa crise vai avançar. Dependendo dos impactos da covid-19, a gente precisa entender. Então, é um movimento que a gente repensa, a gente discute o tempo inteiro. A gente tem estado muito próximo dos empresários para entender as necessidades. A gente tem visto uma série de iniciativas surgindo, de apoio aos empresários. A gente tem de esperar a evolução, entender como vai ser para aí sim discutir. O intuito é que esse movimento ganhe repercussão cada vez mais para assim ajudar o trabalhador. Os empresários precisam se unir, e a gente acredita que essa crise vai passar e que agora é a hora de união e manter os funcionários, aqueles que estão ajudando, colaborando nas empresas. Agora é a hora de as empresas ajudarem os seus funcionários.
Como empresas interessadas podem aderir ao movimento?
É só entrar no site naodemita.com, ali tem um pouco do manifesto, tem as empresas que já aderiram e aí você precisa clicar no link de cadastro, precisa ser um representante legal da empresa e aí faz o cadastro. A gente faz uma pré-validação para conferir se a pessoa que se cadastrou responde pela empresa e daí a gente sobe a empresa no site.