O cultivo de alimentos orgânicos ganha cada vez mais espaço e se consolida no mercado da alimentação saudável. Segundo o Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), o cultivo destes produtos cresce, em média, 15% ao ano no Brasil. Em 2019, o setor movimentou R$ 4,5 bilhões. Poderia ser maior se a crise não tivesse atingido em cheio o solo brasileiro. Mesmo assim, 2019 ficou marcado como o ano dos orgânicos em movimento.
– Foi um ano em que ganharam vida própria. Rompemos a barreira das 20 mil unidades produtivas e o varejo entendeu a importância do orgânico no portfólio dos saudáveis – observa o diretor executivo da Organis, Clauber Cobi Cruz.
O Estado segue o movimento nacional. Dados do Centro Ecológico de Ipê indicam que, na Serra, 47 municípios estão envolvidos com a produção de orgânicos, em mais de 400 propriedades certificadas. No RS, este mercado movimentou cerca de R$ 880 milhões em 2018.
– Não tem como fugir da onda de consumo que está vindo por aí e que aumenta a cada ano – aponta o consultor do Centro, Leandro Venturin.
Mesmo assim, a produção ainda não atende à demanda. A Cooperativa de Agricultores e Agroindústrias de Caxias (CAAF), por exemplo, pretende inserir os orgânicos na alimentação escolar, mas não há oferta suficiente.
– O desafio está em convencer o agricultor a fazer a reversão da produção convencional – avalia Marcos Regelin, gerente da cooperativa.
Dos mais de 1,1 mil hectares de área de orgânicos plantados na Serra, 914 são de videiras. O produtor caxiense Antônio Rossi, 57 anos, foi um dos pioneiros no cultivo de uva sem veneno. Começou a reversão do parreiral 1997 com meio hectare de área plantada. Hoje, com quatro hectares de videiras cobertas, suas uvas são um sucesso. A venda da safra está garantida.
– Se tivesse mais, venderia tudo também – garante Rossi.
Ele lembra que os primeiros 10 anos foram muito difíceis.
– Poucos entendiam a diferença entre os orgânicos e os convencionais.
A insistência e a vontade de produzir sem o contato com agrotóxicos prevaleceu. Com previsão de colher 80 toneladas, boa parte da uva vai para Santa Catarina e São Paulo. O resto vai direto para os mercados da região. O preço do quilo fica entre R$ 6 e R$ 7. Nas gôndolas, o valor passa de R$ 10.
O alto preço pago pelo consumidor final ainda é um entrave para o setor deslanchar. Se comparado com os produtos convencionais (com veneno), a diferença pode chegar a 40%.
– Com a previsão de entrada de grandes empresas na produção de orgânicos, o custo tende a cair – prevê Venturin.
Mesmo assim, quem consome de forma consciente não reclama do preço.
– É um investimento na saúde – lembra Rossi.
O gosto pelos orgânicos e a certeza de que o setor só vai crescer faz a família Rossi diversificar a produção. A propriedade também produz batata inglesa e feijão. Tudo sem agrotóxico.
– Vamos ampliar ainda mais, pois o retorno é garantido. Não é fácil, mas aqui não entra qualquer tipo pesticida.
No RS
:: São quase 3.898 mil propriedades certificadas.
:: Mais de 4,5 mil hectares de área plantada.
:: Em 2018, o faturamento passou de R$ 880 milhões.
:: O crescimento na produção foi de 20%.
Na Serra
:: 47 municípios estão envolvidos com a produção de orgânicos.
:: São 405 propriedades certificadas. Representam 12,4% da produção no RS.
:: São 1,2 mil hectares de área plantada. Desses, 914 hectares são de parreirais.
:: Na safra 2019/20
, estima-se que a colheita de uvas orgânicas passe de 10 mil toneladas.
:: Foram produzidos 8,5 milhões de litros suco de uva integral.
:: O crescimento na produção foi de 20%.
:: Os municípios que mais produzem são Garibaldi, Farroupilha, Bento Gonçalves e Antônio Prado.
Em Caxias
:: O município não tem dados oficiais sobre a produção de orgânicos. A Secretaria da Agricultura aponta para 156 hectares de área plantada e cerca de 30 famílias envolvidas. Os produtos mais produzidos são: uva, morango, tomate e folhosas.