Não há mais como ignorar o mercado pet. Alguns podem ridicularizar as roupas de festas, criadas por grifes fashion, especialmente desenhadas para os pets. Ou ainda, acharem absurdo cães e gatos que comem comida estilo caseira, vendidas congeladas, e que são servidas quentinhas, depois de aquecidas no micro-ondas.
Para tratar desse mercado em ascensão no Brasil, esteve em Caxias do Sul, na semana passada, a gestora de marketing e mentora estratégica de marcas, Kaká Cerutti. A palestra Marcas com propósito: da essência à ação – Por que a sua marca existe?, foi idealizada para empresários, veterinários e profissionais do mercado pet. Kaká veio à cidade a convite da revista PetSerra.
Só para contextualizar, em 2017 o Brasil ocupava o quarto lugar no ranking do mercado pet do mundo. Com faturamento de R$ 20 bilhões, em 2018, o país pulou para a segunda colocação, deixando Alemanha e Reino Unido para trás. Só o ramo da alimentação respondeu por mais de R$ 15 bilhões. A expectativa é de que 2019 deve fechar com faturamento total de R$ 36,2 bilhões, conforme especula o Instituto Pet Brasil. Esse cenário diz respeito a um país que tem mais de 130 milhões de animais de estimação, de acordo com o IBGE.
A seguir, confira a entrevista concedida por Kaká Cerutti.
O mercado pet é dinâmico e tem se reinventado a todo instante, mas o que determinou a mudança de perspectiva do setor no Brasil?
Há pouco mais de 10 anos, os pets eram vistos como animais de companhia e para cuidar da casa, eles não eram vistos como um membro da família, como é considerado hoje. A partir do momento em que as pessoas mudaram seu comportamento, o mercado percebeu que precisava atender a essa demanda. A cada dia tem mais indivíduos que estão casando mais tarde, e então, pegam um pet. Ou ainda, casais novos que decidem não ter filhos, e preferem ter um pet. E claro, os idosos que têm como companheiro e parte da família, um pet. A partir dessa relação mais “humanizada”, o mercado precisou se reinventar. Por exemplo, nem todas as lojas tinham espaço para banho e tosa, e nem todas atendiam gatos, e era difícil achar empresas do segmento que atendessem aves silvestres. Aos poucos, o mercado percebeu que tem vários nichos e por isso passou a investir mais. É um mercado que não viu crise.
Como assim “não viu crise”?
Claro que há empresas que abrem e fecham, porque não planejaram seu negócio. Mas o mercado, de um modo geral, não viu crise. E nos últimos anos teve crescimentos exponenciais. Meu maior nivelador de como anda a economia desse mercado é a feira Pet South America, realizada em São Paulo. Este ano, a feira estava ainda maior, com mais expositores, inclusive de outros países. Outra situação que vejo é uma maior procura por capacitação, por parte dos veterinários e proprietários de negócios. Sem falar na ascensão dos groomers (cabelereiros pet), alguns deles ganham salários astronômicos para embelezar os animais.
Falando em embelezamento, quais são as novidades dessa área?
Higiene e beleza são a terceira maior área do mercado pet. Hoje, as empresas estão mostrando que, além do banho, é preciso cuidar do pelo e da pele do animal. Uma vez as pessoas davam um banho em casa, de vez em quando. Hoje, normalmente os tutores levam o pet uma vez por semana para dar banho. Há quem ofereça hidratação de vinhoterapia, em que o pet fica lá no ofurô esperando ativar os polifenóis da uva. Ou ainda, fazem hidratação de blueberry (em português chamado de mirtilo). Essas hidratações são feitas para facilitar o desembaraço da pelagem. Olha, hoje tem de tudo, reiki, acupuntura, e até pet shop móvel, que vai até a casa do cliente, que é um nicho que vai ampliar bastante. Primeiro, porque o tutor não tem tempo, e segundo, porque nem sempre o pet é sociável, e pode não gostar de estar em um ambiente com outros animais.
Em se tratando dos nichos, quais poderiam ser ainda melhor explorados?
O mercado de alimentação é o que mais cresce dentro do mundo pet, e detém a maior parcela, em torno de 60%. Esse segmento ampliou muito, desde a alimentação vegetariana, mais balanceada e mais natural. Ou ainda, comida caseira como da avó, mas feita para cachorro. Várias marcas produzem alimentação semicongelada, que na hora de comer é só aquecer e servir, como se fosse para o seu filho. Sem falar nos petiscos, que a cada dia têm novidades. Um dos nichos que tem crescido muito é o dos jogos didáticos, que trabalham o lado cognitivo do animal. Muitas vezes, é colocada ração dentro do brinquedo e, conforme o pet vai fazendo o traçado esperado, ele tem a recompensa. Ah, e tem as camas, que parecem verdadeiros berços para criança. Tem de vários tipos e materiais, das mais simples às mais sofisticadas, que podem custar até R$ 700.
E com relação ao consumidor, a senhora acredita que as pessoas estão mais conscientes e responsáveis em se tratando dos cuidados necessários na criação dos pets?
Eu acredito que precisamos de uma maior conscientização quanto à posse responsável. Nessa época do Natal, tem muitas pessoas que dizem assim: “Vou comprar um filhote e dar pro meu filho.”Gente, o animal não é brinquedo, não serve para ser dado de presente. Por que esse “presente” é uma vida que vai se estender por pelo menos 15 anos. Esse pet vai precisar de alimentação específica, consultas preventivas e não só quando fica doente, tem ainda a atualização das vacinas, além de um tempo de lazer, porque não se pode simplesmente abandoná-lo no apartamento ou deixá-lo cuidando do pátio. Um animal demanda atenção e cuidado. Além disso tudo, as pessoas precisam se conscientizar da castração. Porque é isso que faz aumentar a população de cães, muitos deles ficam abandonados e sofrem maus tratos.
PANORAMA MUNDIAL
O faturamento das vendas no varejo, no mundo, foi de aproximadamente US$ 124,6 bilhões em 2018.
Destaca-se o mercado dos Estados Unidos, com 40% das vendas no varejo no mundo.
O Brasil ficou em segundo lugar do ranking em 2018, com participação de 5,2% do mercado.
Alemanha e Reino Unido vêm logo a seguir, com 4,9% da fatia do mercado, cada um.