A cada ano, é normal que a tarefa de guardar dinheiro fique mais difícil. Isso ocorre porque, naturalmente, aumentamos o nosso padrão de consumo com o tempo. Além disso, as novas despesas aparecem — e nem sempre conseguimos nos livrar das velhas na mesma velocidade. Para aumentar ainda mais o desafio, os juros no Brasil vêm recuando de forma acelerada, significando menos ganho na poupança e nos títulos de renda fixa.
A boa notícia é que existe, sim, a possibilidade de poupar com atitudes simples no dia a dia e que podem fazer uma grande diferença ao longo de 2020. Tudo o que é preciso é planejamento e disciplina. Confira quatro atitudes cotidianas que, se bem administradas, podem significar mais dinheiro no bolso listadas por Valter Police, que é planejador financeiro CFP® (Certified Financial Planner) e head da Academia Fiduc.
1. TV a cabo e serviços de streaming
Há algum tempo, tornou-se tendência substituir a velha TV a cabo por serviços de entretenimento on-demand, veiculados via streaming. Muitos optaram por cancelar o serviço acreditando que estavam fazendo um negócio da China. Porém, é necessária uma reflexão: a internet continua sendo paga. A este custo, deve-se somar a assinatura do novo serviço — ou dos novos serviços. A grande variedade de oferta com séries, filmes, novelas, programas e música faz com que sejam assinados diversos serviços à primeira vista de baixo custo, entre R$ 20 e R$ 35, mas que somados podem representar uma despesa considerável. O pior: nem sempre o consumidor desfruta deste portfólio.
A economia neste caso depende que a pessoa conheça a si mesmo, seus gostos e hábitos. Uma vez refletida esta realidade, deve-se considerar um serviço principal, aquele que é o mais usado. Este terá sua assinatura contínua. Para os serviços de streaming de músicas, vale o mesmo raciocínio.
2. Gastos bancários e cartão de crédito
A grande maioria dos brasileiros ainda é refém dos serviços dos grandes bancos, pagando despesas como taxas de manutenção de conta. Essas taxas variam em torno de R$ 30 por mês e muitas vezes não isentam os clientes de outras cobranças, em especial sobre as transferências. Basta um cálculo simples para lembrar a gravidade da situação. O valor "irrisório" mensal multiplicado por 12 vira gigante. Da mesma forma, as anuidades de cartão de crédito já não fazem mais qualquer sentido no mercado atual. O país está cheio de novos bancos e fintechs que oferecem contas e cartões sem custo algum. Em pleno 2020, gastar com serviços bancários é realmente jogar dinheiro fora.
3. Ir ao cinema ou comer fora
Os principais programas de fim de semana representam uma despesa considerável. Engana-se quem pensa, contudo, que é preciso reduzir o ritmo ou evitar saídas para ter mais dinheiro. Às vezes, é possível gastar menos e aproveitar mais. No caso dos cinemas, há sempre uma rede que oferece meia-entrada. O máximo de trabalho que isso pode gerar é, talvez, a breve emissão de um voucher pela internet antes de ir à bilheteria. O mesmo acontece com os restaurantes e lanchonetes. Em uma rápida pesquisa, mesmo com pouca antecedência, é possível descobrir quais deles têm descontos para certos tipos de cartões, quais possuem ofertas disponíveis em sites de descontos, quais cobram um preço menor por reservas feitas de forma online em determinados sites. A economia em todos esses casos gira em torno de 30% e pode ser ainda maior.
4. Compras presenciais ou online
As compras diárias levam em consideração inúmeros fatores, são processos instintivos e que dificultam um planejamento específico. No entanto, é possível mentalizar alguns processos para evitar gastos desnecessários. Num supermercado, é bom evitar ir com fome, sede ou sem uma lista de compras definida. Mas será mesmo que ir ao supermercado é uma boa ideia? Ultimamente, surgiram diversos aplicativos de compras. Embora eles apresentem produtos com destaque especial, visando induzir o consumo, esse estímulo em nada se assemelha à tentação de ter o produto ali a pouco centímetros de distância. Além disso, os apps oferecem descontos na hora ou por meio de cash back (programa de reembolso). O mesmo acontece com as compras em lojas, shoppings etc. Pela web, é possível encontrar o produto sempre por um preço mais barato do que na loja física.
Breve exercício
Um serviço de streaming desnecessário foi cancelado (R$ 30 por mês), a conta com taxa e o cartão de crédito com anuidade não existem mais (R$ 50), o cinema e o restaurante pelo menos uma vez por mês agora saem mais barato (R$ 60). Chega-se a uma possível economia de R$ 140 por mês, o que equivale a R$ 1.680 por ano. Com a Selic a 4,5%, o valor corrigido é R$ 1.714 num investimento conservador. Ao longo de cinco anos, são quase R$ 10 mil. Se você construir uma boa carteira de investimentos, o valor acumulado pode ser ainda maior. É claro que, durante o período, vão aparecer gastos imprevistos, mas também podem aparecer novas receitas. A diferença é estar preparado.