Quem depende de transporte coletivo para ir e vir em Caxias do Sul está preocupado com o reajuste no preço da passagem. Na ponta do lápis, o usuário avalia o que vale mais a pena: pagar R$ 4,65, como sugerem os técnicos da prefeitura ou buscar vias alternativas como o transporte por aplicativos. Aliás, conforme revela a Visate, um dos motivos que justifica a decrescente procura da população pelo transporte coletivo é o aumento da oferta dessa modalidade alternativa, como Uber e 99 Táxi.
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Para se ter uma ideia do impacto do preço da passagem, um trajeto saindo do Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho, no Panazolo, com destino na RBS TV, no centro de Caxias, custa, pela Uber, em torno de R$ 5. Ou seja, o equivalente a uma passagem de ônibus. Esse é apenas um dos exemplos de vias alternativas que as pessoas têm encontrado para transitar pela cidade.
Na última década, a Visate perdeu 39% dos passageiros. Em 2019, a empresa deixou de arrecadar R$ 5,9 milhões com o decréscimo de 1,4 milhões de usuários, conta baseada no atual valor da tarifa, R$ 4,25, em um comparativo ao número de usuários de 2018. Esse quebra na balança motivou a Visate a recorrer a dois empréstimos bancários no total de R$ 5 milhões (contraídos em dezembro de 2019, R$ 2 milhões, e, em janeiro, R$ 3 milhões) para quitar o 13º salário e o salário de janeiro.
Além do crescente aumento no número de transportes por aplicativo (há cerca de 4 mil motoristas em Caxias) a Visate elenca ainda outros pontos, que, na visão deles, justifica o baixo número de usuários. O documento enviado ao Pioneiro, na manhã de ontem, descreve a recessão econômica como item número 1: “O baixo desempenho econômico do país por anos seguidos, gerou um número histórico de desempregados e isso, combinado com o alto índice do chamado ‘trabalho informal’, trouxe consequências diretas no transporte coletivo, que tem no vale-transporte (sustentado pelas empresas), cerca de 50% dos usuários do transporte coletivo urbano da nossa cidade”.
A seguir, o documento questiona como o poder público lida com a questão da segurança pública, principalmente em zonas afastadas do centro. “A insegurança pública associada com a falta de infraestrutura, tais como paradas de ônibus em condições precárias e a ausência de informação em relação às linhas, horários e frequência dos ônibus, foram ao longo do tempo desestimulando as pessoas a utilizarem o serviço”.
O relatório da Visate, encerra, com um o que a empresa chama de “falta de incentivo ao uso do transporte público por parte da anterior administração municipal”. Na mira da Visate está, o que o documento chama de “divergências ao SIM Caxias”. Segundo a empresa, essa divergência “causou retrocesso à mobilidade urbana, com medidas de incentivo ao uso dos meios individuais de transporte, em detrimento do coletivo”.
Esses argumentos, além das implicações econômicas, pontuadas na reunião de terça-feira, na Prefeitura de Caxias, justificam, segundo a Visate, o aumento da tarifa de R$ 4,25 para R$ 4,91. O Conselho Municipal de Trânsito tem até 10 dias para aprovador o valor sugerido pelos técnicos da prefeitura, a R$ 4,65. Depois, da avaliação do conselho, o documento será submetido ao prefeito Flávio Cassina (PTB), que poderá acatá-lo ou não.
"A cidade não é da Visate, é de todos os caxienses", diz ex-secretário
No documento que a Visate enviou ao Pioneiro, na manhã de ontem, um dos itens que mais chama a atenção refere-se claramente a “anterior administração municipal”, ou seja, ao governo Guerra. Para Cristiano de Abreu Soares, ex-secretário de Trânsito, Transportes e Mobilidade da legislatura do ex-prefeito Daniel Guerra, isso é cortina de fumaça. Para Soares, a grande questão que estava sendo colocada em xeque pela administração passada era coexistência de mais de uma empresa de transporte na cidade.
– Uma coisa tem de ficar clara: a cidade não é da Visate, é de todos os caxienses. No edital (licitação de transporte coletivo) que lançamos no dia 12 de dezembro de 2019, que seria finalizado em janeiro deste ano, tínhamos quatro empresas interessadas em operar com uma tarifa de R$ 4,20. O que ainda poderia até ser menor, já que a licitação funcionava em forma de leilão, beneficiando quem desse o menor lance – revela Soares.
O ex-secretário ainda faz duas provocações:
– A quem interessa cancelar o edital? – diz, referindo-se a notícia de 5 de janeiro, quando o governo interino anunciou que faria uma análise jurídica do edital.
E segundo:
– Se a Visate reclama que gostaria de ter de volta as duas pistas exclusivas na Sinimbu e a proibição da conversão à direita no centro de Caxias, porque eles não cobram isso do atual prefeito? As placas ainda estão lá na secretaria dos transportes.
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