Segundo maior município da região, Bento consolida ano a ano seu destaque no turismo. O sintoma está no próprio reconhecimento da cidade como sede de eventos importantes. Não é por acaso, por exemplo, que foi escolhida para receber, em dezembro passado, o Encontro de Cúpula do Mercosul.
Mas como medir o apelo de uma cidade em presença de turistas? Considerando que em algum lugar os visitantes têm de dormir, a ocupação da rede hoteleira é o parâmetro para avaliar o trânsito de pessoas de fora.
Em 2019, a cidade registrou ocupação média mensal de 46,01%. O aumento é pequeno em comparação ao ano anterior, quando a média foi de 44,30%. Porém, em análise proporcional, o percentual é relevante, considerando-se os mais de 3,8 mil leitos ofertados nos 44 hotéis da cidade, que, colocados na equação dos 46% representam média de mais de 1,7 mil hospedagens a cada mês.
O percentual de ocupação é bem avaliado pelo Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria Região Uva e Vinho (Segh), mas com ressalvas.
— A gente vive outra realidade em comparação a outros anos. A economia mudou. Hoje, por exemplo, em eventos, em vez de vir cinco representantes de uma empresa, vem três e ficam menos tempo. Mas a cidade vem se adaptando a essa realidade, que é uma situação de mundo — comenta a diretora executiva do Segh, Marcia Ferronato.
Marcia, que atua pela entidade há 20 anos, afirma já ter vivenciado ocupações médias de mais de 70%, época em que havia necessidade de recorrer à rede hoteleira de Porto Alegre, pois as vagas dos hotéis da Serra se esgotavam.
— É um comparativo que precisa ser colocado em termos, pois vários fatores influenciam, o momento econômico e o próprio aumento do número de leitos — complementa.
Caxias do Sul, cidade quase cinco vezes maior do que Bento, registrou média de 47,5% de ocupação em 2019. Apesar de maior, o índice nominal é inferior a Bento se for considerada a proporcionalidade de leitos e hotéis. No ano passado, Caxias dispunha de 26 hotéis e ofertava 3.426 leitos.
— Caxias tem de segunda a quinta uma ocupação que Bento não tem — avalia Marcia Ferronato.
Alternância de perfil e público
Na visão do presidente do Segh, Vicente Perini, a ocupação hoteleira não é um benefício individual, mas sim uma cadeia:
— Vemos como oportunidade esta similaridade regional. Unir forças com certeza gerará mais sucesso ao segmento de eventos, temos que ser cada vez mais competitivos e apoiar nossos associados na busca do equilíbrio econômico. A nossa entidade sempre teve essa postura de estimular o planejamento com olhar regional, isto é ser estratégico. E na prática muitos eventos já têm este impacto regional, como são os casos da Movelsul, Mercopar, Fimma, Festa da Uva, dentre outros — defende Perini.
Segundo Marcia, a variedade de eventos, com diferentes apelos é um dos alicerce do planejamento.
— Esses eventos são importantes, pois além da taxa e recurso que deixam aqui, dão visibilidade que acaba vendendo durante o ano. Uma hora é o vinho chamando, o próprio setor hoteleiro, a prefeitura trazendo festival, isso garante a continuidade de estar na mídia — destaca.
Entre os eventos de maior movimentação em Bento, destacam-se a Movelsul (ou Fimma em anos ímpares), Expobento/Fenavinho, Wine South America e Fiema.
Ocupar o calendário para não desocupar a rede
Por mais que eventos de referência registrem mais de 90% de ocupação, os intervalos são prejudiciais para o segmento, avalia a diretora executiva do Segh, Marcia Ferronato.
— Esses 46% são a média do mês (em Bento), que registra picos, mas se tiver três ou quatro dias de baixa, isso já joga os números lá para baixo. Por isso, tudo tem que ser analisado nos diferentes contextos.
Por isso, segundo ela, é preciso constantemente estudar o calendário, potenciais de feriados e, principalmente, épocas ociosas de programação.
— Março, por exemplo, para lazer cai muito, acabou férias e volta a ter um monte de coisa para pagar. Por isso, é extremamente importante termos a Movelsul, ou a Fimma em anos ímpares, justamente para equilibrar o calendário com baixa temporada e não depender só do turismo de lazer.
Com o propósito de pensar estratégias para o setor, Segh, Secretaria Municipal de Turismo (Semtur), Bento Convention Bureau e Conselho Municipal de Turismo de Bento Gonçalves (Comtur) se reúnem constantemente.
— O que é inteligente de quem está pensando em políticas públicas e estratégias para o turismo é estar envolvido com vários nichos — ressalta a diretora do Segh.
Conforme a programação divulgada no site da prefeitura de Bento Gonçalves, a cidade já tem programada para 2020 a realização de 48 eventos, sendo pelo menos 12 de apelo turístico de lazer ou negócios.
PRINCIPAIS EVENTOS
Estação Vindima - de 17/01 até 29/03. Alta temporada da colheita da uva. Em andamento.
Movelsul 2020 - de16/03 a 19/03.
XV Ajorsul Business 2020 - de 26/03 a 28/03. Evento da Associação do Comércio de Joias, Relógios e Óptica. Lançamentos e tendências em joias, relógios, óptica e afins.
Bento Jazz & Wine Festival - de 27/03 a 29/03
Envase Brasil - de 31/03 a 03/04. Tecnologia, embalagens e processos para a indústria de bebidas e alimentos.
Fiema Brasil 2020 - de 14/04 a 16/04. Feira de Negócios, Tecnologia e Conhecimento em Meio Ambiente.
5º Congresso Internacional de Turismo da Região Uva e Vinho - de 04/06 a 05/06.
ExpoBento & Fenavinho 2020 - de 05/06 a 14/06.
Festival de Balonismo - de 10/09 a 13/09.
Wine South America _ Feira Internacional do Vinho - de 23/09 a 25/9.
Festa Nacional da Música - Sem data definida.
EM NÚMEROS
Rede hoteleira
Bento Gonçalves tem 3,8 mil leitos ofertados nos 44 hotéis.
Permanência
Conforme a Secretaria de Turismo, a taxa de permanência do visitante em Bento Gonçalves é de 2 diárias.
Ocupação em Bento (120 mil habitantes)
2017 46,65%
2018 44,30%
2019 46,01%
Ocupação em Caxias (510 mil habitantes)
2017 43,82%
2018 48,06%
2019 47,52%
Fonte: Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria Região Uva e Vinho