Representantes de entidades empresariais de Caxias e região, em parceria com o Governo do Estado, promoveram na tarde de terça-feira (19) painel com o tema Entendendo a cadeia logística da Região da Serra Gaúcha. Em uma série de palestras, especialistas de diferentes áreas abordaram os gargalos e alternativas para o Nordeste do Estado dar vazão à produção econômica.
Na apresentação do evento, o diretor de Relações Institucionais da Marcopolo e integrante do movimento Mobilização por Caxias (MobiCaxias), Ruben Bisi, traçou um panorama sobre a falta de condições logísticas na região.
— Nossos custos de logística ultrapassam 20%, enquanto em países desenvolvidos e outras regiões do país chega a 6% ou 8% — lamentou.
Para dar maior dimensão à dependência rodoviária do transporte de cargas, a situação de quedas de barreiras, especialmente na RS-122 serviu de exemplo concreto para simbolizar a condição de ilha, com obstruções ao acesso, e a precariedade do único modal funcional.
— Não temos nenhuma rodovia duplicada, a necessidade de recuperação, reparação e duplicação é premente. Temos a 122 interditada há duas semanas, a Serra do Pinto (na Rota do Sol) com restrições de uma barreira que caiu, a BR-116 que necessita de licença permanente do Daer para transporte de alguns produtos que se produzem aqui e que demora cerca de 60 dias. Então, não temos saída na 116, não conseguimos usar a Rota do Sol e não conseguimos sair pela 122 — citou.
A insuficiência e ineficiência de alternativas, como hidrovias, ferrovias e mesmo aeroportos, reforçaram o desabafo de Bisi:
— Muitas cargas da nossa região estão sendo embarcadas nos portos de Santa Catarina. E não é questão de bairrismo, de querer um Estado contra o outro. Temos é de potencializar a redução de custos. Santa Catarina fica a 500 quilômetros da nossa região ou 600, 800, dependendo do porto que utilizamos.
Para respaldar a relevância da região para a economia do Estado, Bisi explicou que a Metade Norte (onde está a Serra) representa 62% das exportações gaúchas, com capacidade de gerar R$ 15 bilhões de dólares entre exportações, importações e cabotagens.
— Nosso principal objetivo com o Mobi é pensar vantagens para manter as empresas aqui e atrair novas para cá. Se não tivermos logística adequada, muitas empresas que estão aqui com certeza vão nos abandonar — afirmou Bisi.
Contraponto
Logo após a apresentação de Bisi, o palestrante foi o secretário de Logística e Transportes do RS, Juvir Costella. O titular da pasta reconheceu as deficiências logísticas do Estado e reiterou que, além da condição financeira, a atual situação é resultante de descaso histórico com a infraestrutura. Confira o que ele disse.
Rodovias
"88% das pessoas e cargas são transportadas por rodovias. Não há como o Estado suportar. (O Estado) não se preparou por décadas para o crescimento e desenvolvimento. Foi fazendo a mesmice e deixando o problema acontecer. Chegamos ao pico do problema, não tem mais nada. Estamos no fundo. Atingimos o solo. Não tem mais para onde ir a não ser iniciar a recuperação."
"O secretário ainda revelou dados que embasam a precariedade das estradas gaúchas. Segundo ele, seriam necessários R$ 4,89 bilhões para recuperar a malha rodoviária do Rio Grande do Sul atualmente, o que o torna o Estado o segundo com maior necessidade de investimentos no país, atrás apenas de Minas Gerais."
Logística sucateada e mal planejada
"Nossas estradas não têm capacidade de comportar o fluxo, nossos aeroportos do interior são subaproveitados, nossas ferrovias estão sucateadas. E nossas hidrovias só vão melhorar quando buscarmos parcerias com iniciativa privada, porque se continuar com Estado vai continuar na mesmice ."
Investimentos
"Costella reiterou que o Governo dispõe de recursos limitados para investimentos. Por isso, entre as alternativas trabalhadas pelo Executivo para melhorar a infraestrutura, reforçou que as ações devem se concentrar na busca por concessões e parcerias público-privadas."
"Também citou cooperações com municípios, em que, junto com a prefeitura, o Estado dividiria as atribuições para obras de infraestrutura, dividindo cedência de maquinários e materiais."