É um clichê, mas tudo começa com uma ideia. E hoje, o charme da ideia acabou por ser engolido pelo conceito de inovação, uma das expressões da moda no mundo dos negócios. Mas, no fundo, é uma ideia, que não vem apenas através de pesquisa exclusiva, meticulosa e minuciosa. Por vezes, é pura intuição e ousadia. Nem sempre, os executivos e chefes das corporações param para refletir e reconhecer que tudo teve um começo muito simples. Porque é preciso superar metas de produção, encontrar novos mercados consumidores e gerar receita onde hoje há um sumidouro de despesas. Mas tudo, absolutamente tudo, começa no clic de uma ideia.
– Quando recebi a notícia de que eu seria premiado, primeiro eu desconfiei de que era verdade (risos), mas depois que eu vi que não era mentira, passou um filme da minha vida na cabeça. Com essa história do prêmio eu me dei conta de que tudo veio de uma ideia. Nós não tínhamos maquinário, nem recursos financeiros, mas a ideia – revela, Raul Antônio Carniel, 68 anos, sócio fundador da Fábrica de Máquinas Almeida (MCA), um dos agraciados de hoje com o Mérito Metalúrgico Gigia Bandera, concedido pelo Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs) em solenidade que ocorre às 20h, na Sede Social do Recreio da Juventude, no centro de Caxias do Sul.
Esse filme, com certeza, em preto e branco, teria como trilha sonora as músicas da Jovem Guarda, porque antes de investir na ideia da sua vida, Carniel dividia seu tempo entre o chão de fábrica na empresa Dalla Santa, e a banda Os Jetsons 2001, tudo isso entre 1972 e 1976.
– Eu era o contrabaixista, e tocávamos músicas das bandas The Fevers, The Beatles, Renato e Seus Blue Caps. Mas em 1976, eu resolvi largar a música e fui tocar minhas ideias na indústria. Vendi a aparelhagem que eu tinha e apliquei na empresa – recorda Carniel, cuja ideia resultou em parceria com o sócio Areovaldo Nogueira de Almeida, na produção de máquinas de correntes (sendo os únicos das Américas), máquinas para diversos segmentos, malhas de aço para fabricação de luvas em aço inox, e hoje como o principal responsável pelo faturamento da empresa, a fabricação de peças de precisão e a prestação de serviços de usinagem.
TRAMONTINA É PENTA
“De todos os recursos possíveis que uma empresa pode possuir, a sua base de conhecimento talvez seja a que tenha a maior capacidade de servir como fonte de diferenciação sustentável e, portanto, vantagem competitiva”. A frase é do consultor indiano, radicado nos Estados Unidos, Vijay Govindarajan. E faz todo sentido no contexto da Tramontina reinventando-se há 108 anos. Primeiro, porque é a quinta vez que o Mérito Gigia Bandera é concedido a alguém da empresa. O atual presidente, Clovis Tramontina, é filho de Ivo e, neto de Elisa, que foram agraciados em 1988 e 2011, respectivamente.
– Me recordo também, com muita felicidade, dos prêmios recebidos pelo doutor Mário Bianchi (2000) e pelo Valdir Baú (2013). Por isso que eu vejo esse prêmio como um reconhecimento da cultura de inovação da Tramontina, e não do Clovis – defende Clovis Tramontina, 64, presidente da empresa desde 1993, mas funcionário desde 1978, tendo passado por vários setores antes de assumir o comando.
A Tramontina entrega ao consumidor 18 mil itens, produzidos por mais de 8 mil funcionários, comercializando produtos em 120 países. E pensar que esse legado todo começou com a ideia de fabricar canivetes há mais de um século.
– Eu sempre digo que sou apenas o representante dessa marca, porque esse prêmio é mérito desde o porteiro até o último entregador que leva o produto até o consumidor final. Eu recebo o aplauso em nome de todos. Mas o prêmio também é um alento, porque é muito difícil ser empresário nesse país.
LEMBRANÇAS DA METALÚRGICA EBERLE
O nome do prêmio Gigia Bandera, se refere a Luigia Carolina Zanrosso Eberle. Em 1884, ela chegou ao Brasil, instalando-se com a família em Caxias do Sul. Mas, em 1886, o marido Giuseppe, então agricultor, comprou de Francisco Rossi uma funilaria na Rua Sinimbu. Com o tempo, decidiu dedicar-se somente às atividades agrícolas, cabendo à esposa o aprendizado na pequena indústria. O resto é história de um legado sem fim.
– Eu tive o privilégio de trabalhar cinco anos dentro da Eberle, que foi uma empresa que a Gigia ajudou a fundar. O que ela iniciou serve de movimento para toda a nossa cidade, ainda hoje. Além de mim, familiares e amigos tiveram parte da sua vida diretamente ligada ao que a Gigia e as gerações posteriores da família puderam criar – avalia Francisco Santos, 57, sócio fundador e CEO da Marelli, e há 36 trabalhando na empresa.
Da sociedade de Francisco Santos com os amigos Rudimar Borelli e Daniel Mazzocchi, nasceu a Marelli, hoje com duas plantas fabris, em Caxias do Sul e Canoas, e mais de 500 funcionários. Francisco também é acionista e fundador da Metalli Ações Especiais.
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